Lições de Economia para políticos I (UPDATED)
Na edição de hoje de "O Estado de São Paulo", descobri que um tal Daniel Almeida (PC do B/BA) propõe instituir a "falta remunerada no dia do aniversário.
Como ele justifica isto? Segundo o jornal, citando-o: "As ausências remuneradas têm o condão de aumentar produtividade da empresa, pois aumentam o nível de satisfação do trabalhador".
Pois bem.
Há aí um interessante mau uso de vocabulário bacana de economia para justificar um incentivo incorreto. É óbvio onde ele erra, não? A teoria econômica que ensino (não a que o deputado usa) me diz que existe informação assimétrica entre patrão e empregado. Afinal, qual o produto de, digamos, um funcionário de escritório? Você tem como medir isto? Suponha que sim. Então você mede a produtividade do officeboy de um escritório de contabilidade, Karl Marx, pelo número de pedidos da gerência atendidos por dia.
Digamos que este número seja 100. Isto é muito ou pouco? Não dá para saber. Mesmo que amanhã seja 110, também não sei. Por que? Simplesmente porque Karl Marx pode ser um engraçadinho preguiçoso que, como está longe da sala do chefe, passa o seu tempo escrevendo bobagens em um caderno, desenhando ou, quem sabe, vendo fotos pornográficas na internet. Vale dizer: ele pode fazer "corpo mole" ("shirking", em inglês). Neste caso, o produto observado de seu trabalho é algo que eu, patrão, não consigo avaliar tão bem quanto ele.
Digamos que você ache que não, que eu estou errado. Ainda assim, eu pergunto: não deveríamos dar licença remunerada todos os dias do ano? Afinal, ninguém gosta de trabalhar. A gente só faz isto para ganhar dinheiro para ser feliz. Suponha que você ainda insista mais: Não, Claudio, tem gente que gosta de trabalhar.
Bem, neste caso, basta que passemos um questionário na firma perguntando a cada um se o trabalho é algo que lhe agrada mais do que ficar em casa. Se este for o caso, não há porque lhe dispensar no dia do aniversário. Aí, dividimos os trabalhadores em duas categorias: os que gostam de trabalhar e os que não gostam. Para os últimos a gente dá licença em 2/3 do ano (lembre-se das palavras do representante eleito: "As ausências remuneradas têm o condão de aumentar produtividade") e, para os outros, a gente nem férias dá.
Pronto. Não é fácil propor políticas públicas?
Na edição de hoje de "O Estado de São Paulo", descobri que um tal Daniel Almeida (PC do B/BA) propõe instituir a "falta remunerada no dia do aniversário.
Como ele justifica isto? Segundo o jornal, citando-o: "As ausências remuneradas têm o condão de aumentar produtividade da empresa, pois aumentam o nível de satisfação do trabalhador".
Pois bem.
Há aí um interessante mau uso de vocabulário bacana de economia para justificar um incentivo incorreto. É óbvio onde ele erra, não? A teoria econômica que ensino (não a que o deputado usa) me diz que existe informação assimétrica entre patrão e empregado. Afinal, qual o produto de, digamos, um funcionário de escritório? Você tem como medir isto? Suponha que sim. Então você mede a produtividade do officeboy de um escritório de contabilidade, Karl Marx, pelo número de pedidos da gerência atendidos por dia.
Digamos que este número seja 100. Isto é muito ou pouco? Não dá para saber. Mesmo que amanhã seja 110, também não sei. Por que? Simplesmente porque Karl Marx pode ser um engraçadinho preguiçoso que, como está longe da sala do chefe, passa o seu tempo escrevendo bobagens em um caderno, desenhando ou, quem sabe, vendo fotos pornográficas na internet. Vale dizer: ele pode fazer "corpo mole" ("shirking", em inglês). Neste caso, o produto observado de seu trabalho é algo que eu, patrão, não consigo avaliar tão bem quanto ele.
Digamos que você ache que não, que eu estou errado. Ainda assim, eu pergunto: não deveríamos dar licença remunerada todos os dias do ano? Afinal, ninguém gosta de trabalhar. A gente só faz isto para ganhar dinheiro para ser feliz. Suponha que você ainda insista mais: Não, Claudio, tem gente que gosta de trabalhar.
Bem, neste caso, basta que passemos um questionário na firma perguntando a cada um se o trabalho é algo que lhe agrada mais do que ficar em casa. Se este for o caso, não há porque lhe dispensar no dia do aniversário. Aí, dividimos os trabalhadores em duas categorias: os que gostam de trabalhar e os que não gostam. Para os últimos a gente dá licença em 2/3 do ano (lembre-se das palavras do representante eleito: "As ausências remuneradas têm o condão de aumentar produtividade") e, para os outros, a gente nem férias dá.
Pronto. Não é fácil propor políticas públicas?
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