Heterodoxos, ortodoxos, homotéticos, obnoxious
Uma das coisas mais legais que já ouvi foi o professor Peter Boettke, um economista da linha austríaca, dizer (traduzindo mais ou menos...):
- Não importa o que você faça, mas faça-o com atitude (determinação)!
O contexto? Bem, eu estava no seminário de verão de Economia Austríaca de
2002.
Agora, vamos esclarecer alguns pontos:
1. Eu nunca assinei nada ao nascer, compromentendo-me a ser heterodoxo, ortodoxo ou qualquer outro termo greco-latino (ou só grego...). Como dizia, acho, Mário de Andrade,
eu sou trezentos (não confundam com um conhecido amalucado demógrafo bom de cachaça e gente boa aqui de Minas).
2. Sacanear o outro - Ok. Não sendo nada, não estou afirmando que sou um
sem rumo. Quem me conhece sabe bem do que gosto em Teoria Econômica. É óbvio que faço piadinhas ocasionais sobre linhas alternativas que acho ruins. Contudo, uma coisa é fazer piada, outra, completamente diferente, é ser arrogante na própria posição.
3. Quem é mais chato? - Minha experiência pessoal é clara: professores heterodoxos (ou supostamente heterodoxos) não só pregavam como pastores, como também acusavam todo o resto de ser ruim, não ser nada, etc. Tem gente que diz que matemática em economia é ideologia! Isso é patético e levei anos para descobrir isso. Tem ortodoxo arrogante? Meu amigo Ari diz que sim. Eu confesso que nunca vi um, mas não sou imbecil de achar que não existem.
4. Hummm - Pois é. Eu gosto de Public Choice, Nova Economia Institucional economia novo-clássica, história econômica, econometria...e economia austríaca. Isso me faz um heterodoxo?
a) Bem, eu gosto de história econômica quando ela é feita de um modo que muito paleo-marxista não aceita (os não-paleos eu não sei...). Então, para eles, sou heterodoxo, já que no Brasil é quase pecado pensar a história econômica de forma
não-dialética.
b) Já para meus amigos novo-clássicos, sou heterodoxo, pois acho Nova Economia Institucional algo razoável em muitos estudos aplicados.
c) Para meus amigos austríacos sou uma besta pois uso matemática quando estudo econometria ou economia novo-clássica, ou mesmo Public Choice.
d) Para o pessoal da Public Choice, sou um indeciso, pois admiro tanto a linha de pesquisa de Don Wittman ("mercado político funciona perfeitamente") como a de Buchanan (troque "funciona" por "não funciona" no parênteses anterior).
e) Para meus amigos econometristas, perco tempo demais lendo sobre a realidade, o que me torna um...ortodoxo? Heterodoxo? Sei lá...
5. Conclusão: Vamos seguir o prof. Boettke e fazer o que achamos. Departamentos de Economia nos quais pessoas se dedicam a destruir o trabalho alheio não crescem: murcham.
Adendo: Por que isto tudo? Porque ontem, na casa do Ari, discutimos (eu, ele, a Patrícia e o Marcus) sobre esta eterna questão para alguns economistas. Lembrei-me do meu amigo Valter que teima - incorretamente, na minha opinião - em dizer que um sujeito que sai de um mestrado em Economia para um doutorado em Estatística é um mau economista ao mesmo tempo em que defende que só matemática salva.
Ora, o sujeito que diz que matemática em Economia é ideologia está tão errado quanto o que diz que Economia é só matemática...
E obrigado ao Ari e à Patrícia, novamente, por aguentarem meu papo ruim mais uma vez...