segunda-feira, novembro 15, 2004

O microcrédito e seus inimigos

"The Grameen Bank was started by somebody who actually did make loans from his own personal funds, Muhammad Yunus, head of the economics department of Chittagong University. Professor Yunus was so appalled by the economic situation in Bangladesh in the 1970s that he decided to quit just professing economics and start getting involved in the economy. He loaned a total of $30 to forty-two impoverished village artisans so they could buy the materials for their crafts. Now the Grameen Bank has 910 branches with more that a million borrowers (...).

Grameen, though it loans money only to the poorest Bangladeshis, is a going concern. It charges 16 percent interest and has a default rate of only 8 percent. Grameen borrowers are formed into five member groups to mutually guarantee the loans. Only two members of each group can have loans outstanding at the same time. Several groups form a 'centre', and each centre is visited by a Grameen representative once a week. Ninety-two percent of the borrowers are women because Grameen people believe an increase in women's income directly benefits households. Professor Yunus said, 'A man has a different set of priorities, which do not give the family top position', by which I think he means cigarettes and floozies.

(...)

The Grameen Bank has run into opposition. Leftists claim it teaches capitalism to the Bangladeshi poor. The village mullahs hold that it is sacrilege for women to fool with money. And local tradionalists are shocked at brides without dowries and probably at vegetables. Grameen is a little piece of a society trying to reconstruct itself (...)". [P.J. O'Rourke, "All the Trouble in the World, p.49-50]

O que é bacana no trecho - imenso - acima, na minha opinião, é que o pessoal do "sou contra" erra porque acha que os outros pensam como eles. Não se ensina capitalismo a pobres. Dá-se incentivos certos e as pessoas reagem. Isto é que é sistema de preços funcionando. Não tem qualquer ideologia. Aliás, este pessoal surgiu de tentativas de reformismo social e, geralmente, comete este erro de achar que todo mundo quer fazer engenharia social com as pessoas.

Além disso, note, leitor(a), como Yunus bolou um sistema de incentivos interessante, para que bancos realmente emprestassem para pobres. Normalmente existe um problema sério em bancos que é o de assimetria de informação (como conhecer a reputação de alguém tão pobre que sequer teve chance de construir uma?), dificultando a vida deste pessoal (ver, por exemplo, o de Ronald Hillbrecht, da editora Atlas para detalhes sobre estes problemas). Por que você acha que o grupo de tomadores é um "grupo" e não um indivíduo, além de ser sempre visitado?

A diferença entre homens/mulheres mostra que Yunus soube como montar seus incentivos: procurou conhecer as peculiaridades relevantes (ou as variáveis relevantes) da sociedade local para conceder empréstimos.

Finalmente, nada como a narrativa divertida de P.J. O'Rourke. Na imprensa nacional, como sempre, falta alguém que leia bons livros e faça esta divulgação para a gente. Gente que sabe ler em inglês eu até acho que não falta. Mas por que nunca eu li sobre estas narrativas divertidads do O'Rourke em jornais brasileiros? Uma pena. Mas nunca é tarde para se recomendar livros bem escritos, divertidos e...que transmitem conhecimento. Penso, aqui, no aluno de graduação, que pode sofrer menos num primeiro contato com o assunto lendo um divertido capítulo como este do qual veio o trecho acima do que nos artigos - também importantes, mas em outro nível - do, digamos, The Journal of Political Economy.

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