quarta-feira, outubro 20, 2004

Mitos de boteco

Vamos começar aqui uma série nova: mitos de boteco. A idéia é mostrar que o senso comum nem sempre é a melhor resposta para uma pergunta.

Há muitos anos, quando era aluno de graduação, li um trecho de uma reportagem de um australiano que, no início do século XIX (eu acho), descrevia o povo japonês como inepto ao trabalho. O texto era legal porque mostrava a falácia de se associar a causa do desenvolvimento japonês a alguma suposta ética confuciana...e pronto. Vale dizer: você pode achar até que isso tem a ver, mas quanto? Será que um avanço tecnológico é menos importante que uma ética confuciana?

Bem, remexendo na minha estante, achei um livro que ganhei há anos. Trata-se do livro-texto dos samurais (um manual para samurais) comentado por Yukio Mishima, alguém bem insuspeito para se defender samurais.

O trecho que se segue mostra qual era a idéia do manual acerca das atividades técnicas. Qualquer semelhança com o Brasil colonial é mera coincidência (dica: leia "Mauá, empresário do império" ou qualquer outra boa obra sobre a época):

O homem que adquire reputação de ser hábil numa arte técnica é um idiota. Devido à sua tolice em concentrar as energias numa coisa, tornou-se bom nela, recusando-se a pensar em qualquer outra coisa. Essa pessoa não tem nenhuma utilidade. [Mishima, Y. "Hagakure", p.69, Ed. Rocco, 1987]

Em miúdos: é exatamente o que Adam Smith não diria....

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