sábado, agosto 21, 2004

Comida de pobre hoje, comida chique amanhã

Todo brasileiro conhece a história da feijoada. A tal comida da senzala que hoje é mais comum na mesa do rico brasileiro do que do pobre.

Mas quantos deles já pararam para pensar, entre uma fofoca "socialite" e outra que o tal fondue era comida de suíço pobretão?

Mauricinhos e Patricinhas (ou, como em Portugal: "Betos e Betas"), cuidado. Vocês estão comendo comida de mendigo! :D
Monografias: o bom exemplo do Davi

Acabo de receber, via e-mail, a monografia do Davi (o mesmo aluno do Leo que sempre passa por aqui no blog e nos ajuda com uma coisa e outra). É bacana isto. Meus orientandos sempre se esquecem de me enviar suas monografias (no prazo), mas os orientandos dos outros sempre me dão esta alegria.

A monografia do Davi tem algo que gosto muito: levantamento de dados para períodos históricos antigos (vamos lá, 1872 não é algo tão recente, certo?). Deve ter dado muito trabalho mas, pelo que vi, a comunidade acadêmica agradece.

Agora uma palavrinha para os "terroristas" e "aterrorizados" que escutam mas não ouvem bem as palavras.

A monografia do Davi é original? É. Ele inventou alguma técnica nova? Não. Inventou teoria nova? Não. Usou dados novos? Não. É uma simples "resenha da literatura"? Óbvio que não. Deu trabalho? Deu. O que ele fez afinal?

Aí é que está sua originalidade. Fez algo que ninguém havia feito ainda com os dados do censo de 1872: calculou rendas per capita para o RS. E, mais ainda, fez uma correlação simples entre uma medida de escravidão e riqueza (neste ponto eu achei que ele falou pouco e poderia, certamente, ter desenvolvido mais o argumento, mas, vamos lá, ele não era meu orientando...).

É original para mim e, conforme a classificação do livro de TPE do Duilio Berni (olha o Duilio de novo aqui), ele não "criou interpretações ou modelos". Apenas usou os que tinha.

Davi, parabéns. Além de uma bela monografia, ainda me deu a chance de mostrar aos incautos e desavisados a luz no fim do túnel. Claro que segue a luz quem quer. Quem não quer, senta, chora ou fica emburrado.

Sucesso, Davi!
Sábias palavras

Alguns bons pensamentos na coluna do Thomas Sowell: Of all ignorance, the ignorance of the educated is the most dangerous. Not only are educated people likely to have more influence, they are the last people to suspect that they don't know what they are talking about when they go outside their narrow fields.

Eu não teria escrito melhor...
Se Taiwan fosse invadida pela China, a economia da Nicarágua sofreria um forte impacto?

Depende. Se o setor têxtil da Nicarágua for importante no país, a resposta é: sim. Por que? Leia aqui.
Sim, mr. Lee: seu omelete está mais caro a partir de hoje

Lei da oferta e da demanda: funciona? Alguns alunos acham que a simplificação (método científico, cf. Popper, Kuhn, etc) é algo que complica a vida. O início do curso tem destas coisas e a gente tem de desfazer vários preconceitos.

Esta matéria mostra que a lei da oferta e da demanda, por exemplo, é algo universal, seja você um brasileiro ou um japonês, pobre ou rico, preto ou branco, católico ou muçulmano.

Na verdade, a matéria não é tão universal assim, mas eu a acho extremamente útil para alunos em início de curso. Por que? Por algumas poucas razões. 1) Ela mostra que proibições de trocas de um bem aumentam seu preço; 2) Ela mostra que este aumento pode ou não ser totalmente repassado para os consumidores o que depende, obviamente, da oferta e da demanda e de suas respectivas elasticidades; 3) Isto tudo ocorre em Cingapura (Singapore), independente de se o cidadão é pobre ou rico (e se o empresário é macro ou microempresário). Obviamente (3) e (2) têm uma relação forte, se você já sabe o que são elasticidades.

Pronto. Agora, o ponto interessante é: se eu soubesse quais os valores da elasticidade-preço da demanda por ovos, sob critérios de medição precisos, eu poderia prever o que aconteceria? A resposta é: sim, desde que você tenha cautela no que chama de "critérios de medição precisos". Vejamos um exemplo simples.

A função demanda de um bem é, normalmente, algo que depende de vários fatores. Mas alguns deles são mais fortes (em termos de impacto), segundo a teoria econômica, não segundo a estatística. São eles: o preço do próprio bem, a renda dos indivíduos e, ocasionalmente, o preço de bens complementares e substitutos. No caso dos ovos, estes dois últimos itens poderiam ser o preço do arroz (supondo que os consumidores gostem de consumir ovos e arroz em conjunto) e o preço do queijo de soja (suponho, para fins didáticos, que os habitantes deste país minúsculo tenham este padrão de comportamento: quando o preço do ovo aumenta, eles trocam ovo por queijo de soja, mas não necessariamente o contrário).

Ok, isto tudo é mais facilmente visto como: Q = Q(P, Pc, Ps, Y), onde Q = quantidade demandada de ovos, P = preço dos ovos, Pc = preço do arroz, Ps = preço do queijo de soja, Y = renda dos consumidores.

Agora, como sei que não sou Deus, provavelmente posso estar esquecendo de algo importante. Veja, Deus pode não saber o que é este "algo importante", mas ele é suficientemente esperto para saber que não é dono da verdade ou, pelo menos, que também pode se esquecer de alguma variável. Enfim, isto significa que outros fatores podem ser igualmente não-importantes. Vamos chamá-lo de ruído (e).

Então temos: Q = Q(P, Pc, Ps, Y) + e.

Bem, você perguntará (se ainda consegue ler algo): e daí?

Daí que isto serve para ser trabalhado na prática. Posso consultar alguns estudos e constatar que os economistas usem duas ou três formas funcionais diferentes para a função Q(P, Pc, Ps, Y). Por exemplo, o excelente "Economics and consumer behavior" de Angus Deaton & John Muellbauer (um clássico da área e excelente para se aprender sobre a teoria/prática das funções de demanda, nos fornece a seguinte especificação:

ln(Q) = alfa + beta0*(ln(Y)) + beta1*(ln(P)) + beta2*(ln(Pc)) + beta3*(ln(Ps)) + e

Uau! Por que? Bem, porque esta é uma forma funcional que respeita as propriedades estabelecidas pela teoria econômica do consumidor (desde 1776 tornando sua vida mais interessante, desde que você não seja aluno).

Agora, para que serve esta forma funcional específica? Se o ruído "e" for uma variável aleatória, então a ele se associa uma distribuição de probabilidade. Normalmente dizemos que o ruído tem uma distribuição normal com uma média e uma variância constantes. Isto é necessário para que se possa estimar os valores de alfa, beta0, beta1, beta2 e beta3.

Observe, leitor, que eu não disse como você vai estimar isto. Aí sim, entra a estatística. A teoria econômica em conjunto com a estatística te dá a econometria que é parte do grande conjunto dos métodos quantitativos em economia.

A estimação de nossa relação funcional aí em cima usa logaritmos, o que ajuda em um bocado de coisas na vida de alguém que goste de economia. Só para te dar um exemplo simples, vamos repetir a equação que será estimada:

ln(Q) = alfa + beta0*(ln(Y)) + beta1*(ln(P)) + beta2*(ln(Pc)) + beta3*(ln(Ps)) + e

Tomemos a derivada parcial d(ln(Q))/d(ln(P)).

d(ln(Q))/d(ln(P)) = beta1.

Pensando em termos de cálculo, sabemos que d(ln(X))/dX = 1/X (a regra da derivação de ln(X)). Podemos pensar em termos de diferenciais e reordenar os termos: dX/X = d(ln(X)). Isto pode ser traduzido em termos de Q e P acima. Teremos:

[dQ/Q] / [dP/P] = beta1.

O numerador mostra o quanto Q varia em relação a um determinado valor de Q (pode ser um ponto inicial ou uma média de dois pontos), mutatis mutandis para o denominador.

Ora, você - que ainda está comigo - dirá: isto quer dizer que se Q é função de P, beta1 me dá algo interessante. Ele mede o quanto varia Q quando P varia. Melhor ainda, pensando em termos percentuais, se P varia em x%, em quantos percentuais Q varia?

A resposta é: depende do valor de beta1. Suponha que beta1 seja menor que -1 (ou maior que o módulo de 1). Neste caso, sabemos que se, por exemplo, P aumenta em 10% (dP/P = 0.1), então Q diminuirá em mais que 10%.

Isto é importante? Bem, volte ao preço dos ovos e se imagine no lugar do vendedor de ovos, o cara que depende da venda mensal de ovos para sustentar sua mulher, a faculdade de sua filha e os remédios de sua mãe doente, sem falar na ajuda mensal para seu pai.

A partir daqui você poderia querer saber mais detalhes. Coisas como: como é que eu estimo beta1? Que tipo de dados eu tenho de ter? Como é feito isto na prática? Há problemas neste tipo de estimação? Como é que se corrigem os eventuais problemas? Ou não há correção? Quantos métodos diferentes existem para se estimar a equação logaritmica acima?

Ok, isto é assunto para uma aula de econometria, não para um post que já está bem grande. Mas deixe-me adiantar algo. Voltando à nossa forma funcional específica:

ln(Q) = alfa + beta0*(ln(Y)) + beta1*(ln(P)) + beta2*(ln(Pc)) + beta3*(ln(Ps)) + e

A estatística será usada para se estimar os parâmetros alfa, beta0, beta, beta2. Em outras palavras, é necessário que tenhamos valores (muitos) para Q, Y, P, Pc e Ps.

Mas note que o fato de eu conseguir um bom resultado na estimação acima não me garante que eu tenha alcançado algum tipo de verdade absoluta. Para começar, eu posso ter esquecido alguém na equação acima (erro de especificação). Segundo, eu posso até achar bons resultados, mas uma coisa é significância estatística, outra é significância econômica. A arte da econometria consiste em saber pesar as duas coisas de forma talentosa, i.e., você deve conhecer o estado da arte da econometria e da teoria econômica. Caso contrário, as chances de fazer bobagem aumentam.

Só para exemplificar o erro de especificação, alguém poderia dizer: "professor, eu acho que, para Cingapura, pelo que estudo há anos sobre este país, é importante que se considere a diferença religiosa entre consumidores no consumo de ovo" (vá, lá, leitor, é só um exemplo...).

Neste caso, nossa equação mereceria ser reescrita. A forma mais simples é:

ln(Q) = alfa + beta0*(ln(Y)) + beta1*(ln(P)) + beta2*(ln(Pc)) + beta3*(ln(Ps)) + beta4*D + e

onde D = 1 se o sujeito é muçulmano e D = 0, caso contrário.

Note que isto é possível porque meu aluno coletou os dados numa amostragem em que as medições foram feitas por consumidores, em um mesmo período de tempo. Tendo coletado a religião de cada um, é possível fazer uma nova estimação de nossa nova equação.

Se beta4 se mostrar estatisticamente significativo, isto é um sinal de que devemos considerar um estudo mais profundo da hipótese religiosa que meu aluno adiantou para a sociedade de Cingapura. Mas também é um sinal de que pode haver um erro. Pode ser que esta variável binária D capte outra diferença entre os consumidores.

Humm...o problema é complicado, não? Claro que é. E você acha que aprenderá a mexer com tudo isto em um único semestre? Impossível. Daí a necessidade de mais tempo de horas-aula, sem falar no seu estudo individual.

Ninguém disse que seria fácil, certo?

sexta-feira, agosto 20, 2004

VARIG: um problema para o meu bolso? Com o tempo para resposta, Carlos Lessa e amigos

Cândido Prunes tem uma visão diferente sobre a situação da VARIG. Não é diferente da minha, mas sim da de muitos brasileiros.

Comentários?
Mensagens que deixam a gente feliz

A mensagem abaixo, do Duilio, faz a gente ter esperança no meio acadêmico: existe vida inteligente na faculdade de economia (ainda)! O único sinal de distração desta inteligência é o Duilio me elogiar na mensagem abaixo. O resto é para se assinar embaixo!

Caro Cláudio:
Não sei se consegui passar-te a mensagem que tentei enviar como comentário a teu blog do dia do economista. Há uma coisa muito importante, um reparo que preciso fazer: a omissão do Helton da autoria do capítulo. Descobrindo tua comunidade, percebi que talvez possamos informá-la de que há um problema editorial que omitiu o nome dele. O texto abaixo, com mudanças menores, foi o que tentei enviar no blog. Como não creio ter tido sucesso, tomo a liberdade de sugerir-te dar conhecimento desta situação a teus leitores.

Há muitos anos, ingresso esporadicamente em teus sites. Para minha agradabilíssima surpresa, vi-me citado recentemente, naveguei mais e vi a comunidade que gravita em torno de ti: LeoMon e outros monstros sagrados. Nada me faz mais feliz. E falar bem da Carmen Gelinski e seu capítulo, mais ainda. E um erro de edição no livro impediu que o nome de Helton Ricardo Ouriques (como a Carmen, eu próprio à época, e outros autores do livro de TPE que organizei, da UFSC) aparecesse como co-autor do capítulo de que falas. O capítulo citado intitula-se "Como fazer monografias", sendo de minha autoria até que começa a seção intitulada "Como escolher o tema da pesquisa econômica", quando a autoria é de Helton Ricardo Ouriques. Por problemas (que problemas!) editoriais, foi omitido o nome dele (embora felizmente esteja contemplado na lista dos autores do livro). E eu disse, quando pensava que apenas a primeira parte é que seria de um capítulo de minha autoria (e obviamente esta parte, do Helton, seria um capítulo de sua/dele autoria): "Esses conteúdos originam-se de lições recebidas pelo autor [que era apenas myself] na University of Reading. Este pede o beneplácito de se entender como homenagem a Reading o que pessoas ranzinzas declarariam como plágio." Parece que também ingressei, de um jeito que não esperava, na era pós-moderna.

Abraço do
D.

______________________________________________
Prof. Duilio de Avila Berni, D.Phil.
Departamento de Economia
Pontificia Universidade Catolica do Rio Grande do Sul
Brasil e a guerra

Quem é que iria imaginar que durante o governo Lula a Embraer e os franceses iriam fornecer insumos para a tal (vamos usar os termos dos militontos): "máquina de guerra norte-americana" (ou "complexo industrial-militar estadunidense")?

Estou surpreso.
Xiitas desrespeitam o Islã...e jogam a culpa nos EUA

Para quem acredita em realidade com "mocinhos (normalmente patinhos feios) e bandidos (normalmente quem tem dinheiro e faz o que a gente queria fazer)", aí vai uma notícia que pode gerar dinheiro para psicólogos e psiquiatras: xiitas usam mesquitas como "escudos morais" numa luta que nada tem a ver com algum suposto Alá/Deus.

Bacana, né?

Clérigo ordena retirada de rebeldes de mesquita
No entanto, Al Sadr se recusa a desmantelar milícia, ao afirmar que ela pertencia ao messias Imã
Pirataria faz bem??

Um artigo muito estranho, aqui. Vale a pena ler e tentar descobrir se o raciocínio do autor faz sentido.
Vinte vivas para Reinaldo Azevedo

Tem gente que se vende como "republicano" para estudantes desavisados. Não é o caso de Reinaldo Azevedo. Confira seu último texto aqui.
Programação para 6,7 e 8 de setembro...em Araraquara

Dois dos membros deste blog estarão presentes na Conferência Internacional - “Novas Perspectivas sobre História Econômica do Brasil”, em 6, 7 e 8 de setembro de 2004.


Coordenação: Maria Lúcia Lamounier (Unesp-Araraquara), William Summerhill (University of California, Los Angeles) e Renato Colistete (Unesp-Araraquara)

PROGRAMA PRELIMINAR


DIA 6 DE SETEMBRO

18:00 Chegada/Recepção dos participantes

20:00 Abertura dos trabalhos
Jantar
DIA 7 DE SETEMBRO

8:30-10:00 horas
Carlos de Almeida Prado Bacellar (Departamento de História, USP)
“Família e lavoura de subsistência em São Paulo, séculos XVIII e XIX”

Maria Lúcia Lamounier (Departamento de Economia, Unesp)
“Agricultura e mercado de trabalho: trabalhadores brasileiros nas fazendas de café e na construção de ferrovias em São Paulo, 1850-1890”

José Flávio Motta (Faculdade de Economia e Adminstração, USP)
“Posse de cativos e família escrava no sudeste brasileiro, século XIX”

10:00-10:30 horas Café

10:30-12:00 horas

Christian Brannstrom (Department of Geography, California State University, Long Beach)
“The environment in Brazil’s industrialisation and urbanization, 1900-1960: the cases of wood fuel and logging trades”

Tamás Szmrecsányi (Instituto de Geociências, Unicamp) e Pedro Ramos (Instituto de Economia, Unicamp)
“Agroindústria canavieira e política econômica no século XX”

Maria Alice Rosa Ribeiro (Departamento de Economia, Unesp)
“Ciência, tecnologia e indústria farmacêutica, 1890-1950”

14:00-15:30 horas

Ame Bergés (Latin American Centre, Oxford University) and Rosemary Thorp (St Antonys College, University of Oxford)
“Brazil and Latin America 1870-1973: growth, distribution and institutions”

Gail D. Triner (History Department, Rutgers University) and Kirsten Wandschneider (Department of Economics, Middlebury College)
“Globalized financial markets and early republican Brazil”

Colin Lewis (Department of Economic History, LSE)
“Doing Business in Brazil: some reflections on the implications of the neo-institutional literature for business history”

15:30-16:00 Café

16:00-17:30 horas

Renato Colistete (Departmento de Economia, Unesp)
“Was import-substituting industrialisation in Brazil a failure? Evidence from the technological structure of exports, 1945-1973”

Eduardo da Motta e Albuquerque (Cedeplar-UFMG)
“Immature systems of innovation: introductory notes about a comparison between South Africa, India, Mexico and Brazil based on science and technology staatistics (1980-2001)”

Luis Bértola (Facultad de Ciencias Sociales, Universidad de la Republica Montevideo) and Gabriel Porcile (Departamento de Economia, UFPR)
“Convergence, Trade and Industrial Policy: Brazil in the region and in the International Economy”

DIA 8 DE SETEMBRO

8:30-10:00 horas

Joe Ryan (Department of History, UCLA)
“Credit Where Credit in Due: Lending and Borrowing in Rio de Janeiro, 1820-1900”

André Villela (Escola de Pós-Graduação em Economia, FGV-Rio de Janeiro)
“Um difícil equilíbrio: legislação bancária e instabilidade financeira no II Reinado”

Anne Hanley (History Department, Northern Illinois University)
“Profits and capital: patterns of business finance in São Paulo, Brazil, 1880-1920”

10:00-10:30 Café

10:30-12:00 horas

Amaury Patrick Gremaud (Faculdade de Economia e Adminstração, USP-Ribeirão Preto)
“Pensamento econômico e política econômica (1840-1930)”
Roquinaldo Ferreira (Doutor em História, University of California)
“Notas preliminares sobre o movimento do Porto de Luanda na transição do tráfico de escravos para o “Comércio Legítimo” em Angola (1845-1860)”

Claudio Shikida (IBMEC-MG)
“Path dependence e colonização: um teste econométrico”

14:00-15:30 horas

Renato Marcondes (Faculdade de Economia e Adminstração, USP-Ribeirão Preto)
“Desigualdades regionais no Brasil: economia e população escrava na década de 1870”

Leonardo M. Monastério (Departamento de Economia, Universidade Federal de Pelotas)
“Was Cardoso wrong? Economics of slavery in Southern Brazil”

William Summerhill (Department of History, UCLA)
“Productivity in the Paraiba Valley: Assessing agricultural efficiency in 19th-century Brazil”

15:30-16:00 horas Encerramento

quinta-feira, agosto 19, 2004

Contra tudo e contra todos

Pode uma mulher de sucesso ser fotografada com belos vestidos pela VOGUE sem receber críticas de homens? Pode. E de mulheres? Bem, alguns dirão, mulheres são invejosas.

Eu até acredito nisto. Mas e se a mulher de sucesso for uma política espanhola? Neste caso, parece que os tradicionais conservadores de direita e de esquerda não ficam de bom humor. Não é foto nua ou de biquini, veja bem. Isto me faz pensar: feministas não gostam de mulheres de sucesso?
Até onde vai o "pacifismo" alemão?

Até a próxima ameaça de invasão? Não se prevê invasões russas na europa unificada. Nem invasões americanas. Sobram os terroristas. Mas agora os americanos sairam de lá.

A questão interessante é: o orçamento militar/segurança da Alemanha continuará o mesmo a partir deste anúncio?

Eu aposto em "não".
A rica discussão liberal/libertária

Ocorre, por estes dias, o encontro da Mont Pelerin Society, em Utah. Detalhes? Aqui.
Os novos laranjas do governo (FENAJ filiado à CUT) e a censura

Mais um excelente texto do Reinaldo Azevedo sobre a censura está aqui. Enquanto isto, no "O Globo", L.F. Verissimo se recusa a examinar seriamente o assunto, tentando ver o lado engraçado do projeto com sua última crônica. Na época de FHC, Verissimo era mais crítico. De uns tempos para cá, está, creio, excessivamente calmo.

Por que falo do LFV? Porque de vez em quando ele comete atentados sobre a teoria econômica e o COFECON ainda não o proibiu de falar sobre o que não entende, talvez por não achar adequado ter o monopólio das opiniões sobre economia do Brasil, mesmo que LFV não tenha feito um semestre do curso em sua vida.

Enquanto a FENAJ-CUT prossegue com este projeto bizarro, até órgãos corporativistas como os CORECONs e o COFECON se recusam a impor sua autoridade por algum tipo de lei.

O diálogo com alguém que entende mais do que eu sobre um assunto ainda é o melhor remédio para a ignorância, certo?

p.s. já posso até ver o raciocínio: - Ah, Claudio, deixe de ser bobo. E se um charlatão tenta me enganar? Se sei menos do que ele, ele vai me enganar. Logo, deveríamos proibí-lo de falar!

Se você pensa assim, vou propor aos diretores das faculdades de economia que calem a boca de todos os alunos durante sua estadia nas faculdades. Afinal, eles sabem menos do que eu e, perguntas, quaisquer perguntas, podem estar sendo feitas para me enganar.

Quem decidirá o que é certo? A FENAJ?

É......os candidatos da censura contam com seu voto. Não seja enganado... :)
A globalização começou quando?

Há pelo menos uns 25 anos (década dos 70). Por que digo isto? Porque as meninas do jardim/colégio da minha época, em algum momento, passaram a usar estojos, réguas ou qualquer outra coisa com "Hello Kitty", legítima invenção japonesa.

Qual o efeito da famosa gatinha sobre a economia brasileira? O mesmo de sempre: achou consumidoras ávidas e, que eu saiba, nenhum brasileiro perdeu emprego por causa da bichana e, se perdeu, provavelmente os ambientalistas disseram que "Hello Kitty" era espécie em extinção e, assim...

Mas é um interessante exemplo de como alguns produtos não desaparecem do mercado...

quarta-feira, agosto 18, 2004

Cadê a curva de custo total em formato de "U", professor?

O aluno de economia, mesmo o dos cursos iniciais (os meus, do semestre passado, por exemplo), sempre se deparam com coisas como C(y) = 500 + 200*y (e, claro, C(y)/y = 500/y + 200, que é a melhor parte!!). Os de administração se deparam com termos como custos de estocagem e de encomendas em alguns de seus livros (quais?).

E poucos - em ambos os cursos - percebem que estão falando sobre as mesmas coisas.

Desta vez não vou dar dicas. Vou deixar pros alunos interessados a minha constatação para que busquem, por si mesmos, as ligações (que, caramba, são óbvias, já que ambos estudam os mercados.

Em breve, com o Ari, eu entro em detalhes, se tudo correr conforme previsto.
Interpretações da Grande Depressão

Se eu fosse um vegetal, gostaria de ser um brócolis.
Se eu fosse uma um inseto, gostaria de ser, sei lá, uma mosca.
Mas, se eu fosse um heterodoxo, eu seria um economista austríaco. Ok, eu não sou religioso em economia e, por isso, aí vai um texto no qual o prof. Ubiratan Iorio retoma um velho fenômeno, mas tenta explicá-lo sob esta ótica.

O estilo do texto e o espaço disponível não permitiram ao autor uma boa resenha das duas hipóteses mais famosas: a keynesiana e a de Milton Friedman que, por sinal, hoje em dia, é a mais aceita. Mas a exposição da teoria austríaca - goste-se dela ou não - é bem elucidativa. Se você quer conhecer um pouco mais, dê uma olhada.
Previsão óbvia: mais gente querendo fazer Medicina na Ásia nos próximos anos

Fazer previsões óbvias é fácil. Difícil é comprová-las. Agora, veja o título da notícia: UOB, Japan Asia Investment set up biomedical venture capital fund.

Se eu fosse um estudante japonês, claro, consideraria vários fatores para tomar minha decisão sobre meu futuro. Mas esta notícia (junto a outras similares) poderiam me fazer pensar na possibilidade de mexer com remédios ou ficar mais tempo no laboratório nos futuros dias de minha vida...

Eu cresci ouvindo dizer que o negócio era "eletrônica" e "computadores". Confesso que não previa este avanço da biociência, genética, etc. Mas, devo dizer, foi uma supresa agradável. Mesmo que eu nunca tenha cogitado fazer Medicina ou áreas afins...

terça-feira, agosto 17, 2004

Por que você (não) deveria comprar dinares iraquianos?

Olhe a taxa de câmbio do novo Banco Central iraquiano e compare com o que acontece nas ruas, segundo a Wired. Depois responda: é fácil usar a política monetária como instrumento de combate à inflação?

Se não gostou da pergunta, tente esta: expectativas sobre o futuro de um país afetam a taxa de câmbio?
Contabilidade não é tão chato assim!

Eu sempre achei contabilidade importante. Demografia também. E desenho geométrico (avançado). Mas sempre achei tudo isto muito chato, particularmente contabilidade.

Mas, após encontrar esta tese de doutorado em contabilidade (USP), eu passei a achar contabilidade muito interessante.

Cuidado, o link leva a um arquivo em pdf bem grandinho. Mas vale a pena.
Quanto custa ter justiça neste país?

Gilson me enviou este link (que também está em seu blog pessoal).

Lá você vê que, com cem mil reais e uma equipe de técnicos competentes você descobre que outros gastos podem estar sendo dispendiosamente caros para "we, the people" ou, melhor dizendo, "we, the taxpayers"...
Mais importante do que Atenas ou do que as eleições nos EUA: dois congressos de história econômica

Notícia muito mais importante do que Atenas ou do que o último discurso do Lula é a de que dois dos webmasters deste blog tiveram seus artigos selecionados para dois encontros! O primeiro, da ABPHE, em Niterói e o segundo em Araraquara, na UNESP. Ambos são congressos de história econômica e, infelizmente, ambos acontecerão no mesmo período!

Isto significa que ou os organizadores de algum deles nos ajudam, ou teremos de optar por apenas um. De qualquer forma, estas são dificuldades logísticas normais no meio acadêmico. Quem lê isto aqui acha que congresso de economia é igual festa: sempre que você não pode ir, tem muitas. Vamos ver se é possível ir aos dois.

Ah? O que vou apresentar lá? Em Araraquara selecionaram um artigo derivado da minha tese de doutorado que testa alguns condicionantes institucionais sobre a evolução do tamanho do governo. No Rio, o pessoal aceitou meu artigo (mais embrionário) que aplica uma análise não-paramétrica (DEA) a alguns dados históricos mais antigos. Quanto ao Leo, não sei sobre todos os artigos, mas o do Rio de Janeiro tem um nome delicioso: FHC errou? A economia da escravidão no Brasil Meridional. Mas o melhor mesmo é ver como escreveram o nome dele errado desta vez: Leonardo Mosteiro Monasterio!

Afinal, Leonardo está num mosteiro ou num monasterio (sem acento)? :)
Tyler Cowen se pergunta sobre se realmente há algum efeito da educação sobre o crescimento econômico agregado

Interessante questão do prof. Cowen sobre a causalidade que já é meio senso comum no meio acadêmico. Alunos preguiçosos poderão pensar em usar isto para pedirem aos papais que troquem a exigência do diploma por uma prancha de surf ou algo assim. Será?

A discussão está aqui e não é perda de tempo pensar sobre ela.

Na verdade, há uma boa discussão sobre a eterna tensão entre prática e teoria que torna a Economia, na verdade, em uma "art-science" em minha desprezada - mas importante - opinião (isto sim, é humildade...). Resultados econométricos são mostrados para tentar não-falsear hipóteses. A propósito, seja humilde, mané. Não falsear é menos arrogante do que provar, a não ser que você fale com Deus à noite ou tenha visões de modelos econométricos pan-divinos.

E aonde isto nos leva? Simples. A ciência caminha conforme proposições são contestadas não apenas por bases de dados corretamente trabalhadas sob o estado da arte estatística mas também por novos insights teóricos derivados do próprio jogo teórico abstrato bem como da mistura de ambos.

Não, não. Ninguém nunca disse que era fácil. Você é que, por algum motivo, colocou na cabeça que tinha de ser.

Por isto a pesquisa econômica não é algo trivial. Não é somente a dificuldade em rodar os dados no último software de econometria que vai te incomodar. É a própria sensação de que muita coisa deverá ser ignorada na análise inicial, repensada na segunda fase e, pior ainda, considerada (ou não) na fase final.

Educação é algo bom para o crescimento? Sei lá (*). Agora, o que é educação? Uma definição bem rasteira poderia ser: é um processo doloroso e trabalhoso de descobrir como a realidade funciona e como alterá-la ou como pensar sobre ela. Como é que você mede isto? Éééééé.....

(*) Por via das dúvidas, eu estudo. Você deveria pensar seriamente sobre isto.
Por que o Ari é mais rico do que eu?

Como bom economista, no princípio de uma investigação, eu não saio por aí perguntando ao meu "átomo" (o (in)digníssimo ser humano) sobre o que ele faz. A bem da verdade, economistas até tentam descobrir isto (e.g. censos, pesquisas, etc). Economistas e, claro, outros cientistas sociais.

Então, você vai me perguntar, como é que você sabe que o Ari é mais rico? Não, eu não vi a declaração do imposto de renda dele através de um amigo petista que trabalha na Receita Federal e, claro, deu-me esta informação para transformá-lo no Ibsen Pinheiro de amanhã. Nada disto.

É que a evidência empírica de que o número de bebês por casais tem diminuído nos últimos anos é um indicador do aumento do valor dos mesmos. A explicação está no "Idea Shop" (outro link fixo ao lado...já há bastante tempo), especificamente aqui.

Tudo o mais constante, o Ari é mais rico do que eu (*).

(*) Ok, ok. Não devemos desconsiderar o fato de que ele é casado, tem mulher trabalhando, seu financiamento de imóvel é diferente do meu, etc, etc, etc. Não vá sair por aí dizendo isto. Ele pode achar que eu realmente penso que ele é mais rico do que eu (e é mesmo, he he he)

domingo, agosto 15, 2004

Grandes questões

Você é um destes interessados em grandes questões mas que não sabe por onde começar a pesquisar? Embora tenha feito o curso de Economia, jamais parou para conhecer melhor autores importantes da área?

Não, você não vai encontrar uma bandeja de prata, aqui, com todos os nomes importantes. Até porque eu não sou tão sábio assim.

Mas há textos muito interessantes no site do encontro da Mont Pelerin Society de 2004 na qual alguns amigos meus estarão presentes.

Além dos meus amigos, há gente importante como Arnold Harberger, Richard Epstein, Jonathan Adler e James Buchanan.

Aproveite.
Existe sempre um lugar ao sol?

Mulheres engravidam, ocasionalmente, certo? Algumas ficam muito neuradas sobre sua beleza pois não é muito fácil ficar "redondinha". "Ok, a gente sabe disto tudo, Cláudio" - você dirá - "qual é a grande novidade então?"

A novidade é que, em Hong Kong, este ano, mulheres que estejam com pelo menos quatro meses de gravidez podem concorrer no Hong Kong's Most Beautiful Expectant Mother.

Mulheres grávidas também são consumidoras e, como se sabe, há, por parte do lado da oferta, uma grande preocupação em atender seus impulsos de vaidade. Há 40 anos atrás, as roupas de grávidas eram pensadas em termos de beleza? Nem tanto. Na medida em que a mentalidade de mercado se ampliou, contudo, isto mudou. E o concurso de beleza em Hong Kong talvez seja a mais bela manifestação disto.

De antemão, parabéns a todas as concorrentes.
O governo brasileiro pós-FHC continua tentando censurar a imprensa?

Sim. E não sou eu quem diz isso. É a própria patota. Basta ler a coluna do Gaspari de hoje. Os textos do Reinaldo Azevedo na Primeira Leitura ou os de Villas-Bôas Corrêa, para contar apenas os que gosto muito (sem falar do Daniel Piza, Janer Cristaldo e, claro, o favorito do Gilson, o Alberto Dines) mostram que nem toda a imprensa vive de salários indiretos obtidos em cargos de confiança por amizades com políticos (de todos os espectros ideológicos).

Você acha que isto não tem nada a ver com economia? Bem, então passe os olhos pelos títulos de artigos abaixo:

1. Media Bias
2. Who owns the media

Por enquanto é o que tenho para você. Mas o mundo no "google" é bem mais amplo do que isto, certo?