Boas teses para serem testadas
Você pode ficar no confortável "blahblahmetrics" do "tudo vale, vamos ser amigos e não vamos discutir nada" ou pode testar teorias e tentar verificar se é possível saber se a causa do disparo do cavalo na estrada de terra foi a chicotada que você lhe aplicou ou se foi a influência de sua (do cavalo) leitura de um bom livro de Nietzsche.
Claro, isto é uma decisão pessoal. Mas eu duvido que alguém tome decisões pessoais apenas com base em hipóteses absurdas (eu acho que a segunda hipótese acima é um tanto quanto absurda, mesmo para quem quer ser "diferente"...), exceto quando isto não lhe custa nada.
Tá certo que é fácil falar bobagens quando isto não lhe custa nada. Um boteco pode ser um bom lugar para tal. Mas experimente defender a hipótese eqüino-nietschziana em frente a uma banca de professores seriamente comprometidos com a ciência.
Pois bem. Isto tudo para dizer que em economia há sempre hipóteses recorrentes. Hipóteses que sempre desafiam pesquisadores independente da sua geração. Pensando melhor, isto ocorre em qualquer ciência. Por que, então, boa parte das pessoas não fica incomodada com a diferença gritante entre, digamos, Aristóteles e Galileu? Porque possivelmente o custo das hipóteses deles, para sua vida, é muito baixo. E é baixo no agregado também (quantos cientistas existem em relação à população da Terra?).
Tanto faz se a órbita dos planetas é elíptica ou não ou se é a Terra que está no centro do universo, certo? Pelo menos, para minha vida, é. Mas pense em algumas hipóteses sobre inflação no Brasil da década dos 80. Para cada brasileiro (economista ou não), naquele tempo, era muito mais irritante não conseguir desvendar a força de cada hipótese (se é que algumas não estavam erradas) sobre a inflação. Por que? Por causa do bolso: o poder real de compra do sujeito estava sendo afetado, né?
Mas isto mostra apenas que: (i) Galileu (ou Aristóteles, Ptolomeu, Copérnico, Lamarck, Einstein, etc) foi importante, embora você não perceba isto no curto prazo. (ii) Hipóteses sobre um mesmo fenômeno podem atravessar gerações e, finalmente, (iii) Aquilo que mais atinge sua vida costuma te incomodar mais (um físico ficará revoltado se você disser a ele que não se importa com a polêmica do Galileu, não ficará? Mas fale a ele sobre a neutralidade da moeda e pode ser que ele nem ligue para sua angústia sobre isto...).
Dito isto, pense em quantas hipóteses o trecho abaixo possui. E, mais ainda, refletir sobre quantas estão erradas, certas, ultrapassadas (ou não) pode ser o início de um bom trabalho.
O trecho abaixo é isento de erros? Não? Em parte? Como você sabe? Tem como medir? Não? Etc.
É exatamente aqui que termina o tal senso comum e tem início a pesquisa científica. Pelo menos para quem não quer, digamos, dar bom dia a cavalo...(e olha que este negócio de ciência é bem complicado...:)).
Trecho: A acentuada desigualdade de renda no Brasil é resultado de um longo processo histórico de manutenção de uma economia fechada, dependente do Estado e baseada em programas de substituição das importações. As fortes conseqüências desse procedimento giram em torno da incapacidade de conduzir o país a um crescimento sustentado, tendo em vista os escassos momentos de expansão real da economia. A avaliação é do diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas (CEM/FGV), Carlos Geraldo Langoni.
“A desigualdade é um subproduto involuntário dessa estratégia de uma economia fechada”, avaliou Langoni durante palestra no seminário “Comércio Exterior – A Nova Abertura da Economia”, promovido pela FGV em parceria com o Globo Online e o jornal O Globo, nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro.
Segundo o diretor do CEM, os custos econômico-sociais dessa política foram tão elevados, que na década de 90 o Brasil enveredou por um processo que o economista classificou de abertura unilateral da economia. Ou seja, o país começou a reduzir barreiras tarifárias e não-tarifárias. No entanto, argumenta Langoni, faltou o complemento de uma política mais firme para promover as exportações. A abertura comercial mais consistente, afirma, não foi resultado de uma decisão estratégica e consciente do governo, mas produto de uma crise cambial.
Você pode ficar no confortável "blahblahmetrics" do "tudo vale, vamos ser amigos e não vamos discutir nada" ou pode testar teorias e tentar verificar se é possível saber se a causa do disparo do cavalo na estrada de terra foi a chicotada que você lhe aplicou ou se foi a influência de sua (do cavalo) leitura de um bom livro de Nietzsche.
Claro, isto é uma decisão pessoal. Mas eu duvido que alguém tome decisões pessoais apenas com base em hipóteses absurdas (eu acho que a segunda hipótese acima é um tanto quanto absurda, mesmo para quem quer ser "diferente"...), exceto quando isto não lhe custa nada.
Tá certo que é fácil falar bobagens quando isto não lhe custa nada. Um boteco pode ser um bom lugar para tal. Mas experimente defender a hipótese eqüino-nietschziana em frente a uma banca de professores seriamente comprometidos com a ciência.
Pois bem. Isto tudo para dizer que em economia há sempre hipóteses recorrentes. Hipóteses que sempre desafiam pesquisadores independente da sua geração. Pensando melhor, isto ocorre em qualquer ciência. Por que, então, boa parte das pessoas não fica incomodada com a diferença gritante entre, digamos, Aristóteles e Galileu? Porque possivelmente o custo das hipóteses deles, para sua vida, é muito baixo. E é baixo no agregado também (quantos cientistas existem em relação à população da Terra?).
Tanto faz se a órbita dos planetas é elíptica ou não ou se é a Terra que está no centro do universo, certo? Pelo menos, para minha vida, é. Mas pense em algumas hipóteses sobre inflação no Brasil da década dos 80. Para cada brasileiro (economista ou não), naquele tempo, era muito mais irritante não conseguir desvendar a força de cada hipótese (se é que algumas não estavam erradas) sobre a inflação. Por que? Por causa do bolso: o poder real de compra do sujeito estava sendo afetado, né?
Mas isto mostra apenas que: (i) Galileu (ou Aristóteles, Ptolomeu, Copérnico, Lamarck, Einstein, etc) foi importante, embora você não perceba isto no curto prazo. (ii) Hipóteses sobre um mesmo fenômeno podem atravessar gerações e, finalmente, (iii) Aquilo que mais atinge sua vida costuma te incomodar mais (um físico ficará revoltado se você disser a ele que não se importa com a polêmica do Galileu, não ficará? Mas fale a ele sobre a neutralidade da moeda e pode ser que ele nem ligue para sua angústia sobre isto...).
Dito isto, pense em quantas hipóteses o trecho abaixo possui. E, mais ainda, refletir sobre quantas estão erradas, certas, ultrapassadas (ou não) pode ser o início de um bom trabalho.
O trecho abaixo é isento de erros? Não? Em parte? Como você sabe? Tem como medir? Não? Etc.
É exatamente aqui que termina o tal senso comum e tem início a pesquisa científica. Pelo menos para quem não quer, digamos, dar bom dia a cavalo...(e olha que este negócio de ciência é bem complicado...:)).
Trecho: A acentuada desigualdade de renda no Brasil é resultado de um longo processo histórico de manutenção de uma economia fechada, dependente do Estado e baseada em programas de substituição das importações. As fortes conseqüências desse procedimento giram em torno da incapacidade de conduzir o país a um crescimento sustentado, tendo em vista os escassos momentos de expansão real da economia. A avaliação é do diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas (CEM/FGV), Carlos Geraldo Langoni.
“A desigualdade é um subproduto involuntário dessa estratégia de uma economia fechada”, avaliou Langoni durante palestra no seminário “Comércio Exterior – A Nova Abertura da Economia”, promovido pela FGV em parceria com o Globo Online e o jornal O Globo, nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro.
Segundo o diretor do CEM, os custos econômico-sociais dessa política foram tão elevados, que na década de 90 o Brasil enveredou por um processo que o economista classificou de abertura unilateral da economia. Ou seja, o país começou a reduzir barreiras tarifárias e não-tarifárias. No entanto, argumenta Langoni, faltou o complemento de uma política mais firme para promover as exportações. A abertura comercial mais consistente, afirma, não foi resultado de uma decisão estratégica e consciente do governo, mas produto de uma crise cambial.
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