domingo, dezembro 12, 2004

Economia para dummies (sejam estes economistas ou não)


Grande futuro: importar IBMs chineses

Aempresa chinesa Lenovo comprou por US$ 1,25 bilhão a divisão de computadores pessoais da IBM. Isso na semana em que a Câmara aprovou a medida provisória de Lula que estendeu até 2019 a escala de redução do IPI para os fabricantes (ou maquiadores) nacionais. Os çábios das políticas industriais brasileiras podem ter as mais variadas explicações para esses dois fatos. Para a patuléia, vale a pena revisitar as bobagens impostas ao país por conta do que seria uma independência tecnológica e que resultaram na criação de um baronato retardatário.

A Lenovo surgiu em 1984, em Pequim, com o nome de Legend. Funcionava num barracão e vendia máquinas IBM e HP. Nesse mesmo ano, sob os aplausos da Fiesp, criou-se em Pindorama uma reserva de mercado para produtores nacionais, prorrogando-se o fechamento das fronteiras brasileiras aos fabricantes estrangeiros.

A reserva de mercado era justificada em nome de um futuro grandioso. Com um pé na Presidência da República, Tancredo Neves dizia: "Um país que não pode controlar os seus serviços de informática estará condenado a se transformar numa sub-nação".

Tratando do fluxo internacional de informações (hoje conhecido como internet), o senador Severo Gomes advertia: "É questão de primeira grandeza. (...) Está na hora de conceituarmos, para a defesa dos nossos interesses, a informação como mercadoria, regida pelo direito comercial, de forma que possamos controlar os fluxos comerciais de informação". Isso mesmo, controlar download.

O presidente da Associação das Industrias Brasileiras de Computadores, Edson Fregni, era categórico: "Nós achamos inaceitável para o Brasil exportar café e açúcar e importar computadores".

Bingo. Passaram-se 20 anos e o Brasil exporta grãos e pedras (soja e minério) para a China, importando produtos eletrônicos e manufaturados. Em breve, vai importar também computadores IBM.

A turma da reserva de mercado e o baronato cevado pelas leis de proteção industrial anacrônicas, clientelistas e cartoriais conseguiram uma proeza: desenharam uma política para enfrentar os países desenvolvidos tecnológica e industrialmente e conseguiram ser superados pela China, que, nos anos 80, estava na idade da pedra lascada da ressaca maoísta.

Inventaram a roda que só anda para trás.