segunda-feira, junho 14, 2004

No caminho da escravidão

Quando Hayek publicou "O Caminho da Servidão", não fez muito sucesso. Alguns anos depois, o livro foi reconhecido mas, ainda, hoje em dia, alguns economistas não dão a devida atenção à colaboração hayekiana ao pensamento filosófico e econômico.

Mas tem horas que eu penso que Hayek se transformou num Jonathan Swift, com sua "A Modest Proposal", aquela peça crítica da ciência (Swift era daqueles católicos radicais), irônica, que foi interpretada por muita gente sem coração como uma proposta séria (em resumo, dizia Swift, a solução para a fome dos pobres seria facilmente resolvida com um pouco de sacrifício. Você usaria a carne dos filhos pobres mais novos para alimentar os filhos mais velhos).

Pois é. Acho que tem gente que pensa que o livro do Hayek é um "guia para a servidão". Pelo menos no Brasil. Olha o título desta matéria: JB Online - Estatal do sangue assusta pesquisador.

Ou seja: (i) um militante aceitou suborno de bingos? Fecha os bingos (e abra uma loteria estatal para as universidades...todo mundo se encanta com universidades e saúde); (ii) tem assessor corrupto na Saúde? Fecha tudo e abre uma estatal.

Alguém já pensou que governantes angelicais não são condição suficiente para um bom governo? E, ademais, existem burocratas puros, angelicais e honestos? O discurso da "ética na política" é tão bom que os coerentes foram expulsos.

Preciso reler aqueles livros velhos do Kafka...