quinta-feira, junho 17, 2004

Acredite...se quiser

Este é um dos vários artigos que circularam nos jornais comentando sobre o mais bizarro discurso que já ouvi (se for verdadeiro).

Lembra daquele artigo do Luis Fernando Verissimo, cheio de erros elementares de economia?

Pois é: parafraseando o presidente, "não é preciso entender de literatura para ser cronista, nem de economia para ser presidente". De fato, não precisa. O problema é o custo, para a sociedade, de políticas baseadas em postulados bizarros.

Trechos:

Como é que é? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Brasil deixa de comprar mais barato de alguns países para comprar mais caro de outros? E nem emprestou a tal decisão um caráter estratégico. Sempre compramos petróleo ruim da Argentina e vendemos máquinas àquele país. É uma troca. Na fala de Lula, no entanto, estaríamos mesmo fazendo uma espécie de caridade. A ser verdade, espero que o Ministério Público processe Lula por administração temerária e contrária aos interesses nacionais. O presidente foi eleito pelos pobres brasileiros, não pelos pobres uruguaios ou paraguaios. Um governante não tem o direito de dispor dos recursos públicos de forma perdulária, ainda que o faça por vocação humanista, punindo aqueles que o elegeram.

...

Eis aí: adoraria ver o ministro Celso Amorim, do Itamaraty, em face da malandragem chinesa, vir a público para explicar que estamos criando com Pequim o eixo de uma nova ordem mundial. Mais ainda: as facilidades que estamos oferecendo à China, convidando seus técnicos a virem se comportar como bedéis da nossa soja, devem, creio, ser oferecidas agora aos demais países com os quais mantemos relações comerciais. O suposto “ativo” da viagem de Lula ao totalitarismo chinês não pode se perder, ainda que tenhamos de passar por humilhações maiores e menores. Eis aí a nova ordem anunciada por nosso orador das auroras rutilantes. A reunião da Unctad estende-se até sexta-feira. Até lá, dá tempo de propor mais uma dúzia de revoluções mundiais.

O patético é que, na China, o nosso Vieira pré-estalo ensaiou a retórica da solidariedade dos emergentes contra o imperialismo americano. Oferecíamo-nos como soldados na causa do Exército do Povo. O chato é que nem os chineses dão a menor bola ao Brasil, a seu governo e a seu governante. Querem é dar um beiço no país, livrar-se da montanha de soja que compraram com o preço nas alturas ou ficar com ela a um custo muito menor. A tese estusiasmadamente defendida das “economias complementares”, não competitivas entre si, esqueceu-se de que há também a relação entre comprador e vendedor.