quarta-feira, fevereiro 26, 2003

"Tax Freedom", "Property Rights" e meus dois charutos baianos

Oi leitor, beleza? Deixa eu começar dizendo que muito do que eu avancei em Economia hoje, em termos de interesses, tem a ver com as conversas que tive com o Giacomo. Na época, ele fazia o doutorado e eu, o mestrado, ambos na USP. Então, o que eu vou dizer aqui não tem nada de pessoal, ok? Nada de inventar brigas na cabeça. Giacomo é meu amigo ainda (embora, claro, ele seja mais chato do que eu).

Hoje mesmo eu coloquei um link (vide post abaixo) para uma edição da Leader (uma revista digital) no qual Giacomo publica dois pequenos textos de divulgação. Em um deles ele resolveu falar do conceito de "tax freedom day". Basicamente, Giacomo discute o quanto de dias você trabalha pro governo, em um determinado período de tempo.

Eu tendo a concordar com ele que impostos são ruins e que ninguém gosta de carga tributária mais alta. Porém, acho que a análise dele deu muita ênfase a um lado da questão apenas: o da demanda.

Ok, existe uma demanda reprimida por impostos que levam o dinheiro do cidadão para o governo. É claro que eu acho que as pessoas protestam pouco contra impostos neste país, muitas vezes porque - erroneamente - acham que isso é bandeira dos patrões. Mas, por outro lado, devemos pensar no lado da oferta também. É certo que aparentemente é ruim que eu tenha "trabalhado" 122 dias em 2002 para o governo. Mas a análise completa de custo-benefício deveria me dizer o quanto eu ganho em trabalhar 122 dias para o governo. Por que? Bem, por exemplo: não existe almoço grátis. Logo, direitos de propriedade seguros não caem do céu. Quanto eles custam?

Concordo que é ruim pagar impostos, mas a reclamação (se é que vamos reclamar destes 122 dias em 2002) deve levar em conta a oferta de serviços governamentais. Eu sei que parece bobagem, mas se pensarmos assim, os 122 dias podem parecer pouco ou muito mais pesados para os contribuintes. Será que 122 dias de trabalho para o governo, na forma de impostos, com uma segurança de New York é a mesma coisa de 122 dias de trabalho para o governo, com a segurança da capital do Rio de Janeiro?

O leitor deve sempre atentar para isso. Trata-se do custo-benefício.

Um exemplo: hoje eu fui comprar charutos (há meses não fumo um) e o cara do quiosque no Shopping (onde estão as charutarias, por God sake, em BH???) me veio com o argumento de que um dos charutos era melhor (na qualidade) mas que o outro era melhor no custo-benefício. A rigor, ele está errado. O custo-benefício pode até ser reduzido à dimensão do preço, mas, então, que se o compare com o preço do outro charuto, não com a qualidade. A frase correta seria: "este charuto é mais barato que aquele". Ou então: "este charuto é mais barato, mas a qualidade do outro é maior". Ou então: "considerando preço E qualidade, o custo-benefício...".

Eu, como consumidor, fiz o meu cálculo de custo-benefício. Pensei: será que ganho mais comprando um charuto de cada, para experimentar (diversificar)? São dois charutos que nunca fumei (e não conheço a reputação das marcas). Por que não comprar um pacote com um de cada e ver o que penso sobre eles depois de fumá-los? Bem, foi o que eu fiz. Posso me dar mal, mas eu sei que preço não é sinônimo de custo-benefício. Quando muito de "custo". Estou enganado?