quarta-feira, dezembro 17, 2003

Eu quero vender meu rim!

Imagine que você queira vender algo seu para outra pessoa. Imagine que você queira fazer isto via exportação e que, além disso, você evite o desperdício de sua mercadoria no Brasil. Isso é crime? Bem, se a mercadoria for seu rim, é.

Agora, veja bem. Eu sou visceralmente contra o mercado ilegal de órgãos (aquele que chega a matar pessoas para obter os órgãos). Por outro lado, o Brasil tem um aparato de captação de órgãos humanos para transplantes que não consegue evitar o desperdício dos mesmos.

Entre salvar vidas na África do Sul e mandar órgãos para o lixo em Cubatão, parece-me que ninguém ficaria com a segunda opção.

Obviamente que o problema deste caso parece ser unicamente o das pessoas não conseguirem processar, em suas mentes, que o mercado legal de órgãos ("eu vendo meus próprios órgãos") não difere em nada de outros mercados. Nesta situação, evidentemente, alguns se aproveitam para ganhar dinheiro. Pensando bem, é como o mercado ilegal de drogas ou de armas. Em todos eles, a proibição, por si só, gera um grande incentivo para a prática econômica sob ambiente monopolista (ou quase-monopolista).

Por que não permitir o comércio de órgãos legais? O leitor deve fazer um - difícil, claro - exercício de abstração e perceber que o que temos no Brasil, hoje, é um monopolista, o governo, que obtém nossos órgãos gratuitamente sem nos perguntar se queremos doá-los ou vendê-los. Se eu sou uma pessoa altruísta, escolherei doá-los com ou sem esta pergunta. Então, por que não dar esta opção de escolha para quem quer vender os próprios órgãos?

Ok, você pode dizer que haveria um incentivo para a retirada ilegal de órgãos alheios. Mas isso se aplica a qualquer mercado. A falta de punição também é um incentivo para a tomada de televisões alheias, carros alheios, etc. Se você cuida disto, minimiza o problema. Uma solução, ao meu ver, pior, é você "fechar um Banco 24 horas às 18:00 horas só porque há o risco de ser assaltado". Isto é como regredir, em termos civilizatórios.

Problemas de enforcement da lei sempre existirão e são eles que devem ser atacados para que o mercado (de armas, maçãs ou de órgãos...todos legais) funcione.

Polêmico? Talvez. Mas por que estamos aqui?