domingo, outubro 10, 2004

O capital é o trabalho (e vice-versa)UPDATED

Outro dia estava discutindo isto com um aluno (ou aluna, não me lembro mais) que insistia em usar alguns termos sem defini-los. Acho que eram "capital" e "trabalho" (ou "social").

Muita gente não percebe a importância das palavras e das definições (e por isto podem ser facilmente reprovados em matérias do curso) e nada como um bom exemplo para arejar a cabeça da patota.

A leitura do texto que está (registre-se para ler, é fácil e rápido) aqui me faz pensar seriamente sobre quem é "trabalho" e quem é "capital". Aliás, pelo visto, o "trabalho" quer ser "capital" e nem todos dispensam um tratamento paternalista.

Trechos: "
Quase meio milhão de trabalhadores passou a integrar o exército de microempreendedores do Rio de Janeiro nos últimos dez anos. Levantamento inédito do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) mostra que o número de autônomos e donos de empresas com até dez funcionários no estado chegou a 1,6 milhão em 2002 — 402 mil pessoas a mais que em 1992."

"— O governo é o meu quarto sócio. Nossa pequena corretora tem o mesmo tratamento tributário de uma instituição financeira, não temos direito ao Simples. Na área trabalhista, temos as mesmas obrigações que as grandes companhias de seguro. Não vale a pena ser empreendedor no Brasil. Hoje, se eu fizesse um bom concurso público e passasse, deixaria de ser empresário. É tudo muito cansativo — diz. "

Após ler estes trechos responda: "O sujeito é dono de seu meio de produção e não trabalha para outro patrão. Logo ele é........" (preencha o espaço, se conseguir).

Agora, outro ponto bacana desta reportagem é o que ela não diz, pelo menos diretamente. Para o sujeito ser empresário ele tem de correr riscos e a vida dele não é fácil. Quanto menos o governo for paternalista (não espere isto nos próximos anos, leitor(a)), mais ele será forçado a perceber sua real escolha entre ser ou não ser empresário. Num país com tantos problemas e entraves para se conseguir abrir uma empresa, mas também com um problema de empregabilidade, espanta-me o crescimento destes "empreendedores" no RJ.

Por outro lado, eu me pergunto se estes caras são empresários na definição, digamos, misesiana-kirzeriana do termo: pessoas alertas às oportunidades de lucro e que conseguem aproveitá-las e descobri-las (se for schumpeteriano, leitor(a), acrescente o qualificativo "inovador" à definição de empresário). Quando penso no camelô, eu fico com a impressão de que este é mesmo um empresário, ao contrário do que vejo em grandes sindicatos de empresários.

A propósito, eis aqui um bom artigo (em PDF) sobre "empresários" e "crescimento econômico". Note que o ponto central do artigo não é que um estoque maior de empresários é bom para o crescimento econômico. Pelo contrário, apenas direitos de propriedade bem garantidos e definidos, sob um sistema legal que não seja ineficiente gera os incentivos corretos para o comportamento pró-mercado dos empresários. Lembre-se que empresários podem ser criados pelo Estado (governo) através de subsídios, corrupção, etc.

Em poucas palavras: empresários que não surgem para arriscar (e não surgirão se perceberem que o Estado ou o traficante vão expropriá-lo logo e/ou se perceberem que a "mamata" dos políticos é uma opção melhor...) não são bons para o crescimento econômico.

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