quarta-feira, maio 26, 2004

Apertem os cintos: o SNI voltou! ou "Desconstruindo Duda"

O que será que os ativistas de direitos humanos vão dizer agora?

As mudanças na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) feitas na semana passada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva são maiores do que a simples saída da diretora-geral, Marisa Del'Isola e Diniz. A decisão de Lula de nomear o delegado da Polícia Civil de São Paulo, Mauro Marcelo Lima e Silva, também virá acompanhada do esvaziamento de poderes junto à agência do chefe do gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Jorge Armando Félix.

Lula decidiu colocar gente da sua confiança e por meio de um portaria, ou decreto, tornará a Abin um órgão subordinado ao gabinete do general, porém com poderes para se reportar diretamente a ele. Retorna com isso uma velha atribuição da Abin, quando ainda funcionava como o extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) no governo José Sarney.


Humm....primeiro o presidente quase expulsa o jornalista (repeteco do Médici). Depois faz acordo nuclear com a China (repeteco do acordo Brasil-Alemanha). Agora tenta recriar vínculos institucionais da época do SNI (ops, desculpe-me leitor perseguido na era da revolução militar).

Moral:

(i) o Brasil não muda em um dia (mas eles diziam que os presidentes não-petistas eram lentos e faziam o inverso do que deveriam fazer (segundo algum critério nunca revelado...provavelmente a própria opinião).

(ii) o partido do presidente foi eleito como alternativo "a tudo que está aí" mas está caminhando mais sem rumo do que o que se diz de Bush quanto ao Iraque. Bush parece saber mais sobre o que fazer no Iraque (ops, sarin foi achado, confirmado, mas a imprensa não noticiou...) do que o presidente do Brasil parece saber sobre o que fazer no próprio país.

Aliás, como disse ironicamente alguém, o primeiro emprego funcionou para o pessoal da Ágora (ONG acusada de corrupção) e o Fome Zero (ao qual, numa discussão, fui obrigado a trocar uns vinte e-mails para, no final, não chegar a lugar algum sobre a relevância do tema) não é o programa com mais destaque (exceto de marketing) no orçamento.

Mais moral ou "a luta contra a realidade"

(a) "Eu sou contra o "rouba mas faz"" - então votou no partido errado.

(b) "O meu partido é ético" - então votou no partido errado.

(c) "Não usamos de truculência" - então votou no partido errado.

(d) "Não empregamos amigos em cargos de confiança" - então votou no partido errado.

(e) "Meu partido tem ação homogênea, tem uma cara, ao contrário dos outros" - então votou no partido errado (aliás, a única que ainda tem discurso consistente é a dona Heloísa).

(f) "Eu não gosto que me joguem na cara meus erros do passado". - Problema seu. Na campanha, você convenceu os outros usando exatamente esta estratégia.

Pontos polêmicos: (a) "Estamos caminhando para o socialismo" - Não é tão claro. Discursos deste tipo continuam. Está-se aumentando o tamanho do governo, mas isto não é, ainda, sinal de que se está caminhando para o socialismo. (b) "O partido da situação é como os outros" - Aparentemente sim. Não há mais ética nele do que nos outros. Não há menos contradição nele do que nos outros. Esta polêmica não está claramente resolvida.

Talvez seja daquelas cruéis que alguns acham que se resolvem como se resolveu na Alemanha de 1933, com o recém-eleito chanceler de então: "ele é um cara do povo, pobre, foi sempre menosprezado por ser apenas um cabo do exército e pintor medíocre. Mas o partido dele é unido, quer resolver os problemas do país. Vamos dar a ele um voto de confiança". E deu no que deu. Nem sempre a solução "100 dias de governo é pouco para se avaliar" funciona. E não é a melhor delas. A melhor é ser cético com relação à política. Mesmo quando somos tentados a tomar partido.

Mas esta é apenas a minha opinião pessoal.