Por que tantos modismos em administração? ou "Porque os administradores são mais confusos"
Outro dia ouvi - em um comentário bastante mal educado - que "economistas são muito confusos". É verdade que podem existir economistas confusos. Mas considere as ondas de "modismos" na Administração nas últimas décadas. Aparentemente, administradores parecem adotar diversas idéias diferentes, em um curto espaço de tempo, para resolverem os mesmos problemas. Talvez a melhor constatação deste fato possa ser encontrada nas tirinhas do genial "Dilbert".
Entretanto, esta não é uma prática restrita aos administradores. Conforme estudos de um dos maiores especialistas em regulação, Kip Viscusi, se as pessoas entendessem corretamente os riscos de câncer no pulmão, então fumariam mais! Vale dizer, aparentemente, fumantes e não-fumantes sobreestimam o risco de câncer no pulmão.
A proposição de sobreestimação - um desvio da racionalidade econômica - encontra-se, por exemplo, no famoso manual (de mestrado e doutorado) de Economia do Setor Público de G.D. Myles. Em algum lugar do texto, encontra-se uma justificativa para a intervenção governamental na formulação de poupança futura (ou seja, previdência pública). Basta imaginar que o indivíduo subestime seu futuro. Tecnicamente falando, imagine um indivíduo que viva dois períodos ("jovem" e "aposentado"). Assim, sua utilidade total é U(C1, C2) = U(C1) + alfa*U(C2). C1 e C2 referem-se ao seu consumo nos dois períodos. "Alfa" é a taxa de desconto intertemporal.
A intervenção do governo, neste caso, seria inútil. Entretanto, se você imaginar que o indivíduo não perceba corretamente o futuro (algo como: U(C1, C2) = U(C1) + beta*(alfa*U(C2)), 0 < beta < 1), então ele tenderia a subestimar o futuro e pouparia menos no período 1: eis aí a porta escancaradamente aberta para os políticos entrarem na sua vida e planejarem parte da sua previdência...
Ok, então temos aí dois exemplos de desvios da racionalidade. Alunos de períodos iniciais e/ou alunos que não são muito informados dos avanços da ciência não sabem que este tipo de anomalia (em relação ao modelo teórico "standard") é bastante estudado pelo pessoal da academia. Afirmações do tipo: "ah, isso é bobagem. As pessoas são irracionais. O que estou fazendo aqui?" são simples demonstrações de que o sujeito não leu a capa do último Journal of Political Economy, American Economic Review ou outro periódico sério da área.
Bem, dado o alerta, vamos à ajuda. Se você achou que jamais teria uma pista sobre isto, considere este texto. Ele o introduz a um argumento interessante, devido a Timur Kuran (um economista que você e eu deveríamos ler mais vezes...) sobre "cascatas informacionais". Aliás, o mesmo autor do texto indicado, Pierre Lemieux, tem um artigo um pouco maior - e fácil de ler se você já viu "Teoria dos Jogos para crianças", chamado Following the Herd.
Alguém poderia dizer, voltando ao início deste post, que os modismos em Administração são apenas manifestações do famoso fenômeno "não se pode enganar a todos o tempo todo". Pode ser. Mas se mexem no seu bolso, então você tenderia a se tornar mais cuidadoso ao longo do tempo, o que deveria tornar os modismos menos freqüentes (o que nos deixa uma outra pergunta: quanto de irracionalidade existe...e qual sua importância em relação à racionalidade perfeita?). Entretanto, a criação de uma idéia nova, seja ela a "reengenharia" ou "participação nos lucros" não é algo que se possa prever com facilidade. Aliás, inovações, sejam elas idiotas ou não, são, como nos lembra Schumpeter, de difícil previsão.
Para fechar, a questão não é se economistas são mais ou menos confusos que administradores e vice-versa. Para uma questão está mal formulada. Para uma piada, é de muito mau gosto...
Outro dia ouvi - em um comentário bastante mal educado - que "economistas são muito confusos". É verdade que podem existir economistas confusos. Mas considere as ondas de "modismos" na Administração nas últimas décadas. Aparentemente, administradores parecem adotar diversas idéias diferentes, em um curto espaço de tempo, para resolverem os mesmos problemas. Talvez a melhor constatação deste fato possa ser encontrada nas tirinhas do genial "Dilbert".
Entretanto, esta não é uma prática restrita aos administradores. Conforme estudos de um dos maiores especialistas em regulação, Kip Viscusi, se as pessoas entendessem corretamente os riscos de câncer no pulmão, então fumariam mais! Vale dizer, aparentemente, fumantes e não-fumantes sobreestimam o risco de câncer no pulmão.
A proposição de sobreestimação - um desvio da racionalidade econômica - encontra-se, por exemplo, no famoso manual (de mestrado e doutorado) de Economia do Setor Público de G.D. Myles. Em algum lugar do texto, encontra-se uma justificativa para a intervenção governamental na formulação de poupança futura (ou seja, previdência pública). Basta imaginar que o indivíduo subestime seu futuro. Tecnicamente falando, imagine um indivíduo que viva dois períodos ("jovem" e "aposentado"). Assim, sua utilidade total é U(C1, C2) = U(C1) + alfa*U(C2). C1 e C2 referem-se ao seu consumo nos dois períodos. "Alfa" é a taxa de desconto intertemporal.
A intervenção do governo, neste caso, seria inútil. Entretanto, se você imaginar que o indivíduo não perceba corretamente o futuro (algo como: U(C1, C2) = U(C1) + beta*(alfa*U(C2)), 0 < beta < 1), então ele tenderia a subestimar o futuro e pouparia menos no período 1: eis aí a porta escancaradamente aberta para os políticos entrarem na sua vida e planejarem parte da sua previdência...
Ok, então temos aí dois exemplos de desvios da racionalidade. Alunos de períodos iniciais e/ou alunos que não são muito informados dos avanços da ciência não sabem que este tipo de anomalia (em relação ao modelo teórico "standard") é bastante estudado pelo pessoal da academia. Afirmações do tipo: "ah, isso é bobagem. As pessoas são irracionais. O que estou fazendo aqui?" são simples demonstrações de que o sujeito não leu a capa do último Journal of Political Economy, American Economic Review ou outro periódico sério da área.
Bem, dado o alerta, vamos à ajuda. Se você achou que jamais teria uma pista sobre isto, considere este texto. Ele o introduz a um argumento interessante, devido a Timur Kuran (um economista que você e eu deveríamos ler mais vezes...) sobre "cascatas informacionais". Aliás, o mesmo autor do texto indicado, Pierre Lemieux, tem um artigo um pouco maior - e fácil de ler se você já viu "Teoria dos Jogos para crianças", chamado Following the Herd.
Alguém poderia dizer, voltando ao início deste post, que os modismos em Administração são apenas manifestações do famoso fenômeno "não se pode enganar a todos o tempo todo". Pode ser. Mas se mexem no seu bolso, então você tenderia a se tornar mais cuidadoso ao longo do tempo, o que deveria tornar os modismos menos freqüentes (o que nos deixa uma outra pergunta: quanto de irracionalidade existe...e qual sua importância em relação à racionalidade perfeita?). Entretanto, a criação de uma idéia nova, seja ela a "reengenharia" ou "participação nos lucros" não é algo que se possa prever com facilidade. Aliás, inovações, sejam elas idiotas ou não, são, como nos lembra Schumpeter, de difícil previsão.
Para fechar, a questão não é se economistas são mais ou menos confusos que administradores e vice-versa. Para uma questão está mal formulada. Para uma piada, é de muito mau gosto...
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