O mercado funciona
Duvida? Então veja esta notícia:
Estatuto do Desarmamento bandido
Criminosos se antecipam ao governo e compram armas legais em vilas da Capital
Por Carlos Wagner - Publicado em Zero Hora no dia 11/07/04 - URL
Os traficantes que disputam o poder a tiro na Grande Cruzeiro - um conglomerado de 14 vilas onde vivem 60 mil pessoas, no centro geográfico de Porto Alegre - largaram na frente do governo federal no trabalho de desarmar a população, conforme previsto no Estatuto do Desarmamento. Eles estão pagando de R$ 800 a R$ 8 mil por armas.
O governo estuda pagar de R$ 100 a R$ 300 por unidade e terá R$ 10 milhões à disposição pagar quem entregar armas. A corrida que ocorre na Cruzeiro tem como pano de fundo a nova legislação - em vigor desde o final do ano passado e regulamentada no início do mês pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Com a nova lei, as lojas pararam de vender armas. Enquanto isso, a Brigada Militar intensificou a fiscalização. No primeiro semestre de 2003 foram 282 armas recolhidas em Porto Alegre, segundo o Comando de Policiamento da Capital. No mesmo período deste ano, totalizaram 408 (um crescimento de 45%).
Somente na última semana, pelo menos duas prisões em flagrante foram feitas pela BM por porte ilegal de armas. Um delas foi na madrugada de terça-feira. Na Rua Dona Malvina, na Cruzeiro, três pessoas envolvidas com assaltos e tráfico foram presas portando dois revólveres calibre 38 e uma pistola 7.65 com as numerações raspadas.
A outra prisão foi na quarta-feira, na Vila Bom Jesus, zona leste de Porto Alegre. Na ocasião duas pessoas foram pegas com uma pistola de fabricação alemã de uso exclusivo das Forças Armadas - a Luger calibre 9 milímetros, de 12 tiros.
Os traficantes das vilas da Cruzeiro correm atrás das armas porque estão envolvidos em uma guerra pelo poder. Esse conflito torna a região a mais conflagrada no Estado. Até a semana passada, 21 pessoas já haviam sido assassinadas neste ano em disputas por pontos de drogas, informa o inspetor Adilson Silva, 38 anos, 19 de polícia.
Silva chefia as investigações da 20ª Delegacia da Polícia Civil, responsável pela área da Cruzeiro. A última execução foi a do chefe de uma das seis gangues que atuam na área conhecida como São Borja, então chefiada por Edson Everaldo Arande Lescano, o São Borja ou The Flash. Ele foi executado a tiros por um grupo de adolescentes.
- O perfil violento da Grande Cruzeiro coloca o Rio Grande do Sul entre os Estados brasileiros onde a aplicação do Estatuto do Desarmamento provocou uma corrida às armas entre os bandidos - diz Pablo Dreyfus, 34 anos, especialista em mercados ilegais de armas da Viva Rio, organização não-governamental com sede no Rio de Janeiro.
Procura deve crescer quando governo regulamentar o pagamento
Dreyfus acredita que a aplicação da nova legislação provocou uma escassez de armas no mercado, fazendo vigorar a lei da oferta e da procura. Em locais onde os bandidos disputam o poder, como nas favelas cariocas, na periferia da cidade de São Paulo e na Cruzeiro, as quadrilhas estão comprando armas de quem quiser vendê-las. Da população, compram revólveres, pistolas e até espingardas.
Na avaliação do especialista, a busca dos quadrilheiros aumentará ainda mais assim que o governo regulamentar o pagamento por arma entregue pela população. Ele lembra que, no Paraná, onde as autoridades implantaram por sua conta um programa de recolhimento de armas, as mortes por tiros caíram em 30%.
Dreyfus confirma que, se por um lado os bandidos em áreas de conflitos estão disputando as armas dos moradores com o governo, por outro lado, em todo o país, a polícia aumentou o número de apreensões de armas ilegais. E mais: o governo federal está apertando o cerco em fronteiras, portos e aeroportos, portas de entrada de armamentos contrabandeados. Portanto, conclui Dreyfus, a situação dos bandidos não é cômoda. E vai piorar ainda mais.
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Estatuto do Desarmamento bandido
Criminosos se antecipam ao governo e compram armas legais em vilas da Capital
Por Carlos Wagner - Publicado em Zero Hora no dia 11/07/04 - URL
Os traficantes que disputam o poder a tiro na Grande Cruzeiro - um conglomerado de 14 vilas onde vivem 60 mil pessoas, no centro geográfico de Porto Alegre - largaram na frente do governo federal no trabalho de desarmar a população, conforme previsto no Estatuto do Desarmamento. Eles estão pagando de R$ 800 a R$ 8 mil por armas.
O governo estuda pagar de R$ 100 a R$ 300 por unidade e terá R$ 10 milhões à disposição pagar quem entregar armas. A corrida que ocorre na Cruzeiro tem como pano de fundo a nova legislação - em vigor desde o final do ano passado e regulamentada no início do mês pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Com a nova lei, as lojas pararam de vender armas. Enquanto isso, a Brigada Militar intensificou a fiscalização. No primeiro semestre de 2003 foram 282 armas recolhidas em Porto Alegre, segundo o Comando de Policiamento da Capital. No mesmo período deste ano, totalizaram 408 (um crescimento de 45%).
Somente na última semana, pelo menos duas prisões em flagrante foram feitas pela BM por porte ilegal de armas. Um delas foi na madrugada de terça-feira. Na Rua Dona Malvina, na Cruzeiro, três pessoas envolvidas com assaltos e tráfico foram presas portando dois revólveres calibre 38 e uma pistola 7.65 com as numerações raspadas.
A outra prisão foi na quarta-feira, na Vila Bom Jesus, zona leste de Porto Alegre. Na ocasião duas pessoas foram pegas com uma pistola de fabricação alemã de uso exclusivo das Forças Armadas - a Luger calibre 9 milímetros, de 12 tiros.
Os traficantes das vilas da Cruzeiro correm atrás das armas porque estão envolvidos em uma guerra pelo poder. Esse conflito torna a região a mais conflagrada no Estado. Até a semana passada, 21 pessoas já haviam sido assassinadas neste ano em disputas por pontos de drogas, informa o inspetor Adilson Silva, 38 anos, 19 de polícia.
Silva chefia as investigações da 20ª Delegacia da Polícia Civil, responsável pela área da Cruzeiro. A última execução foi a do chefe de uma das seis gangues que atuam na área conhecida como São Borja, então chefiada por Edson Everaldo Arande Lescano, o São Borja ou The Flash. Ele foi executado a tiros por um grupo de adolescentes.
- O perfil violento da Grande Cruzeiro coloca o Rio Grande do Sul entre os Estados brasileiros onde a aplicação do Estatuto do Desarmamento provocou uma corrida às armas entre os bandidos - diz Pablo Dreyfus, 34 anos, especialista em mercados ilegais de armas da Viva Rio, organização não-governamental com sede no Rio de Janeiro.
Procura deve crescer quando governo regulamentar o pagamento
Dreyfus acredita que a aplicação da nova legislação provocou uma escassez de armas no mercado, fazendo vigorar a lei da oferta e da procura. Em locais onde os bandidos disputam o poder, como nas favelas cariocas, na periferia da cidade de São Paulo e na Cruzeiro, as quadrilhas estão comprando armas de quem quiser vendê-las. Da população, compram revólveres, pistolas e até espingardas.
Na avaliação do especialista, a busca dos quadrilheiros aumentará ainda mais assim que o governo regulamentar o pagamento por arma entregue pela população. Ele lembra que, no Paraná, onde as autoridades implantaram por sua conta um programa de recolhimento de armas, as mortes por tiros caíram em 30%.
Dreyfus confirma que, se por um lado os bandidos em áreas de conflitos estão disputando as armas dos moradores com o governo, por outro lado, em todo o país, a polícia aumentou o número de apreensões de armas ilegais. E mais: o governo federal está apertando o cerco em fronteiras, portos e aeroportos, portas de entrada de armamentos contrabandeados. Portanto, conclui Dreyfus, a situação dos bandidos não é cômoda. E vai piorar ainda mais.
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