quarta-feira, maio 05, 2004

Eu, eu..e mais eu (II)

Publicado no jornal "O Tempo" de Belo Horizonte, hoje, sob outro título (editores de jornal realmente gostam disto...). Aqui vai a cópia que eu tenho no meu HD. Se o editor cortou/mudou algo, bem, aqui está o artigo original com meus erros, omissões e tudo o mais.

Quantos empresários desaparecem por ano no Brasil? [O Tempo, 05.05.2004]


O brasileiro médio se preocupa muito – e com razão – com o desaparecimento de empregos. Por que empregos desaparecem, se é que desaparecem? Um dos motivos é o desaparecimento de empresários. Sem empresário não há empresa e, sem empresa, não há empregado. Quantos empresários deixam de existir, anualmente, no Brasil? Esta não é uma pergunta fácil de ser respondida, mas há várias pistas.

Primeiro, sucessivos políticos eleitos sob a promessa de uma reforma do Estado não cumprem suas promessas. Quando muito, a discussão parece monótona: o governo não quer discutir se gasta mal ou bem, mas pode, para adoçar o eleitor, discutir uma certa mini-reforma tributária. Assim, sem a perspectiva de redução da carga tributária, fica realmente difícil imaginar que empresários otimistas saiam por aí, buscando produzir bens e serviços.

Segundo, o empresário é chamado a ajudar o governo nas horas difíceis (quem leu “Mauá – Empresário do Império”, de Jorge Caldeira, sabe do que se trata), mas é o primeiro culpado de qualquer crise. Sucessivos presidentes culpam a “ganância de empresários” por mazelas as mais diversas, desde a dívida pública até a seca no Nordeste. Vale dizer, se um empreendimento conjunto público-privado lograr sucesso, é porque o governo “guiou” os empresários corretamente. Se der errado, a culpa é da incompetência do empresário. Dois pesos, duas medidas. Sujeito a esta peculiar “ética” por um longo período de tempo, o empresário aprende que, incorretamente, quem produz algo é o Estado, não ele. Aquele que não quiser entrar neste jogo, não deve ser empresário.

Terceiro, no ensino médio e nas faculdades de negócios do Brasil, alguns dos (potenciais) empresários de sucesso aprendem a lógica dos mercados enquanto abrem os jornais e encontram burocratas justificando seu emprego sob o argumento de que mercados não funcionam. Ou os consumidores são desinformados ou os empresários não sabem onde devem ofertar seus produtos (como exemplo, pense o leitor no caso das recentes afirmações do MEC sobre o ensino universitário). Finalmente, há mesmo a crença, por parte de alguns professores universitários, de que os empresários são parte da “classe dominante” e, portanto, devem ser desestimulados desde cedo. Aqui, no período de formação educacional, ocorre a parte mais cruel do genocídio de futuros empresários.

Certamente há mais causas para a destruição de empregos. Um empresário que busque o lucro pode mudar de setor, gerando algum desemprego. Como os novos desempregados enfrentam uma burocracia imensa para abrir empresas, podem continuar achando melhor ficarem desempregados. Eles poderiam insistir, mas não sem se lembrarem de que são os culpados das mazelas do mundo, além de naturalmente estúpidos, necessitando da ajuda dos esclarecidos burocratas governamentais que, após aprovação em concurso público, ganharam uma súbita iluminação mística sobre as perguntas básicas que um empresário deveria responder: o que, como, onde e quando produzir.

Destruir empresários é uma forma cruel de destruir empregos. Afinal, para cada empresário existe, ao menos, um empregado.