Ideologia importa?
Alberto Oliva acha que sim.
Trecho:
No final da adolescência comecei a ler os duros ataques de críticos como José Ramos Tinhorão às músicas que tanto bem tinham feito à minha alma juvenil. Os formadores de opinião, fortemente influenciados pelo materialismo histórico, faziam duras restrições à arte divorciada de nossas raízes, à música acumpliciada com o Sistema, ao cinema que macaqueava Hollywood e não se engajava na luta contra o Dragão da Maldade.
O tempora! O mores! Tudo que não se enquadrasse nas bitolas do marxismo vulgar era visto como o cavalo de Tróia do imperialismo. O maior cronista brasileiro, Nelson Rodrigues, de tão patrulhado assumiu a condição de “o reacionário”. Os argumentos eram colocados a reboque dos enquadramentos ideológicos e as idéias reduzidas a posicionamentos. A arte só tinha valor se colocada a serviço da Revolução Proletária. Era diminuta a consciência de que, em qualquer época, o recomendável é deixar-se levar pelos sentidos, sobretudo pelo sexto, e pela razão, sobretudo a criativa, repelindo a camisa de força dos esquematismos ideológicos.
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