domingo, fevereiro 22, 2004

Estatização do governo: por que não?

Na época da campanha - e também em Porto Alegre, uma vez, com um militante que nem vale a pena citar o nome de tão fanático - gente bem próxima a mim dizia que eu estava maluco por achar que o partido do governo atual iria reverter privatizações.

Havia até um debate do tipo: "Maluf é anti-ético pois corrupto e sem princípios, mas eu voto no Lula porque sei que ele não vai cumprir o que prometeu por anos a fio" [E dizem que eu sou doido...]. Este pessoal até me jogou na cara que "o governo vai bem, obrigado. Já expulsaram os malucos radicais". Ok, foi bom enquanto durou.

Na última semana, contudo, o caso do bicho abalou a estrutura de muita gente. Alguém se lembra das gargalhadas dos amigos quando eu contava do caso da sede do PT de Porto Alegre, comprada, segundo denúncias, com dinheiro ligado ao jogo? Claro que não. Gostamos sempre de nos lembrar de nossos êxitos, não dos erros, certo?

Mas esqueça isto. Faça a retrospectiva 2003-4 e esqueça o problema de corrupção. Neste ano que passou vimos:(i) o governo brigando com as agências regulatórias (na direção de tirar a autonomia das mesmas, uma espécie de estatização branca); (ii) a proposta do governo de estatizar vagas de universidades privadas (dê o nome que quiser, a imprensa divulga como "estatizar" e o MEC não tem feito nenhuma queixa contra o uso do verbo) e, finalmente, (iii) agora o governo quer estatizar bingos.

O que estes três itens mostram? Bem, eles mostram que quem votou achando que não se faria o que se dizia ser bobagem pode estar tão enganado quanto quem acha que "ética" é passível de monopólio por algum partido político.

Nestas propostas todas só falta uma: estatizar o Estado e privatizar o mercado. Seria uma bela reforma. Atualmente, infelizmente, usa-se o Estado para fazer caixa para partidos políticos ou para benefícios privados outros de empresários sedentos de subsídios ou quotas para competidores. Até bicheiros sofrem com o "estado" atual das coisas.

Divertido isto.