Devaneios que fazem a gente pensar
"Contou-me, certa feita, um psicanalista que uma analisada vivia atormentada por um monstro que implacavelmente a perseguia. Por ter o monstro mil disfarces, o medo não tinha como se concentrar num rosto. O psicanalista pediu-lhe, por isso, que deixasse de tentar identificar o semblante do mal e se limitasse, da próxima vez, a despistá-lo vagando a esmo por toda a paisagem que se apresentasse como caminho possível. Deveria fugir indefinidamente para ver até onde a perseguiria. Seguir à risca o conselho. Ao começar a ser seguida, andou por um bom tempo a passos firmes. Um grito ao longe a assustou. Começou a correr em desabalada carreira. Corria, corria e corria. (...) De repente, exausta, sobrou-lhe apenas adentrar por uma ruela escura. Lá, nos últimos trinados da respiração, viu-se contra a tosca parede da rua sem saída. Fim da linha. Encurralada, prestes a desfalecer, olhou nos olhos vazados do monstro e perguntou aterrorizada: "O que você vai fazer comigo?" "Não sei, respondeu-lhe atônito o monstro. Não tenho como saber. O sonho é seu". [Alberto Oliva, A Solidão da Cidadania, Editora Senac, São Paulo, 2000]
Alberto Oliva eu tive o prazer de conhecer num seminário, ou melhor, após um seminário no doutorado de Economia. Trata-se de um filósofo, não um economista. Mas, diferente de muitos filósofos que povoam os pesadelos de muita gente, Oliva é um filósofo de primeira.
O trecho acima ilustra bem a qualidade do livro - é logo no início - e me faz pensar sobre o problema da escolha individual em economia, um monstro, que aliás, está sempre nos meus sonhos...
"Contou-me, certa feita, um psicanalista que uma analisada vivia atormentada por um monstro que implacavelmente a perseguia. Por ter o monstro mil disfarces, o medo não tinha como se concentrar num rosto. O psicanalista pediu-lhe, por isso, que deixasse de tentar identificar o semblante do mal e se limitasse, da próxima vez, a despistá-lo vagando a esmo por toda a paisagem que se apresentasse como caminho possível. Deveria fugir indefinidamente para ver até onde a perseguiria. Seguir à risca o conselho. Ao começar a ser seguida, andou por um bom tempo a passos firmes. Um grito ao longe a assustou. Começou a correr em desabalada carreira. Corria, corria e corria. (...) De repente, exausta, sobrou-lhe apenas adentrar por uma ruela escura. Lá, nos últimos trinados da respiração, viu-se contra a tosca parede da rua sem saída. Fim da linha. Encurralada, prestes a desfalecer, olhou nos olhos vazados do monstro e perguntou aterrorizada: "O que você vai fazer comigo?" "Não sei, respondeu-lhe atônito o monstro. Não tenho como saber. O sonho é seu". [Alberto Oliva, A Solidão da Cidadania, Editora Senac, São Paulo, 2000]
Alberto Oliva eu tive o prazer de conhecer num seminário, ou melhor, após um seminário no doutorado de Economia. Trata-se de um filósofo, não um economista. Mas, diferente de muitos filósofos que povoam os pesadelos de muita gente, Oliva é um filósofo de primeira.
O trecho acima ilustra bem a qualidade do livro - é logo no início - e me faz pensar sobre o problema da escolha individual em economia, um monstro, que aliás, está sempre nos meus sonhos...
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