A quem interessa a expulsão de Rohter?
A liberdade de imprensa é vital para o bom funcionamento da democracia. A democracia, embora não seja o único regime que gere prosperidade econômica, é o que melhor correlação tem com a mesma.
Adicionalmente, os críticos da democracia (burguesa) costumam se irritar quando se lhes colocam uma mordaça na boca.
Pois bem. Dito isto, o episódio de Rohter faz parte do que este blog pretende tratar: economia. Melhor ainda, economia política, no sentido moderno do termo, que não enxerga na matemática um "instrumento de dominação capitalista-burguês".
Neste sentido, esta matéria é esclarecedora. Afinal, por que tanto barulho por causa de uma caninha? Não é desproporcional a reação do partido governista a uma matéria - até ruinzinha - de um jornalista? Na era militar, não se prendeu qualquer integrante da redação do "Pasquim". Claro, os tempos eram duros e Paulo Francis preferiu não arriscar, exilando-se em New York (moçada, é New York. A não ser que você queira ler no The New York Times uma matéria sobre Gay Harbor, ao invés de Porto Alegre ou Beautiful Horizon, Saint Paul, etc).
A economia política do autoritarismo nos ensina (ver, por exemplo, os trabalhos de Ronald Wintrobe) que ditadores podem, sim, agir racionalmente. Custos e benefícios contam em suas ações.
Há algumas perguntas sobre a imprensa brasileira cujas respostas são difíceis de se obter. Mas pistas existem.
(i) Por que tanta candura com o(s) presidente(s)? - Há um viés socialista (nos EUA seria "liberal", porque lá "liberal" é sinônimo de social-democrata ou de socialista, conforme a interpretação) na imprensa até o ponto em que se pisa em seu calo. Neste sentido, a ajuda do BNDES à Globopar (apontada pelo Gilson) mostra bem como o governo pode favorecer alguns amigos em troca....de sua, digamos, concordância tácita em alguns aspectos.
Claro que você nunca verá um absoluto alinhamento entre ambos. E isto não se deve tanto a alguns jornalistas corajosos, embora eles possam existir. Deve-se ao fato de que jornalistas e presidentes querem atender ao máximo de consumidores possível. Ou seja, buscam diversificar suas matérias de forma a não espantar seus (e)leitores.
Além disso, lembre-se que uma coisa é auto-censura da imprensa, algo bastante aceitável, outra é censura governamental, que é opressão. Uma imprensa verdadeiramente livre apresentará seus interesses aos consumidores de forma simples: aqueles que são a favor do governo censurarão os maus atos do mesmo mas, seus concorrentes cuidarão de contrabalançar estes efeitos. Por isso a imprensa norte-americana, com todos os seus problemas, é uma das melhores do mundo. Se você quer ser contra Bush, veja a CNN. Se quer ser a favor, veja a Fox. Simples assim.
(ii) Por que tanto barulho contra a expulsão? - Jornalistas são corporativistas. Segundo um assessor de imprensa que conheço, trata-se de uma das classes mais corporativistas que existe no Brasil.
Quem não é do ramo não conhece os boatos sobre o porquê de professores de Economia da PUC-RJ terem parado de colaborar com a Folha de São Paulo (não sei se isto continua, mas até 1998 ou 1999 isto acontecia). Rezam os boatos que isto se deveu a uma entrevista com o prof. Edward Amadeo (se não me falha a memória) na qual suas palavras foram todas distorcidas. Após inúteis protestos, os seus colegas (e ele) teriam resolvido não entregar seus artigos a jornalistas pouco escrupulosos. Assim, jornalistas contra a expulsão não é sinônimo de democracia da classe.
Não confunda, leitor. Isto pode existir, mas há sempre o problema de dois pesos e duas medidas. Por que alguns muçulmanos se revoltam com prisões no Iraque e aplaudem decapitação de americanos? Porque não são, verdadeiramente, democratas. Gilson poderia, como sempre, dizer: "eles têm seus motivos". Podem ter. Mas isto não muda o fato de terem dois pesos e duas medidas.
(iii) Por que tanto barulho a favor da expulsão? - Bem, há vários motivos. Embora tenham sempre feito o discurso dos "oprimidos", a patota do governo sempre foi dura na "limpeza étnica" da imprensa no RS. Tanto Rohter como o gaúcho Diego Casagrande (e também o Barrionuevo, antigo (?) colunista do Zero Hora) cansaram de denunciar perseguições no RS. Aliás, lembro-me que o Sindicato de Jornalistas daquele estado nunca os apoiou, o que nos remete aos dois pontos anteriores.
Mas há mais por trás disto. Aparentemente, Rohter irritou os donos do poder. Ele nunca deixou de citar o caso de Celso Daniel, cujo assassinato o partido situacionista continua incomodado quando chamado à discussão. Jornalistas, ativistas de Direitos Humanos, MST ou CNBB e tradicionais organizações que a gente sempre vê presente em matérias sobre conflitos no campo ficam ensurdecedoramente silenciosas quando se toca neste assunto. Dois pesos, duas medidas? Pode ser. Mas o fato é que Rohter criticava o governo.
Rohter também criticou o descalabro do programa aeroespacial brasileiro. Mostrou problemas que chegavam a ser estúpidos (leia a matéria do Primeira Leitura) no mesmo.
Concluindo, Rohter não fez um gesto feio para as câmeras da Polícia Federal. Rohter mostrou a feiúra do governo para a imprensa mundial. Também fez uma entrevista com Brizola que falou sobre algum graud de alcoolismo maior ou menor do presidente. E por isto, claro, ele poderia ser processado (embora eu ache um exagero). Mas o governo "participativo", "democrático", "progressista" ou "popular" (como normalmente o denominam os seus seguidores) oPTou (não resisto à ironia..he he he) por expulsá-lo.
O retrocesso democrático é visível. É também perigoso e nunca é demais lembrar a imprensa livre só funciona se for realmente livre. Vale dizer: (i) deve depender pouco ou quase nada dos cofres do governo (= meus impostos) e (ii) deve existir garantia de absoluta liberdade de opinião.
Se não for assim, claro, você ainda poderia dizer que o governo é "ético" (esquecendo Waldomiro, Benedita e o perigoso caso de Celso Daniel). O problema é que a ética adotada é incompatível com os valores democráticos. O que nos leva ao início deste post. Instituições democráticas têm uma correlação razoável com crescimento econômico. Liberdade econômica, por sua vez, tem uma forte correlação com o mesmo e, finalmente, liberdades políticas andam junto com a liberdade econômica.
O mecanismo teórico, claro, é e sempre será alvo de estudos científicos. Mas, o fato de sempre se poder estudar um fenômeno social não significa que se pode abrir mão da liberdade individual para se "verificar um experimento".
A prova de fogo, no meio acadêmico (outro que possui viés?) é o seguinte: se eu quiser estudar este viés da imprensa, apresentar uma hipótese formal, um projeto cientificamente consistente (mais do que os de muitos que estudaram os anos de chumbo de maneira bem pouco científica), os órgãos públicos vão me financiar? Ou vão querer me expulsar do país?
A liberdade de imprensa é vital para o bom funcionamento da democracia. A democracia, embora não seja o único regime que gere prosperidade econômica, é o que melhor correlação tem com a mesma.
Adicionalmente, os críticos da democracia (burguesa) costumam se irritar quando se lhes colocam uma mordaça na boca.
Pois bem. Dito isto, o episódio de Rohter faz parte do que este blog pretende tratar: economia. Melhor ainda, economia política, no sentido moderno do termo, que não enxerga na matemática um "instrumento de dominação capitalista-burguês".
Neste sentido, esta matéria é esclarecedora. Afinal, por que tanto barulho por causa de uma caninha? Não é desproporcional a reação do partido governista a uma matéria - até ruinzinha - de um jornalista? Na era militar, não se prendeu qualquer integrante da redação do "Pasquim". Claro, os tempos eram duros e Paulo Francis preferiu não arriscar, exilando-se em New York (moçada, é New York. A não ser que você queira ler no The New York Times uma matéria sobre Gay Harbor, ao invés de Porto Alegre ou Beautiful Horizon, Saint Paul, etc).
A economia política do autoritarismo nos ensina (ver, por exemplo, os trabalhos de Ronald Wintrobe) que ditadores podem, sim, agir racionalmente. Custos e benefícios contam em suas ações.
Há algumas perguntas sobre a imprensa brasileira cujas respostas são difíceis de se obter. Mas pistas existem.
(i) Por que tanta candura com o(s) presidente(s)? - Há um viés socialista (nos EUA seria "liberal", porque lá "liberal" é sinônimo de social-democrata ou de socialista, conforme a interpretação) na imprensa até o ponto em que se pisa em seu calo. Neste sentido, a ajuda do BNDES à Globopar (apontada pelo Gilson) mostra bem como o governo pode favorecer alguns amigos em troca....de sua, digamos, concordância tácita em alguns aspectos.
Claro que você nunca verá um absoluto alinhamento entre ambos. E isto não se deve tanto a alguns jornalistas corajosos, embora eles possam existir. Deve-se ao fato de que jornalistas e presidentes querem atender ao máximo de consumidores possível. Ou seja, buscam diversificar suas matérias de forma a não espantar seus (e)leitores.
Além disso, lembre-se que uma coisa é auto-censura da imprensa, algo bastante aceitável, outra é censura governamental, que é opressão. Uma imprensa verdadeiramente livre apresentará seus interesses aos consumidores de forma simples: aqueles que são a favor do governo censurarão os maus atos do mesmo mas, seus concorrentes cuidarão de contrabalançar estes efeitos. Por isso a imprensa norte-americana, com todos os seus problemas, é uma das melhores do mundo. Se você quer ser contra Bush, veja a CNN. Se quer ser a favor, veja a Fox. Simples assim.
(ii) Por que tanto barulho contra a expulsão? - Jornalistas são corporativistas. Segundo um assessor de imprensa que conheço, trata-se de uma das classes mais corporativistas que existe no Brasil.
Quem não é do ramo não conhece os boatos sobre o porquê de professores de Economia da PUC-RJ terem parado de colaborar com a Folha de São Paulo (não sei se isto continua, mas até 1998 ou 1999 isto acontecia). Rezam os boatos que isto se deveu a uma entrevista com o prof. Edward Amadeo (se não me falha a memória) na qual suas palavras foram todas distorcidas. Após inúteis protestos, os seus colegas (e ele) teriam resolvido não entregar seus artigos a jornalistas pouco escrupulosos. Assim, jornalistas contra a expulsão não é sinônimo de democracia da classe.
Não confunda, leitor. Isto pode existir, mas há sempre o problema de dois pesos e duas medidas. Por que alguns muçulmanos se revoltam com prisões no Iraque e aplaudem decapitação de americanos? Porque não são, verdadeiramente, democratas. Gilson poderia, como sempre, dizer: "eles têm seus motivos". Podem ter. Mas isto não muda o fato de terem dois pesos e duas medidas.
(iii) Por que tanto barulho a favor da expulsão? - Bem, há vários motivos. Embora tenham sempre feito o discurso dos "oprimidos", a patota do governo sempre foi dura na "limpeza étnica" da imprensa no RS. Tanto Rohter como o gaúcho Diego Casagrande (e também o Barrionuevo, antigo (?) colunista do Zero Hora) cansaram de denunciar perseguições no RS. Aliás, lembro-me que o Sindicato de Jornalistas daquele estado nunca os apoiou, o que nos remete aos dois pontos anteriores.
Mas há mais por trás disto. Aparentemente, Rohter irritou os donos do poder. Ele nunca deixou de citar o caso de Celso Daniel, cujo assassinato o partido situacionista continua incomodado quando chamado à discussão. Jornalistas, ativistas de Direitos Humanos, MST ou CNBB e tradicionais organizações que a gente sempre vê presente em matérias sobre conflitos no campo ficam ensurdecedoramente silenciosas quando se toca neste assunto. Dois pesos, duas medidas? Pode ser. Mas o fato é que Rohter criticava o governo.
Rohter também criticou o descalabro do programa aeroespacial brasileiro. Mostrou problemas que chegavam a ser estúpidos (leia a matéria do Primeira Leitura) no mesmo.
Concluindo, Rohter não fez um gesto feio para as câmeras da Polícia Federal. Rohter mostrou a feiúra do governo para a imprensa mundial. Também fez uma entrevista com Brizola que falou sobre algum graud de alcoolismo maior ou menor do presidente. E por isto, claro, ele poderia ser processado (embora eu ache um exagero). Mas o governo "participativo", "democrático", "progressista" ou "popular" (como normalmente o denominam os seus seguidores) oPTou (não resisto à ironia..he he he) por expulsá-lo.
O retrocesso democrático é visível. É também perigoso e nunca é demais lembrar a imprensa livre só funciona se for realmente livre. Vale dizer: (i) deve depender pouco ou quase nada dos cofres do governo (= meus impostos) e (ii) deve existir garantia de absoluta liberdade de opinião.
Se não for assim, claro, você ainda poderia dizer que o governo é "ético" (esquecendo Waldomiro, Benedita e o perigoso caso de Celso Daniel). O problema é que a ética adotada é incompatível com os valores democráticos. O que nos leva ao início deste post. Instituições democráticas têm uma correlação razoável com crescimento econômico. Liberdade econômica, por sua vez, tem uma forte correlação com o mesmo e, finalmente, liberdades políticas andam junto com a liberdade econômica.
O mecanismo teórico, claro, é e sempre será alvo de estudos científicos. Mas, o fato de sempre se poder estudar um fenômeno social não significa que se pode abrir mão da liberdade individual para se "verificar um experimento".
A prova de fogo, no meio acadêmico (outro que possui viés?) é o seguinte: se eu quiser estudar este viés da imprensa, apresentar uma hipótese formal, um projeto cientificamente consistente (mais do que os de muitos que estudaram os anos de chumbo de maneira bem pouco científica), os órgãos públicos vão me financiar? Ou vão querer me expulsar do país?
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