quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Apertem os cintos, o Mankiw sumiu!

O leitor-aluno já deve conhecer o livro do Mankiw de introdução à economia. Pois bem, há um exemplo nele, para explicar a lógica do benefício marginal e do custo marginal. É aquela história do avião que já vai sair, a passagem é de R$ 500,00, chega um cara no balcão e oferece R$ 300,00 e, obviamente, é embarcado.

Pois bem, durante uma das minhas aulas hoje, alguns alunos fizeram algumas qualificações que acho interessantes.

Uma aluna do fundo da sala e outro exatamente na minha frente fizeram a mesma observação: "professor, mas se todos sabem que pode haver negociação, ninguém compra passagem antes. No mundo real isso não funciona".

É verdade que eles exageraram. Uma aluna, a Mariana (mais uma Mariana....) chamou a atenção, intuitivamente, para o fenômeno: é muito forçado assumir que, mesmo neste exemplo simples, todo mundo deixe para o final (como se alguém divulgasse a notícia da negociação para todos) a decisão de comprar a passagem.

Mesmo assim, há um ponto importante aqui: a repetição de um jogo pode realmente mudar os resultados ótimos. Quem estuda Teoria dos Jogos (Micro III ou Micro IV, dependendo do curso) sabe disto. Se na segunda etapa, eu divulgo que há a possibilidade de se conseguir preços menores, é óbvio que a tendência é que os que não têm um custo de oportunidade algo façam algo como "pagar para ver". Ok.

Posto isto, ironicamente, a mesma turminha achou que a divulgação da informação não foi importante no famoso experimento de pit market que eu apliquei em sala umas duas aulas antes. A mesma idéia de que todos estariam informados ocorre neste experimento em que há vários compradores e vários vendedores de várias unidades de um mesmo bem e no qual, a cada transação acordada, anuncia-se o preço em sala. [Qual é a idéia? A mesma do fofoqueiro do aeroporto...]

O que ocorre é que eles me disseram que a divulgação dos preços não ajudou muito no experimento. Por outro lado, são eles mesmos que querem que eu acredite que a divulgação de informações auxilie na negociação com a companhia aérea.

Fiquei pensando neste fato aparentemente paradoxal (gostaria de palpites), mas tomo a discussão final na sala, hoje, como o resultado positivo do experimento que fizemos antes. Os meninos (e meninas e torcedores do CAM) que me ouviram e discutiram comigo sobre o que poderia ter atrapalhado o funcionamento de nosso mercado hipotético parecem ter assimilado alguma coisa.

Pouca coisa? Talvez. Mas já é o começo. O que vocês acham disso tudo (falei um bocado de coisas, né?)?