domingo, abril 17, 2005

Que tipo de empreendedorismo queremos?

Todo mundo deve ter visto, semana passada, a divulgação de uma tal TEA (Atividade Empreendedora Total), divulgada pelo SEBRAE (o relatório executivo, em PDF, é este). A pesquisa foi feita pela GEM (Global Entrepreunership Monitor) para todo o mundo.

Essencialmente, a TEA é definida como: "a porcentagem da força de trabalho que está ativamente iniciando novos empreendimentos ou é proprietária/gerente de negócios cujo período de existência é inferior a 42 meses".

No relatório do SEBRAE há um gráfico com o PIB per capita (no eixo horizontal) e a TEA para vários países, em 2004. Mostra-se que há um ajuste parabólico com um ponto mínimo. Ou seja, a curva teria o formato de "U" e daria margem a uma interpretação um tanto quanto otimista da atividade empresarial.

Alguns como Elio Gaspari criticaram a TEA dizendo que o indicador seria precário. Outros, como Paulo Leite, fizeram uma leitura otimista do mesmo. Na minha opinião, ambos exageram.

Há alguns meses, publiquei no Ratio Pro Libertas, um artigo no qual eu fazia uso de uma taxonomia recém-criada por dois economistas, Christopher Coyne e Peter Leeson. O artigo deles foi publicado no último número do CATO Journal (link para o pdf aqui). Em resumo, a tese deles é a de que existem diferentes graus e combinações entre instituições econômicas, políticas e legais que podem gerar diferentes tipos de atividade empresarial (ou "empreendorismo"): produtivo, improdutivo e evasivo.

Como eu resumi no artigo citado: "O primeiro é aquele que gera riqueza social, o segundo é caracterizado pelo crime, atividades "rent-seeking" ou qualquer outra atividade que resulte em destruição de recursos econômicos. Finalmente, e esta é a contribuição maior dos autores, há a atividade empresarial evasiva, caracterizada pelo uso de todos os meios, por parte do empresário, para se livrar do sistema legal ou evitar as atividades improdutivas de outros empresários."

A relação entre liberdade econômica e PIB per capita, por exemplo, pode ser visualizada aqui, usando o índice de liberdade econômica da Heritage Foundation. Fiz o gráfico da TEA com este índice e, claro, achei que a parábola é um bom ajuste, em formato de "U". Não poderia ser diferente já que PIB per capita e liberdade econômica têm uma forte relação positiva.

Entretanto, acho que Gaspari e Leite fazem comentários superficiais sobre a TEA, seja criticando ou elogiando a medida. Para verificar isto, resolvi usar o índice de corrupção percebida da Transparency International. Se Coyne & Leeson estão certos, posso observar altos índices de TEA com baixos níveis de corrupção, mas também com altos níveis do mesmo.

Lembrando que o índice de corrupção percebida é um índice de transparência, i.e., quanto maior o índice, menor a corrupção, obtive o gráfico abaixo, com ambos - TEA (no eixo horizontal) e índice de corrupção percebida (no eixo vertical) - em logaritmos para ajustar as escalas.



Posted by Hello

O gráfico mostra que um mesmo nível de corrupção pode estar relacionado a baixos ou altos níveis de empreendedorismo (pelo menos no conceito da TEA). Eu diria que este ajuste parabólico em formato de "U" invertido nos mostra que há suporte para a tese dos "tipos de empreendedores". Ou seja: dependendo do tipo de incentivo que se dê, você terá empreendedores. Só que não necessariamente estes gerarão crescimento no longo prazo.

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