Erros e acertos
Recebi esta mensagem de um amigo economista. Ele se lembra de algumas correções que promovi aqui. Uma vez o corrigido foi Luis Fernando Verissimo. Outra foi uma professora de Letras. Hoje é dia de Luis Nassif. Aguardem para daqui a pouco alguns comentários.
Abaixo o texto do Nassif. E, daqui a pouco, os comentários. Só esperem eu terminar umas fatias de desejada pizza.
LUÍS NASSIF
Os ciclos tecnológicos e a economia
Não conheço os trabalhos do norueguês Finn E. Kydland e do americano Edward C. Prescott, vencedores do Nobel de Economia.
As agências informam que eles receberam o prêmio pela contribuição ao desenvolvimento de novas teorias relativas aos ciclos e à política econômica, às flutuações cíclicas e suas conseqüências sobre as teorias econômicas.
Mais não disseram. Mas presumo que tenha algo a ver com as semelhanças entre o momento atual e o período mais comumente conhecido como República Velha -tema sobre o qual venho escrevendo nas últimas semanas.
A maneira como os fatos internacionais se interligam explica muito o que ocorreu tanto no início quanto no fim do século 20, nos períodos denominados liberal e neoliberal.
Nesses períodos, o mundo atravessara fase de grandes descobertas científicas, que evoluíram para inovações tecnológicas e o surgimento de novos setores na economia.
Os avanços provocam enorme liqüidez no mundo, e mudanças no sistema financeiro mundial, para reciclar esses ativos. É um movimento especulativo que se dá em torno de bolhas específicas, se esparrama para outros ativos e transborda a outros países. Em ambos os períodos, as bolhas surgem pela impossibilidade de estimar o potencial de crescimento das novas tecnologias. Criado o efeito manada, gera-se uma liqüidez endógena e a busca de ativos capazes de remunerar as expectativas crescentes dos investidores.
Esse movimento abre as defesas do sistema financeiro internacional, que passa a abrigar indiscriminadamente capitais sem pátria e sem nome, que migram para esses países centrais e, a partir daí, são distribuídos para os diversos ativos financiáveis, até a seus países de origem.
Provavelmente os dois economistas devem ter se concentrado apenas nos efeitos sobre os países centrais. No caso dos emergentes, essa enorme liqüidez, a possibilidade dos investidores locais se associarem a esses fundos, provoca mudanças semelhantes nos dois períodos.
No final do Império e início da República, há uma enorme expansão das companhias que se dedicam a explorar serviços públicos, especialmente devido ao novo papel assumido pelas cidades, com a urbanização acelerada. No final do século, são as privatizações.
Em ambos os casos, é necessário o livre fluxo de capitais, para permitir a maximização dos lucros dos investidores. Essa ideologia é espalhada a partir dos países centrais e se dissemina pelos emergentes. A volatilidade cambial acaba provocando uma apreciação do câmbio, com três efeitos. O primeiro, o de liqüidar boa parte das empresas brasileiras que tentavam substituir importações. O segundo, o de baratear a compra de bens de capital para os grupos maiores, ajudando a alavancar o período seguinte. O terceiro, um aumento substantivo do endividamento externo.
Há muito mais semelhanças nesses períodos. Até 1850, a Inglaterra aceitava capital de escravagistas. Até pouco tempo atrás, as legislações nacionais dos países centrais permitiam o livre fluxo de capitais, até de paraísos fiscais, impedindo uma diferenciação entre capital do crime organizado e de outras formas lícitas.
Em ambos os períodos, deve ter ocorrido um enorme fluxo de capital ilícito para os bancos internacionais. E um sem-número de operações suspeitas envolvendo os grandes bancos. A partir de um certo momento, ocorre uma depuração desses capitais, com os ingleses proibindo negócios com empresas que tivessem qualquer ligação com tráfico de escravos, e, agora, o enorme cerco ao dinheiro do narcoterrorismo.
Tudo reforça a sensação de que o país, dia a dia, se prepara para o grande salto similar, mas mais intenso, ao da Revolução de 30. Está tudo pronto para um reformador.
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