domingo, março 02, 2003

Maconha, cocaína e tudo o que você achava que os economistas não iriam dizer sobre drogas...

Inicialmente, deixa eu dizer logo: eu não uso drogas. Tá, a vida tá uma droga e o sistema de transporte público de BH é uma droga. O técnico do seu time também é uma droga mas eu falo, aqui, destas drogas que fazem a vida de muito comerciante do mercado negro, vulgo, traficante.

Esta semana, a sensação foi ver Fernandinho Beira-Mar ir para uma cadeia enquanto o Rio de Janeiro se mostrava uma cidade na qual os impostos dos contribuintes não lograram obter um bem público básico: a segurança.

Passando rapidamente pela internet, encontrei na Primeira Leitura a arrojada e corajosa defesa de que se discuta seriamente a liberação das drogas.

À primeira vista, claro, muita gente fica com medo. Afinal, o que, ora bolas, quer dizer "liberar as drogas"? Vamos deixar os traficantes trazer o quanto quiserem da Colômbia para distribuir aqui? Vamos ter propaganda na TV incentivando o uso de drogas? Alguns formadores de opinião são contra as drogas. Por exemplo,Olavo de Carvalho publicou um artigo no qual parece ironizar a proposta o tempo todo (com uma genial sugestão: Pó e baseados entrariam com guia de importação, em embalagens douradas com mensagem social em letras azuis e uma grave advertência do Ministério da Saúde: "Isto endoida." ).

Alguns amigos meus, com tendências liberais (no sentido clássico do termo), quando confrontados com esta questão, costumam se comportar como conservadores. Ou seja, temos um conservador religioso como Olavo de Carvalho e liberais se juntando numa aliança anti-liberação de drogas.

Como é uma questão importante, vale a pena pensar sobre ela em termos econômicos. E há muito tempo Milton Friedman anda defendendo uma proposta de liberalização para os EUA. [É legal imaginar o pessoal que não gosta do Friedman e dos EUA tentar justificar como Friedman estaria defendendo o "imperialismo americano" com a liberação do mercado consumidor de drogas...do seu próprio país...]

Algumas pessoas desavisadas sempre identificam a liberação de drogas com a patota da faculdade de filosofia ou de sociologia, normalmente de aparência bicho-grilo e, portanto, como uma proposta de política irresponsável e/ou de alguns interessados numa suposta decadência moral da sociedade e da família.

Tá bom, pode ser que isso passe pela cabeça de alguns destes consumidores. Agora, isso não impede que se faça uma discussão teórica séria sobre o assunto. Como economista, você pode se perguntar, por exemplo, se a liberação do comércio de drogas não iria diminuir a violência. Não apenas isso, como também pode tentar pensar sobre o fato de que os traficantes perderiam poder com a liberação do tráfico. Será? Qual o custo de se liberar a droga? Qual o trade-off relevante?

Sinceramente? Eu não sei. Mas eu acho que é um bom ponto para se discutir.

Links afins:

Drug Policy Alliance
Prohibition vs Legalization: Do Economists Reach a Conclusion on Drug Policy?
The War on Drugs and The Economics of Incarceration
The Simple Economics of the War on Drugs by Gary S. Becker (The University of Chicago, Hoover Institution), Michael Grossman (Graduate Center, City University of NY), Kevin M. Murphy (The University of Chicago).