Ciclos Reais: os choques tecnológicos visitam o Pernambuco colonial
Quem já estudou ciclos reais sabe que o principal argumento do qual a teoria se utiliza é o de choques tecnológicos. Estes choques podem ser positivos ou negativos e o que intriga muita gente são estes últimos. Neste post tento mostrar como seria possível um caso como este, num exemplo que parte de uma situação real.
Pois bem, façamos um breve passeio pelo Brasil colonial, especificamente Pernambuco. A capitania de Pernambuco, como se sabe, foi alvo de uma ocupação holandesa por 24 anos. Ao final da mesma, diz Evaldo Cabral de Mello (A Ferida de Narciso - Ensaio de História Regional, Editora SENAC, 2001), esta capitania passou a contar com uma vantagem em relação às vizinhas derivado de um choque tecnológico: a queda dos custos de transporte marítimos.
Como isso ocorreu? Bem, trata-se de uma transferência de tecnologia ocorrida graças aos holandeses. Os mesmos adotaram um tipo de barco - a sumaca - mais adequado ao transporte em águas rasas do que o caravelão português.
Vale destacar que, algum tempo depois, quando das operações da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, este tipo de embarcação já havia sido incorporada às operações da empresa no Brasil.
Eis aí um belo exemplo de choque tecnológico. E é fácil imaginar como poderia haver um choque negativo neste caso. Basta imaginar que os pernambucanos da época tivessem tido violentos problemas culturais com a invasão (não foi o caso porque houve uma tolerância razoável entre ambas as partes com estas diferenças). Em casos como este, verifica-se uma rejeição xenófoba - normalmente temporária - com relação a tudo o que vem de fora (pense nos caras que quebram lojas que vendem os deliciosos McDonald's).
Assim, este seria um choque tecnológico negativo temporário. E o seria por dois motivos: (i) viés xenófobo não dura eternamente numa economia aberta (o que implica contatos com sociedades distintas), descontadas as exceções de praxe; (ii) se um empresário descobre que a sumaca é mais lucrativa do que um caravelão, então, caso o mercado não tenha restrições (que, aliás, é outra espécie de choque negativo: legislações restritivas), não há porque a economia não ganhar com este efeito positivo.
Fechando este post, o leitor que não pense que fui original no exemplo. Custos de navegação decrescentes são um tema importante para quem quer entender a expansão das potências européias na época dos descobrimentos. Douglass North escreveu sobre isto há tempos.
Notinha: Muita gente de ciclos reais não curte ir à realidade (nosso modelo é abstrato e ponto) e muita gente de história torce o nariz para a teoria econômica (ser não for marxismo não serve). Este post pretende mostrar que esta xenofobia mútua é infrutífera. Consegui?
Quem já estudou ciclos reais sabe que o principal argumento do qual a teoria se utiliza é o de choques tecnológicos. Estes choques podem ser positivos ou negativos e o que intriga muita gente são estes últimos. Neste post tento mostrar como seria possível um caso como este, num exemplo que parte de uma situação real.
Pois bem, façamos um breve passeio pelo Brasil colonial, especificamente Pernambuco. A capitania de Pernambuco, como se sabe, foi alvo de uma ocupação holandesa por 24 anos. Ao final da mesma, diz Evaldo Cabral de Mello (A Ferida de Narciso - Ensaio de História Regional, Editora SENAC, 2001), esta capitania passou a contar com uma vantagem em relação às vizinhas derivado de um choque tecnológico: a queda dos custos de transporte marítimos.
Como isso ocorreu? Bem, trata-se de uma transferência de tecnologia ocorrida graças aos holandeses. Os mesmos adotaram um tipo de barco - a sumaca - mais adequado ao transporte em águas rasas do que o caravelão português.
Vale destacar que, algum tempo depois, quando das operações da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, este tipo de embarcação já havia sido incorporada às operações da empresa no Brasil.
Eis aí um belo exemplo de choque tecnológico. E é fácil imaginar como poderia haver um choque negativo neste caso. Basta imaginar que os pernambucanos da época tivessem tido violentos problemas culturais com a invasão (não foi o caso porque houve uma tolerância razoável entre ambas as partes com estas diferenças). Em casos como este, verifica-se uma rejeição xenófoba - normalmente temporária - com relação a tudo o que vem de fora (pense nos caras que quebram lojas que vendem os deliciosos McDonald's).
Assim, este seria um choque tecnológico negativo temporário. E o seria por dois motivos: (i) viés xenófobo não dura eternamente numa economia aberta (o que implica contatos com sociedades distintas), descontadas as exceções de praxe; (ii) se um empresário descobre que a sumaca é mais lucrativa do que um caravelão, então, caso o mercado não tenha restrições (que, aliás, é outra espécie de choque negativo: legislações restritivas), não há porque a economia não ganhar com este efeito positivo.
Fechando este post, o leitor que não pense que fui original no exemplo. Custos de navegação decrescentes são um tema importante para quem quer entender a expansão das potências européias na época dos descobrimentos. Douglass North escreveu sobre isto há tempos.
Notinha: Muita gente de ciclos reais não curte ir à realidade (nosso modelo é abstrato e ponto) e muita gente de história torce o nariz para a teoria econômica (ser não for marxismo não serve). Este post pretende mostrar que esta xenofobia mútua é infrutífera. Consegui?
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