terça-feira, março 18, 2003

Quanto a religião realmente importa? (atualizado)

Lembra da eleição para prefeito de São Paulo, na qual Fernando Henrique e Jânio Quadros concorreram? Foi em 1985 e a derrota do primeiro foi atribuída, por muitos, ao fato de ele se declarar ateu. Veja este trecho:

Em 1985, na eleição para a prefeitura de São Paulo, o então candidato Fernando Henrique Cardoso se atrapalhou num debate ao tentar responder se acreditava ou não em Deus. No dia seguinte, foram espalhados pela cidade panfletos contendo uma cruz e a inscrição "Cristão vota em Jânio". Fernando Henrique perdeu para o ex-presidente Jânio Quadros numa eleição apertada, e muitos correligionários atribuíram o fato à resposta dúbia dada no debate.

Mas eu tenho uma curiosidade: quanto de uma eleição para prefeito em uma grande capital - a maior do país - pode ser atribuída à uma declaração como esta?

Deixa eu justificar minha curiosidade neste ponto:

a) É dito por muitos conservadores modernos que o progresso científico e material torna as pessoas atéias. Trocando em miúdos, uma capital como São Paulo deveria dar menos importância para o ateísmo do então candidato do que uma cidadezinha do interior, não? Vamos chamar esta hipótese de hipótese criacionista em homenagem aos caras que não gostam de Darwinismo e realmente acreditam em Adão e Eva.

b) O ateísmo é tão importante assim para uma eleição na maior capital (econômico-financeira) do Brasil? Como se sabe, São Paulo enfrenta outros problemas como desemprego, educação e, claro, segurança pública. Teria Fernando Henrique perdido a eleição pelo fator ateísmo? Ou seria este apenas um tópico marginal na cabeça do eleitor?

Um pouco de matemática política vai bem aqui: normalmente a gente trabalha com um eleitor mediano em teoria política. Mas alguém é mediano em relação a alguma distribuição, certo? Bem, você pode mostrar que o tal eleitor mediano pode dar trabalho para a sua teoria tanto em termos unidimensionais quanto multidimensionais.

Desta forma, quando eu digo que o (e)leitor se preocupa com religião e segurança, estou dizendo que ele se preocupa com duas dimensões. Por indução finita, você infere o resto do meu argumento.

Agora, voltando ao problema. Existe também o lado da oferta de religião. Logo...

c) Existia, já em 1985, uma certa diversidade religiosa em São Paulo (suponho...não tenho os dados aqui). Logo, a firma igreja não era monopolista na oferta de salvação. O fato de ser ateu, provavelmente, ofende todas as igrejas existentes exceto, talvez, aquela composta por ateus (creio que acho estes por diferença do total de crentes..aproximadamente). Teria havido um movimento das igrejas para impedir o voto em FHC? [Lembre-se que em 2002, um dos apelos iniciais da coligação PT-PL era, justamente, aumentar a base de religiosos...um padre, sermões, fiéis...influência...you got the idea, right?]

Dados sobre eleições existem hoje em dia neste país (carente de bases de dados decentes). Também existem pesquisas, censos, nos quais você obtém a distribuição da população por religião.

Agora, pensando não apenas em FHC, mas no resto, alguém já terá estudado isso no Brasil? Digo, alguém terá tentado responder à singela perguntinha: Em quantos pontos percentuais a probabilidade de ser eleito diminui, numa eleição, ceteris paribus, dada uma declaração de opção religiosa? (pensando alto: acho que a resposta será diferente em SP capital e Aparecida do Norte...)

Fica aí minha sugestão. (Se alguém fizer, favor ter a lembrança educada de me agradecer pela inspiração...e à este blog)

Dicas para os iniciantes:

1. A página do prof. Iannacone - A mais famosa autoridade sobre o tema.

2. Sacred Trust: The Medieval Church As an Economic Firm - Um dos melhores livros aplicando a Teoria Econômica (essencialmente, Organização Industrial) ao estudo da atuação econômica da Igreja Medieval

3. Artigos do prof. Robert J. Barro - Estudos econométricos mostram que religião pode influenciar no desenvolvimento econômico? Voltamos ao mundo weberiano? Aguardando novos estudantes....

Bem, é só.