sábado, outubro 18, 2003

Minutos de Sabedoria...anos de burrice

Assim dizia um professor de Ciência Política que tive. Mas vale a pena esta frase: gastei muiiiiiiiiiiiiitos minutos estudando antes de achá-la:

In economics, as in the other social sciences and in science generally, the truth of today is not usually the error of tomorrow. More often, the truth of today is the special case of the truth of tomorrow. [Mancur Olson in CLAGUE, C. "Institutions and Economic Development, p.63]

Só de pensar na curva de Phillips, o leitor já vê como isto pode mesmo ser uma descrição boa da ciência.

Oh, yeah!

sexta-feira, outubro 17, 2003

Pesquisa inócua?

Segundo a pesquisa citada adiante, feita pela OCDE (Estudantes brasileiros são os mais engajados - Terra - Educação), os estudantes brasileiros são bem "engajados na escola", i.e., simplesmente não se sentem mal no local de estudo.

Agora, como foi feita a pesquisa? Usou-se um questionário que os próprios alunos responderam. Pesquisa similar foi feita na Coréia do Sul, Polônia e Japão, bem como outros países do mundo.

Suponha que os estudantes brasileiros foram honestos. Ou pelo menos que foram tão honestos, em média, quanto seus colegas internacionais. O ponto é que a mesma OCDE, há algum tempo, divulgou uma pesquisa (acho que foi um órgão ligado à OCDE) na qual os alunos brasileiros estavam entre os que menos entendem questões básicas: vale dizer, sabem ler, mas não entendem. Acho que o nome disso é analfabetismo funcional.

Então, eu pergunto: como eles responderam o questionário desta nova pesquisa? Bem, digamos que houve algum cuidado com isso. Ainda assim, resta-me uma última dúvida.

Se você pega uma turma de adolescentes e a coloca numa faculdade, sem cobrar nada, fazendo um pacto da mediocridade do tipo: "eu finjo que ensino, dou 100 pontos e você finge que aprende", creio que obterá um alto grau de "engajamento escolar", certo?

Alguém poderá dizer: "não necessariamente. Existe o capital social". E eu retruco: o capital social do Brasil é da mesma qualidade que o do Japão?

Vale dizer: há muitos modos de se sentir bem. Um deles é não enxergando os próprios problemas. Para mim, esta pesquisa pode estar não dizendo absolutamente nada.

Estarei errado? O que vocês acham?

quinta-feira, outubro 16, 2003

Blog também é cultura

Do sociólogo Charles Tilly, mais uma dos incríveis neerlandeses (a história do surgimento dos Países Baixos é uma das mais incríveis....já li um monte, mas falta muito para aprender sobre este incrível amontoado de cidades rivais lotadas de capital que derrotaram a potência da época: a Espanha).

“As dívidas nacionais se originam em grande parte de empréstimos para e durante as guerras. (...). As inovações decisivas haviam ocorrido entre 1515 e 1565, quando os Estados Gerais dos Países-Baixos dos Habsburgos (cujas províncias setentrionais, após se revoltarem em 1568, tornar-se-iam no final a República Holandesa) determinaram a cobrança de anuidades garantidas pelo estado e asseguradas por novos impostos específicos que rendiam juros atraentes (...). Consequentemente, “numa emergência, a República Holandesa poderia levantar em dois dias um empréstimo de um milhão de florins a juros de apenas 3%” (Parker 1976: 212-13). Os títulos de crédito do estado tornaram-se um investimento favorito dos investidores holandeses, cujos agentes taxaram toda a economia em seu próprio benefício. Na verdade a palavra “capitalista” em seu uso moderno parece ter derivado do termo que designava aqueles cidadãos holandeses que pagavam a taxa mais alta per capita de imposto, apregoando desse modo a sua riqueza e sua capacidade de crédito. [in Charles Tilly, Coerção, Capital e Estados Europeus, EDUSP, p.150-1]

quarta-feira, outubro 15, 2003

Imposto único?

O Leo não gosta (e é preguiçoso...inside joke), diz que não é legal. Eu nunca consegui formar uma opinião única (talvez eu só concorde com imposto único desde que a alíquota seja menor ou igual a zero porcento), e sempre tem o Marcos Cintra Cavalcanti defendendo a idéia.

Proposta de reforma do PSDB prevê imposto único em 2007 - Política ::: últimas notícias ::: www.estadao.com.br

Ah, e o Marcos Cintra está aqui.
Dia do Professor

Deveriam chamar de "Dia do Soldado Desconhecido". Lembraram:

1. Meus chefes (thanks, Ernani e Itamar);
2. Aladir (funcionária da secretaria.... a secretária mesma não se manifestou via e-mail);
3. Meu pai (após as 15:40).
4. Marilda
5. Alguém mais? Não lembro.

Dos alunos, apenas o pesquisador-júnior (vocação de acadêmico de qualquer coisa...espero que Economia...) Rafael foi lembrado quando do aceno da Marilda (outra da secretaria, um amor de pessoa, exceto quando banca a vigia das janelas...:-)).

Agradeço a muita gente: Antônio Aguirre, Affonso C. Pastore, Vera Fava, Ronald O. Hillbrecht, William H. Summerhill, Eduardo P. Ribeiro, Joaquim E. C. Toledo, Márcio Nakane, Jorge Araújo, Roberto Camps, Marcelo Portugal, Ernani Teixeira, José Afonso B. B. da Silva, Marcos Fernandes, Jorge Vianna Monteiro, Basília Aguirre, Beth Farina, Décio Kadota, Delso Moraes, Diana Tsutiya O. Sawyer, Jack Hirshleifer, Kenneth Sokoloff, Chiquinho (in memoriam)....e também aos tantos outros que minha memória, no momento, injustiça violentamente.

Sem falar das tias do pré-primário, primário, primeiro e segundo graus, o povo do Nihongo Gakkou, a profa. Tomoko Onishi, as tias do alemão, inglês, e todos os outros que, enquanto professores, de bom ou mau humor, fizeram algo útil: fizeram-me pensar logicamente e duvidar metodicamente (até de mim mesmo).

segunda-feira, outubro 13, 2003

A importância da Economia Política e da Política enquanto sistema de incentivos

Embora algo redundante, o título quer chamar a atenção do (e)leitor para um fato que o Jorge já destaca há anos: a destruição da estabilidade constitucional.

Muitos dos meus colegas economistas acham isso bobagem. Deputados então, nem se fala...mas qualquer cidadão mais preocupado deveria ter em mente de que, como Jorge uma vez me disse: não existe plano de estabilização grátis.

Os custos estão aí e, talvez, piores hoje do que em 1990 ou 1994.

Trecho do texto abaixo (com o link).


A desorientação constitucional brasileira acaba de ser agravada pela reviravolta da reforma tributária, quando a PEC 41-03, já aprovada em duas votações na Câmara dos Deputados, passa a ser ignorada e, em troca, decide-se por um novo começo de sua tramitação, a partir do Senado.

Não é a primeira vez que se desacredita o mecanismo de emendas (Artigo 60 da Constituição), em razão de o resultado final da PEC não ter agradado a essa ou aquela facção política. Em 1996, com a derrota da proposta previdenciária, na Câmara dos Deputados, o governo também deu o dito por não dito, reiniciando o rumo da PEC a partir do Senado, casa em que a maioria governista era mais confiável. Aprovada a PEC, degradou-se um pouco mais o rito constitucional, com o anúncio de que a sua operacionalização somente se daria após as futuras (1998) eleições - o que também poderá vir a ser a estratégia do atual governo, em face das eleições de 2004.

Essa é uma ocorrência grave, não propriamente por inviabilizar um bom desempenho macroeconômico, mas por sancionar o exercício de um crescente poder discricionário do governo, que transparece na elevada carga de impostos e na intensa e diversificada regulação econômica.

domingo, outubro 12, 2003

Tyler Cowen e a corrupção

Eis aí uma pergunta boa.

Link: http://www.marginalrevolution.com/marginalrevolution/2003/10/here_is_a_resul.html
Novos links fixos aí ao lado

Confira!
Imprensa

Uma reclamação comum de brasileiros - xenófobos ou não em relação aos EUA - é a de que a imprensa de lá é muito "pró-Bush". Morando lá por um ano, e com tempo para ler jornais com calma (eu não vendia pipoca na rua, né?), sempre achei esta reclamação estranha.

E, ao contrário daqui, onde todo mundo reclama de viés da imprensa anti-X ou pró-Y, lá, o povo corre atrás. O artigo abaixo mostra que existe, sim, evidência de que há viés na imprensa norte-americana. Só que é anti-Bush.

Você pode até não gostar do resultado, mas faça a pergunta básica: você algum dia já pensou em como defender seu argumento além da cúpula do trovão dos bares e das cervejas?

Na verdade, o que eu queria ver mesmo era um estudo similar para o Brasil. Entretanto, para isso, teríamos de ter:

i) interesse na pesquisa;
ii) paciência (pois os dados teriam de ser coletados, ou você acha que o povo vai facilitar sua vida, ainda mais num tema tão polêmico?);
iii) tempo para fazer a pesquisa (alunos de monografia de graduação têm este tempo, mas nem sempre têm (i) e (ii)).

Aí vai o link para os seminários onde se encontra o texto.

Fall 2003 Brown Bag Seminars
Homens armados matam, armas não

E não adianta me dizer que a existência da arma, em si, incentiva a matança. Eu sempre brinquei de soldado e polícia e nunca matei um pardal na vida.

E aí vai uma leitura interessante: a história do cara que criou a AK-47.



Mikhail Kalashnikov, criador do mais famoso fuzil do mundo, vive afastado em um paraíso aos pés dos Urais. Orgulhoso de sua criação, ele a justifica como uma necessidade para a defesa da pátria. E os milhões de mortes que a arma causou? São culpa da política, não do desenhista, argumenta Kalashnikov
Prostituição, capitalismo, socialismo....e Las Vegas

Alberta Alexis, em Brothel, pesquisou a vida de prostitutas em Las Vegas começando de uma pergunta simples: por que, desde 1986, quando foi introduzido o teste de HIV, não houve uma única prostituta infectada no local?

O estado de Nevada - onde fica Las Vegas - possui bordéis (brothels) legalizados. Um mercado dentro da lei, ao contrário de outros países.

E é aqui que chegamos na notícia de hoje do bom e velho Estadão, reproduzindo matéria da Newsweek: Prostituição com diploma.

Fala-se da China e da possível tentativa de se legalizar a prostituição no país.

A matéria, ao meu ver, contudo, comete alguns erros básicos.

i) Mercado, capitalismo e prostitutas - Prostitutas só existem em países capitalistas? Em determinado ponto da matéria, a jornalista, talvez por viés pessoal, crê que o desenvolvimento capitalista é que puxa a prostituição pelo fim dos empregos estatais. É verdade que isso é um fator de realocação da mão-de-obra. Mas a história fica manca: antes das reformas capitalistas não existiam prostitutas?

Parece que mesmo a ex-URSS não foi muito longe na tentativa de "corrigir" o "problema": The revolutionist government of Russia failed to conduct a sexual revolution in the country. The local governments were trying to legalize the refusal from family arrangements. One of the documents says: ?All women between 18-32 years of age are announced to be the state property from May 1, 1918. Every single girl of 18 years old should be registered in the bureau of free love, which is attached to the committee for charity. A registered girl has a right to choose a man between 19-50 years of age. Men between 19-50 years old have a right to choose a woman, even without the consent of the latter, in the interests of the state.¦ This was not a common practice, of course, nothing like that actually happened. It is just a very good example of the attitude of the new government to the issue of marriage.

Logo, não é exclusividade do mundo capitalista a existência de nossas amigas, as prostitutas. A questão é outra: mudanças de políticas econômicas - num mundo cheio de estatais como era a URSS (e é a China, Cuba e Coréia do Norte) - qualquer problema financeiro do Estado vai mesmo jogar gente na rua. Se as pessoas viram prostitutas ou padeiros, é decisão individual, dadas as restrições. O que nos leva ao segundo ponto:

ii) Prostituição e incentivos (e o falso moralismo) - O exemplo de Las Vegas nos mostra que mesmo a prostituição não é necessariamente uma fonte de doenças. Embora possamos imaginar que o leitor que procure uma prostituta possua um problema mental (esta é boa....:-) ), ou que uma prostituta tenha problemas mentais (ah se eu fosse tão poderoso para dizer que minhas preferências são "normais" enquanto a dos outros....), o fato é que há prostitutas e prostitutas.

Se há um papel para o Estado, talvez seja o de regulamentar a profissão. Mesmo esta regulamentação pode ser feita de maneira estúpida ou não. Afinal, você pode criar uma lei simples (pense nos 10 Mandamentos: não matar, não roubar...) ou uma complicada (pense no contrário: não roubar, exceto em casos de "necessidade social, definido por lei complementar n.12348/03, parágrafos 34-6, etc).

Não necessariamente o governo comunista da China provará que a regulamentação é a melhor solução. Há de se conhecer a regulamentação de Las Vegas e a da China.

Não minto. Tô quase comprando o e-book da Alexis. Na UCLA tinha sempre algum tarado que pegava este livro da estante e o lia em alguma mesa pois nunca estava emprestado, mas também nunca estava no seu lugar da estante. Algum tarado...mais tarado do que eu?

A agenda positiva da prostituição está aí: como regulamentar a profissão de forma mais afinada com o mercado (concorrência), mas com capital "físico" (literalmente) isento de doenças? Moçada, eu vou para Las Vegas....:-)