quinta-feira, junho 10, 2004

Monografias: um pequeno relato

Nesta tumultuada semana, no IBMEC-MG, ocorreu a primeira defesa de monografia de alunos de economia na história de nossa instituição. O Victor, recém-aprovado no CADE para um trabalho provisório, na CVM (ele também passou no Banco Central, mas não havia terminado o curso ainda e, infelizmente, perdeu a vaga...) defendeu sua monografia.

Como estava com pressa, não entregou o material completo (faltou a capa, o índice e a bibliografia...sei que é chatice, mas faz parte do ritual entregar tudo). Mas o trabalho dele merece algumas reflexões.

Primeiro, eu sempre disse para todo mundo que o bom orientando é aquele que te incomoda pouco e trabalha muito sozinho. É verdade. Agora, comigo, o Victor exagerou. Ele trabalhou muito sozinho. Para mim, claro, foi ótimo. Mas isto apenas transfere a maior (senão toda) parte do mérito de seu trabalho para si mesmo.

Além disso, quando ele mudou de tema, eu o avisei: "Victor, troca de orientador, eu não sou bom nisto". Ele não quis (o que mostra o grau de masoquismo de bons alunos, creio). Insistiu e pagou o preço. Começamos com a construção de uma versão dinâmica de um modelo macroeconômico IS-LM look-alike e depois ele resolveu, unilateralmente, mudar de tema (não sem meus diversos avisos e alertas).

Foi a primeira banca, na minha vida, na qual eu não vi outra nota sugerida que não 100 (cem) pontos. Eu mesmo fiquei constrangido por não ter sido, desta vez, um bom orientador. Talvez eu deva rever meu conceito de "bom orientador", he, he, he.

Agora, o legal mesmo foi, no elevador, encontrar duas professoras (vamos usar nomes fictícios: Suzete e Erica). A "Erica":

- Victor, parabéns.
- Obrigado, Erica.
- Fiquei sabendo que defendeu a monografia. Passou com total, né? Muito legal!
- Pois é.
- Como é que eu faço para ter um pouco de sua inteligência, Victor?
- Erica,tem de estudar, tem de estudar.

Gargalhadas no elevador.

E a Erica saiu rindo. Ela, eu, enfim, todos que estavam no elevador.

E Victor foi ao ponto: provou que o trabalho é a salvação do homem (e sua falta, claro, é a danação do mesmo).

Sobre o que foi a monografia? Em resumo: mensurações de produto potencial no Brasil usando diversas metodologias alternativas, todas elas estudadas pelo Victor indo além do que viu no curso. Até mesmo deficiências econométricas do curso ele corrigiu (em parte) com esta monografia. Só não estudou mais porque, como ele mesmo disse, faltam livros de séries de tempo na biblioteca. Particularmente, acho que um livro simples como o de Walter Enders seria mais do que suficiente para suprir as necessidades de alunos que gostam de séries de tempo.

No passado, junto com o Daniel (hoje lecionando em Estocolmo), fiz uma apostila de séries de tempo. Iria virar livro, mas nunca tivemos tempo de reescrever o material. Alguns a usam até hoje em seus cursos (e era best-seller no mestrado do PPGE-UFRGS quando batia a preguiça nos alunos para ler bons livros). Às vezes recebo mensagens pedindo a cópia mas, educamente, lembro que o mercado editorial, em Econometria, superou minhas expectativas. Hoje, basta entrar numa loja virtual e você acha todo mundo lá: Maddala, Gujarati, Judge e cia, etc. Nossa apostila ficou velha e não serve mais como alternativa. Mas cumpriu sua função. Talvez um dia eu a refaça, com novos colegas.

De qualquer forma, puxa vida, estou falando de um orientando que tirou total. Quantas vezes isto vai me acontecer de novo? Resposta: nunca.