terça-feira, abril 13, 2004

Mais armas, menos crime?

Há uma polêmica nos EUA - que eu acho muito interessante - sobre isto. Bem, colocando a casa em ordem: existem três tipos de sujeitos armados no Brasil (ou nos EUA). Primeiro, há os policiais/exército. Segundo, há os criminosos. Terceiro, há os civis não-criminosos.

Neste sentido, o estudo abaixo não me diz nada. Não sei o que quer dizer um aumento de 130% de mortes por homicídio. Aliás, a manchete esconde um número que está no final da matéria. Na verdade, entre 1991 e 2000 (e não entre 1980 e 2000), o número de homicícidios por armas de fogo, aumentaou em 95%.

Ora, aqui está a manchete: O Globo On Line: "IBGE: mortes por homicídio aumentaram 130% em 20 anos.

Mas, veja bem. A discussão começa comparando mortes acidentais por problemas de trânsito com mortes por homicídio. Isto é correto, na medida em que argumentos do tipo: "ah, acidentes com revólveres acontecem" são tão absurdos que se poderia proibir facas, pedras ou mesas. Neste ponto, a matéria começa corretamente.

Entretanto, eu me pergunto se o traficante do morro ou o sujeito que tem um porte de arma porque é soldado tem o mesmo potencial de cometer um homicídio do que o fazendeiro que, volta e meia, é invadido por assaltantes ou por membros de organizações ilegais (há vantagens em ser ilegal? Há, mas isto é outro assunto).

O que falta na matéria do "O Globo" é o seguinte: qual a variação, no mesmo período, nos portes concedidos para o uso de armas legais? Além disto, falta também saber qual a relação entre o porte e a produção de armas. Dá-se menos portes do que se produz armas? Qual a estimativa do comércio ilegal de armas? Quantas das mortes citadas foram causadas pelo pai de família que tem um revólver na gaveta da escrivaninha? Quantos foram causados por policiais? Há diferença entre estes dois casos? Eu acho que sim, mas ninguém me dá este número.


Além disto, se alguém acha que tem de computar acidentes no manuseio de armas, tem de fazer o mesmo para automóveis. Ou seja, tem de pegar alguém que não está ciente das regras de trânsito e comparar com acidentes com armas de fogo. Quando dizemos "acidente", queremos dizer - até onde sei - problemas ocorridos entre sujeitos que possuem carteira de habilitação. O mesmo vale para acidentes outros.

A propósito, quais são as categorias de "mortes" que o IBGE usa? Eu não sei, mas seria interessante pensar nisto. Será que nossa indústria bélica tem dados? Cadê a moçada da Taurus?

Se não posso julgar a legalidade do porte de armas por falta de informações, porque um deputado com menos atenção do que eu para detalhes estatísticos pode fazer isto? Bem-vindo à democracia. Como é? "Outro mundo é possível?" É sim. Um no qual um burocrata proíbe meu porte de arma sem me informar e sem gastar com deputados. Bem-vindo à ditadura.

Quem é que disse que era moleza? Éééé'...