Esclarecimentos sobre o provão....again
Jornal O Globo - Colunista de O País: "Entrevista: Cristovam Buarque
(59 anos, ministro da Educação)
O sistema de classificação das faculdades a partir dos resultados do Provão vai acabar?
O MEC recebeu um projeto, encomendado a uma comissão de especialistas. Ele será discutido com professores, alunos e com quem quiser entrar no debate. Pessoalmente, sou favorável à existência de uma classificação das faculdades, feita pelo MEC. Não seria um ranking semelhante ao dos lutadores de box. Seria uma coisa mais complexa, com diversas classificações. Devemos avaliar os professores, as instalações e até as relações da faculdade com a comunidade. Há diferenças que devem ser levadas em conta. Uma faculdade instalada em Maragogipe, a terra do meu avô, em Alagoas, pode não estar fazendo pesquisas. Ela não deve ser avaliada da mesma forma como se avalia outra, que também não faz pesquisa, mas está num centro urbano com mais de cinco milhões de habitantes. Em cidade pequena, uma faculdade muda a qualidade da vida, muda até a conversa do boteco. A avaliação dos alunos continuará a ser feita. Hoje a idéia é de se fazer dois exames por curso (um na metade e outro no final) para alunos escolhidos aleatoriamente numa amostra. Não podemos dar estrelinhas para faculdades como se elas fossem restaurantes, mas podemos classificar os diversos aspectos que avaliamos. O importante nesse processo todo é fazer o trabalho de avaliação, divulgá-lo e agir sobre os resultados. Tanto para ressaltar o que vai bem, como para tentar consertar o que vai mal e, nos casos perdidos, fechar o que não tem jeito. Avaliar por avaliar não serve para nada.
O vestibular pode acabar?
Se dependesse de mim, já tinha acabado. Quando fui reitor da Universidade de Brasília, instituí um sistema de provas regulares durante o curso médio. Essas notas permitem o acesso do estudante à faculdade. Hoje esse sistema funciona em pelo menos sete universidades. Eu gostaria muito que em vez de sete fossem 77, gostaria também que as comunidades pressionassem as escolas pela sua adoção. As universidades são autônomas. Se uma delas não quer esse sistema, o ministro da Educação não pode fazer nada.
O Enem acaba?
De jeito algum. Nossa idéia é mudá-lo. Hoje temos uma prova ao fim do curso. É como um exame para se saber se o fumante tem um tumor no pulmão. Se tem, pouco se pode fazer. A idéia é se fazer uma prova a cada ano. Assim o aluno pode avaliar melhor o seu desempenho e a qualidade do ensino que lhe dão. Ele recebe um sinal no primeiro ano, outro no segundo e o último no terceiro. Se as universidades quiserem, essas notas podem ser um fator para determinar o acesso do estudante. Não pretendemos servir prato feito. Vamos discutir tudo com professores, alunos e quem quiser discutir. Mais: se até o fim do ano não tivermos chegado a uma conclusão, não terei o menor constrangimento: em 2004 continuará tudo igual. "