quarta-feira, fevereiro 12, 2003

Ratos...os ratos...

Existe uma história em quadrinhos famosa cujo autor eu não consigo me lembrar quem é, na qual os humanos são representados por ratos ou gatos (ou ratos e gatos) e vivem na europa nazista.

Há outras formas de se pensar em ratos. Quando estava na graduação (você sabe que está ficando velho quando começa a usar muito este tipo de expressão...Mein Gott!), eu vivia reclamando que, em economia, a gente não podia fazer experimentos, como aqueles que se fazem com ratos.

É verdade que tem um artigo famoso usando pombos e vendo o efeito-preço tradicional em suas ações. Não me perguntem a citação original, não me lembro agora.

Mas também é verdade que sempre fiquei meio chateado com esta falta de teste empírico, digamos, de laboratório.

Mas, leitor(a), não fique triste! Um dos dois premiados com o Nobel de 2002 foi Vernon Smith. Este cara é um dos pioneiros do que chamamos de Economia Experimental. Em resumo, é possível levar as pessoas para um laboratório computacional e, ahá, você faz diversos experimentos com eles! E, claro, nenhum aluno é ferido ou maltratado durante as experiências....

Se você é estudante de Macroeconomia, obviamente já ouviu falar de expectativas racionais. E, claro, já deve ter ouvido (se não pulou para o mestrado ainda...) que esta hipótese é isto, aquilo, ruim, feia e chata, etc.

Bem, o fato é que mesmo economistas que se prendem a suas idéias contra a realidade podem ter um bom motivo para fazer isso. Um bom exemplo é da química. Lembram da tabela periódica? Pois o cara não deixou ela lá mesmo estando incompleta? Analogamente, você pode acreditar em expectativas racionais, mesmo que o método de testá-la ainda seja ruim. Claro, tem um trade-off aí e eu não estou justificando que você acredite em qualquer coisa que seu professor diga.

Comecei este post falando de ratos, laboratórios e agora falo de expectativas racionais. Por que? Porque a economia experimental é uma forma alternativa de se estudar a validade das expectativas racionais. Você tem a econometria, os modelos de ciclos reais e, hoje em dia, com o advento dos PC's, a economia experimental.

O artigo linkado aqui pode ser confuso para o leitor. Mas o abstract é claro:

Experiments are used to study the acceptance of fiat money as a medium of exchange in a two good circular flow economy. In these markets money has a finite life, yet people are willing to trade valuable goods for the intrinsically worthless shinplaster. Inflation remains low to moderate depending on the relatively long or short life span of the currency. However, when a public sector capable of printing money is introduced, the private sector is crowded out, producing dramatic hyperinflations that lead to a collapse in trading. This is shown to be a consequence of the public sector, with its reliance on the printing press, subverting the two-sided price discovery process and not the result of the increasing money supply. Comparing economies without a public sector that experience exogenous monetary growth to economies with a public sector, the private markets are found to have similar inflation but significantly greater efficiency even though the money supply is expanding at the same rate in both systems. This analysis supports the rational expectations hypothesis that peoples’ behavior patterns will vary with changes in government policies.

Para quem não lê em inglês, traduzo a última frase: "Esta análise é favorável à hipótese de expectativas racionais que diz que os padrões de comportamento das pessoas variará conforme mudanças nas políticas governamentais".

Como eu já disse: economia pode ser bem menos chata do que aparenta...só a variedade de temas, idéias e modelos já dá para alimentar a fome intelectual de muita gente....