sábado, junho 11, 2005

Ainda o mistério do papel higiênico

Quem foi até minha página pôde ler este trecho: Explicando o estranho comportamento do gráfico em agosto de 2001: Para explicar este "outlier", consulte este boletim. Basicamente, um problema de oferta, demanda e interrelação entre mercados. O trecho é este: "Os altos preços internacionais da celulose (matéria-prima utilizada na produção do papel higiênico), e a desvalorização cambial levaram os fabricantes deste segmento a destinar grande parte da produção ao mercado externo, impulsionando aumentos significativos nos anos de 1999 e 2001 (...)".

Ok, satisfeito? Um dos meus estagiários não gostou. Achou que havia algum problema. "Como assim", perguntou ele, "o Brasil exporta papel higiênico?"

E fomos para o MDIC, consultar o Aliceweb. Alunos de economia com algum interesse em comércio exterior costumam ser bons conhecedores desta excelente ferramenta de consulta ao banco de dados de exportações brasileiras. Bem, os excelentes estagiários da Gerência de Economia nunca me decepcionam nisto. Aí vão os dados.

Em 1999, 2000 e 2001, como foram as exportações de: (i)"PAPEL P/FABR.DE PAPEL HIGIENICO OU DE TOUCADOR,ETC." e (ii) "PAPEL HIGIENICO" em termos nacionais e, para nós mineiros, estaduais?

Exportações de papel higiênico - Brasil e Minas Gerais (Kg liquido e US$)

1999
BR 11020631 12159279
MG 1379 839
2000
BR 10913780 12901939
MG 300 370
2001
BR 8469159 8307698
MG 0 0

O que se observa acima é que, se há alguma relação entre setor externo e preços do papel higiênico na região metropolitana de BH, provavelmente esta se faz através de demanda de insumos. Em outras palavras, o papel higiênico vendido na RMBH provavelmente é fabricado com celulose vinda de outros estados. Dá para perceber isto na medida em que não há, em 2001, qualquer papel higiênico (ou insumo para sua fabricação) sendo exportado de MG.

Por outro lado, é curioso notar que as exportações nacionais de papel higiênico são declinantes (ou em KG ou em US$). O mais intrirgante é 2001, no qual temos aquele enorme outlier em agosto. Se houve algum aumento de preço de celulose no setor externo, então não se destinou papel higiênico para lá, mas sim celulose. O texto do PROCON não é claro, no final, quando fala em "fabricantes do setor", mas um pouco de dados e raciocínio nos mostra que a exportação, provavelmente, foi de celulose, certo? Era o que pensei, até observar esta outra tabela.

Exportações de papel p/fabricação de papel higiênico ou de toucador, etc" - Brasil e Minas Gerais (Kg liquido e US$)

1999
BR 14479655 11198340
MG 8518 11918
2000
BR 9554024 8361256
MG 4687 9204
2001
BR 20885397 15860038
MG 0 0

Observe, leitor, que, novamente, em 2001, nada se exportou de papel para fabricação de papel higiênico. Então, mais uma pista: nossa cadeia produtiva de papel higiênico deve ter exportado a celulose mesmo. Este dado nós não checamos, mas deve ter ocorrido isto. Afinal, commodities são commodities...

Enfim, se alguém tiver mais alguma dica sobre o estranho outlier, pode deixar seu comentário por aqui.

p.s. o setor produtor de celulose e derivados é atingido pela abertura econômica? Isto tem a ver com alguns trabalhos de Eduardo Pontual Ribeiro. Em breve, novidades por aqui, para o caso de Minas Gerais...
p.s.2. UPDATED - A reação ao post foi tanta que mereci um interurbano de um (grande) amigo meu, o André Carraro (que nem posta mais aqui, embora ainda seja, em nossas configurações, um dos membros do blog), gargalhando e me perguntando sobre a existência de algum cartel. Trata-se de um típico caso de "perco o amigo, mas não perco a piada...e ainda reencontro outros amigos".