sábado, fevereiro 21, 2004

Viva a globalização

Se você é coreano, é duro pensar em um japonês. Afinal, foram anos de ocupação militar e o exército japonês não foi, como tantos outros, famoso por ser, digamos, um exército educado. Coreanos foram alfabetizados em japonês, numa tentativa de extirpar a cultura coreana da península.

Ok. Isto terminou em 1945. O mundo continua girando e um sujeito como eu curte ouvir Cho Yong Pil cantando "Torawa yo Pusan Han" e, claro, a versão japonesa (com Eisaku Ookawa, Miyuki Kawanaka ou outro bom intérprete). Mas há sempre aquele clima de inimizade no ar. Acho que semprer haverá.

Mas ele está menor agora. Após anos de abertura unilateral japonesa à cultura sul-coreana, agora os sul-coreanos podem ouvir Seiko Matsuda, Namie Amuro, SMAP ou coisas do gênero. Podem assistir até assistir uma apresentação, em território coreano, de sumô.

Alguns têm medo da cultura alheia. Como os antigos romanos, chamam "os outros que não nós" de "bárbaros". A gente sempre vê caras assim por aí.

Pessoalmente, saúdo a nova era de relações entre a Coréia do Sul e o Japão. No papel de consumidor, continuarei ouvindo Cho Yong Pil cantando em coreano e em japonês. Só que com mais prazer.
Aumentando o valor da propina

Quando morei em Porto Alegre, durante os anos de 2000-1, vi o partido do governo sofrer com denúncias de irregularidades na compra de sua sede municipal....justamente por envolvimento ilícito com o jogo do bicho.

Agora bem, eu não sou contra o jogo. Acho que é uma atividade econômica como outra qualquer. Aliás, Las Vegas é um exemplo de que é possível - apesar de sua origem ilegal - gerar riqueza legal para um país.

Então, leitor, pense: se você quer ganhar dinheiro com o jogo, e sua atividade se torna ilegal, dada a mesma probabilidade de ser preso, o valor da propina aumenta ou diminui?

Por que mantenho constante a probabilidade de prisão? Simples: o criminoso sabe que, com as instituições legais que o atual governo mantém (em relação aos anteriores), sua prisão é algo distante. Ou você acha que o jogo do bicho deixará de existir por causa de uma simples assinatura de um ser humano, mesmo que ele seja o presidente da república?

Moral não-econômica da história: "Se sou corrupto com um bicheiro, não é o fim dele que me torna honesto".

Moral econômica da história: "Se você quer diminuir o valor de uma propina, não proíba a existência de atividades econômicas".

Links:

A notícia em si: MP proíbe bingos e máquinas caça-níqueis no País - Terra - Governo Lula

sexta-feira, fevereiro 20, 2004

Mercado: com ou sem ONU

Como alguns brasileiros entraram na lista de pagamentos de Saddam Hussein, mesmo sob o embargo da ONU? Descubra nesta interessante matéria: The Saddam Oil Vouchers Affair.

Se alguém ainda acredita que, simplesmente, nascer em país com abundantes reservas de algum valioso recurso mineral é suficiente para se viver bem, esta é a chance de refletir um pouco mais sobre o tema.
Mais gente critica Verissimo

Não estou sozinho na crítica às imprecisões do cronista-que-queria-ser-economista. Há um advogado com um artigo bem similar ao meu.

Claro, como já falei: cada um tem o direito à livre expressão mas isso vale para a repreensão também. Falou imprecisões sobre economia, tem o direito de ser corrigido.

Não li cuidadosamente o artigo do advogado que cito acima, mas parece-me que o argumento não é tão diferente do meu. Bom saber que mais gente também leu David Ricardo...
A interessante diplomacia asiática

Enquanto a moçada fica discutindo o sexo dos anjos em muitos países, os diplomatas do Japão e da Coréia do Sul estão em ação.

Primeiramente, há esta notícia sobre o interessante acordo entre o Irã e o Japão.

E, claro, mercados consumidores potenciais são alvos tanto de japoneses quanto de sul-coreanos.

Sempre ouvi, quando era moda falar disto, que a (mítica) política industrial japonesa ou sul-coreana era a ideal: que o governo enchesse o bolso de alguns empresários poderosos (de setores, digamos, imparcialmente escolhidos) que os meus parentes distantes dominariam a economia mundial (sempre achei que o professor sorria maliciosamente enquanto falava da sempre adiada decadência da economia norte-americana...).

Bem, talvez tenha chegado a hora de pensarmos em adotar o modelo da diplomacia asiática. O meu amigo Gilson vai espernear mas, enfim, eu acho que é hora de deixar a política sou-contra-os-EUA-incondicionalmente - que o Itamaraty parece estar adotando - de lado e pensar em termos mais realistas. Posso estar errado, mas....
Entrevista Interessante

Olha só quem é o entrevistado da Wired: Larry Flynt. O link é este.

quinta-feira, fevereiro 19, 2004

Southern Exposure

Claudio Shikida agora também é colunista de Southern Exposure.

Já fui apresentado aos leitores e espero estar escrevendo mais logo, logo.

Isto é fascinante. Eu criei este blog, convidei o André (que anda sumido), o Leo, o Gilson....bem, convidei até mais gente que nunca se manifestou. Mas o povo do Southern Exposure me achou e me convidou. O que é fascinante? Esta convivência virtual. E pensar que conheci, por exemplo, o Leo, primeiramente, apenas por e-mail, na antiga "A Hora do Café" (atual lista de distribuição destes posts).

Espero que visitem o outro site e se divirtam.

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

O Ombudsman da FSP poderia me explicar isto?

Leo Monasterio postou como comentário à minha crítica à análise da Sra. Galvão. Mas eu não resisto. Quem criticou o uso do economês no relatório do COPOM, acusando-o de ser uma peça que engana e ludibria o cidadão pode explicar isto?

"Dessa maneira, a ficção abria as comportas para a vivência vicariante, preenchendo funções psicológicas e sociais de relevância, cujas virtualidades poderiam ter-se refugiado hoje no modo biográfico.
Uma síntese classificatória de todas essas tendências poderia verificar sua pertinência a dois extremos, o do hipermimético e o do hipermediado, com a maioria da produção se acumulando no primeiro pólo."

Novo Milênio: Musas sob assédio - Walnice Nogueira Galvão?

Fascinante! Alguém deve estar tentando manter a população brasileira analfabeta, usando termos como "hipermimético"! E eu que achava que média (aritmética) de 2+4 eram 6....

Telhado de vidro é isto. O resto é conversa para boi dormir....
Humor

(Minha) frase do dia: Waldomiro é o bicho!
Como eu sempre digo...

Eu ainda digo: voto eletrônico é sinônimo de perda de liberdade individual (privacidade). Pode não ser um problema quando Schwarznegger é o governador. Mas o é se seu presidente é Saddam.

E, claro, continua o debate sobre a segurança destas máquinas.

Wired News: Move to Block California E-Vote
Verissimo num dia, jornalista da FOLHA no outro: nada como um dia após o outro

Após o lamentável (mesmo) artigo do Verissimo, cuja crítica faço aqui, ontem recebi um outro, da Folha de São Paulo.

Colocando os pintos [ops, ha ha ha..."pingos", eu quero dizer "pingos"...] nos "i's ", eu não curto a FSP. Já fui assinante e parei. Hoje em dia, não assino mais jornal algum (o salário tá curto).

Sei que não posso reproduzir totalmente a matéria, mas a jornalista, a sra. W.N. Galvão, vem-me com argumentos cheio de problemas e uma boa dose de agressão desnecessária. Às vezes parece adepta daquela linha de pensamento que acha que toda linguagem é poder. Estou sendo exagerado? Pior que não. Veja alguns trechos com meus comentários:

Quando se sabe que o presidente norte-americano acaba de apresentar à nação um orçamento que omite a despesa com a guerra do Afeganistão, assim evitando que acusasse déficit, logo se vê que, em questão de governantes e dos economistas que trazem pela coleira (ou vice-versa), tudo é possível.

Meu comentário: A jornalista quer me fazer crer que o COPOM do Banco Central tem motivações similiares a George Bush. O mais correto seria analisar o orçamento do governo federal. A revista Primeira Leitura, por exemplo, mostra que o Fome Zero quase não tem dotação orçamentária. Será que a jornalista gostaria de escrever sobre isto? Taí uma comparação bem mais razoável...exagero na comparação. Boa técnica de retórica, mas deveras exagerada.

A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), órgão do Banco Central [que inicia hoje nova reunião], faz o leitor cair de costas. São páginas e páginas de impenetrável economês, visando a que o leitor não perceba que a inflação aumentou e deve continuar aumentando: conclusão que se encontra embutida na própria ata.

Meu comentário: Creio que a tarefa do jornalista econômico é justamente traduzir o economês. Fim de papo.

Os malabarismos de linguagem são admiráveis e começam logo, quando o leitor, no primeiro parágrafo, desconfia que deve haver alguma diferença entre "significativamente inferior" e "expressivamente inferior". Lê de novo, vai conferir, e há. No primeiro caso, o resultado mostra-se favorável quando comparado às estimativas dos analistas. Quando não se trata de vagas estimativas de vagos analistas, e a comparação se faz com parâmetro firme, emitido por uma fonte oficial, e o resultado é negativo, é o segundo caso.

Meu comentário: Ok. Ela tem um ponto se disser que está se queixando porque o relatório não explicitou relativamente a que algo é inferior ou superior. Inferior a que? Provavelmente a alguma meta. Mas, vamos em frente.

E depois há o IPCA, ou Índice de Preços ao Consumidor Amplo: quem é amplo? O índice? O consumidor? Ou ambos?.

Nota: Não vou nem comentar. Aqui a jornalista, que está bem nervosa com o relatório do BC, mostra que não está pronta para o comentário de assuntos econômicos. Quem é amplo, o consumidor, o índice? Alguém quer ganhar 1 ponto respondendo esta questão? Fácil, não? Ironia agressiva, sem nenhuma informação útil ao leitor.

Para calcular o IPCA, saiba o desavisado leitor que vigoram diferentes preços, os quais exercem pressões sobre os índices, constituindo "contribuições individuais" de três tipos: preços livres, preços monitorados ou administrados (que podem ou não ser a mesma coisa) e oligopolizados.

Meu comentário: Agora sim, a jornalista voltou à sua sã consciência. Não explicou nada, contudo. Parece-me óbvio que o leitor saiba que a economia tem setores oligopolizados e não-oligopolizados. O que seria legal? Seria ela dizer ao leitor o porquê do governo usar o IPCA. Mas aí ela não poderia criticar o governo (e olha que eu não gosto deste governo)...

Quanto a médias, o leitor pensa que a média de "dois mais quatro" é igual a três, como aprendeu na escola primária. Era: não é mais. Depende. Pois há "médias aparadas" e médias submetidas a "procedimento de suavização". O que será isso, meu Deus? Ou seja, se as médias reagem mal quando aparadas (o que já deve doer), serão amarradas esperneando e obrigadas a sabe-se lá o quê? Ignomínias, tormentos? Serão drogadas? Aplicam-lhes o soro da verdade? Passam pelo detector de mentiras? Ou apenas levam um cascudo?

Meu comentário: Novamente a jornalista agride sem precisar (embora tente ser engraçadinha...). Se ela perguntar a um (bom) economista qualquer, o sujeito lhe explicará o que é "suavizar uma série".

Vou ajudá-la e ao meu leitor: imagine uma série de vendas (nominais, sem deflacionar, para facilitar a vida de quem já não sabe se o IPC é amplo, ou o consumidor...he he he) de uma loja, mensal. Tome-se 10 (dez) anos (quem fez a escola primária sabe que temos 10x12=___ observações).

Temos, nesta série, possivelmente, picos em dezembro. Bem, tente prever vendas de janeiro levando em conta este pico. Você encontrará um valor irreal. Por que? Ora, porque, além do consumidor não ser amplo, sua renda nem sempre o é e, afinal, o Natal só acontece em dezembro.

A suavização consiste justamente em ajustar isto. Tira-se da série os ciclos de 12 meses (sazonais) para se melhorar a previsão. Neste pequeno espaço, é um bom resumo. Dúvidas? Aulas por um preço razoável comigo...(he he he)

Continuemos.

Das três, uma. Ou bem eles não sabem do que estão falando. Ou bem não querem que o leitor saiba que eles não sabem do que estão falando. Ou bem sabem do que estão falando, mas não querem que o leitor saiba. Donde a tergiversação sem fim, intimidando o leitor com um labirinto de cifras e siglas, para decretar que só a onipotência dos economistas -esses titãs- se interpõe entre nós e o caos"..

Meu comentário: Ok, ela tem razão de reclamar do linguajar do relatório. Ela provavelmente não entendeu muito. Mas isto não quer dizer que se quer intimidar o leitor. Se o público-alvo é o mercado financeiro, então a jornalista está precisando se debruçar em livros de Econometria, quer queira, quer não queira (ou quer queira, mas queira que a gente não sabe que ela queira, ou algo assim).

Eu compartilho da sua preocupação com o linguajar técnico. Aliás, a idéia deste blog é justamente desfazer esta mística. Mas partir para acusações sobre o uso da linguagem é algo diferente. É dizer que se usa o economês para esconder a verdade. Se fosse assim, bastava o MEC proibir o ensino de economia - exceto para os membros do partido do governo - no país. Eis um ponto que a jornalista não considera.

Afinal, pense o leitor no contrário: quantas vezes eu pude achar que jornalistas tentavam dominar o mundo e esconder a verdade quando me falavam de "semiótica", "hegemonia cultural" ou "enfoque reeveriano".....menos né?!
Mais links para o criador deste blog

Com orgulho, no AnarCapLib....AnarCapLib: Economic Chauvinism
Economia Everywhere comentado em outro blog?

Sim. Neste aí do link seguinte. Southern Exposure
Capitão América = Steve Rogers = ....camelo?

Quem não se lembra do super-soldado, Capitão América? O grande herói terminou sendo o único favorecido pela fórmula do super-soldado já que o maligno Crânio (Caveira) Vermelha deu um jeito nos cientistas do Pentágono.

Entretanto, como dizem por aí, a criatividade humana não tem limites. Agora, a idéia do povo é fazer um soldado lutar cinco dias seguidos sem necessidade de se alimentar. Vale dizer: o Soldado Universal vem aí.

Imagine quando resolverem o problema de alunos e professores: você poderá assistir aulas e estudar sem ter de abrir a geladeira por cinco dias! E os professores nem precisarão mais de almoço!

A tecnologia é, no final das contas, algo fascinante, indepedentemente do seu uso....

Wired News: Darpa Offers No Food for Thought

terça-feira, fevereiro 17, 2004

ArgMax

Qualquer aluno (bom) de Economia sabe o que é ArgMax. Sim, o ArgMax do livro de matemática (do livro bom de matemática, não dos mais fáceis). De qualquer forma, o ArgMax de que falo é o novo link fixo aí ao lado. Muito útil. Aproveitem.

segunda-feira, fevereiro 16, 2004

EasyReg para dummies....um bem público fornecido por mim? Ou ato egoísta?

Você, leitor esperto, que estuda em faculdade pobre, ou com poucos recursos, e que tem aquele professor de Econometria triste por nunca conseguir aqueles softwares caros para seu departamento....

Aproveite! Sorria! Pule de alegria! Chame sua namorada e faça aquela festa! Afinal, agora, além do mirror brasileiro do EasyReg, de minha exclusiva responsabilidade, você tem (também para download lá) uma apostila bem simples, de minha autoria.

Em breve ela será bem maior e mais completa. Quem já me conhece sabe da minha famosa apostila do EVIEWS, difundida por boa parte deste país.

Desta vez, a apostila não é tão completa, mas eu tenho a alegria de dedicá-la a você, aluno(a) que não pode pagar por um programa de Econometria mas, mesmo assim, quer saber como é um teste de raiz unitária, por exemplo, na prática.

O que está esperando? Corre lá e faz o download!
Mundo complexo = mais regras?

Por que existe uma constante pressão para uma maior complexidade legal? Podemos explicar tal fato, em parte, pelas pressões inexoráveis exercidas por inúmeros grupos específicos. Mas, além disso, existem idéias em ação que fazem com que a grande massa de pessoas desinteressadas mantenha-se aberta às reivindicações pela regulamentação...[Tal idéia] é a tentativa inocente (mas geralmente fatal) de se alcançar a justiça perfeita em casos individuais. Uma segunda idéia é a falsa crença de que formas complexas de regulamentação, operando dentro de pequenos grupos voluntários, podem ser reproduzidas em ambientes sociais impessoais. Originalmente em :Amazon.com: Books: Simple Rules for a Complex World.

O trecho acima, reproduzido neste livro é um ponto que me faz refletir na mesma linha que o prof. Gilson, nosso colega aqui, quando ele reproduz matérias sobre a biotecnologia brasileira (por exemplo, esta ou esta).

Embora ele toque em pontos importantes como o do veto a cientistas de opiniões contrárias ao governo na Embrapa (liberdade de expressão? Para quem?), Gilson pode ter se esquecido de uma outra conseqüência da censura e/ou de leis que tudo proibem: a ação do mercado.

Digo isto porque os sul-coreanos não poderiam fazer o mesmo avanço científico nos EUA, onde a lei de Bush (que é um cara deveras religioso) é mais restritiva. Ou seja: crie aumentos de custos no seu país para a pesquisa científica e aguarde o avanço do resto do mundo em relação à sua própria posição.

domingo, fevereiro 15, 2004

Ética: aumentar preço é anti-ético?

O Gilson me enviou este link que fala das oportunidades de negócios para brasileiros que exportam frangos após o problema de saúde das galinhazinhas asiáticas e norte-americanas.

Pensei na pergunta de um aluno meu outro dia: "professor, no exemplo do Mankiw, este negócio de pagar mais barato pela passagem não é anti-ético"?

Da mesma forma: "aluno, aproveitar-se de uma crise na produção de frangos na Tailância para vender mais gerando lucros para brasileiros também não é ético?"

A questão é que muita gente confunde o significado da ética. O que, afinal, é ética? É derrubar dois prédios cheios de gente sem votar aumentos de salários para si mesmo? É vender mais barato, mesmo quando os custos de produção aumentam? É cobrar propinas no Palácio do Planalto com a desculpa de que temos um objetivo maior de socialismo para o país?

O ponto é, certamente, polêmico. Mas há algo importante aqui: Ética em economia é algo que se discute sempre. Ao aluno submetido à ética anti-mercado pode ser interessante conhecer textos como o de Frank Knight. Trata-se, creio, do melhor texto (e antigo!) para se entender a questão. Se você pretende ser um profissional do mundo de negócios, deveria fazer um fichamento deste texto.

Como sempre digo: abra sua cabeça, estudante. Você é novo demais para ter opinião formada sobre tudo. Nem seu avô tem, né?
Até mais, estado estacionário

A tecnologia derrubou Malthus e Ricardo em termos da lei férrea dos salários. Pelo menos em seu modelo teórico. No mundo real, felizmente, as coisas continuam melhorando. A notícia abaixo é bem interessante, neste sentido.

Wired News: Scientists Advance Hydrogen Tech
O cronista que queria ser economista

O leitor deste blog que entende de futebol pode imaginar o que iria encontrar aqui se eu começasse a falar de futebol? Pois é. Um asco, né?

Então imaginem o que eu senti quando li o famoso Luis Fernando Veríssimo falando de Economia no "O Globo" de hoje (coluna móvel, mudará na quinta ou no domingo, aqui).

Na verdade, ele pega este artigo, de um tal William Pfaff, no International Herald Tribune e, basicamente, faz uma tradução comentada. Segundo o sr. Pfaff, a lei férrea dos salários seria mais importante do que o aproveitamento das vantagens comparativas.

Há diversos problemas neste tipo de argumento. Mas, permita-me tomar o artigo original de Pfaff. Em determinado trecho, diz ele: "The iron law of wages would seem to function only if the supply of labor is infinite and totally mobile".

Em seguida, argumenta Pfaff que isto é facilitado pela globalização.

Agora, pense no seguinte: a globalização, se é sinônimo de menor barreiras à mobilidade (inclusive de custos para a mobilidade), é, de fato, facilitadora da movimentação do trabalhador (a oferta totalmente móvel citada acima, embora uma oferta infinita seja algo estranho, a princípio).

Como se pode diminuir custos à movimentação do trabalho, ainda no nível de abstração de Pfaff-Veríssimo, de forma a facilitar a entrada de trabalhadores, digamos, no meu país?

Fácil. Tenho de oferecer salários atrativos aos mesmos. Como faço isto? Se eu fixar o salário acima do nível de mercado, vou gerar desemprego (lei do salário mínimo). Que empresário do meu país vai querer contratar um estrangeiro pagando mais pela mesma qualidade de mão-de-obra que encontra no país a um preço menor?

Então deixemos de fixar o salário. Digamos que eu apenas diminua os custos de entrada no meu país ("Claudiópolis"). Não posso enviar um cheque a cada trabalhador estrangeiro, mas apenas desburocratizar o acesso. Fazer isto não significa que há empregos para todos. Você pode abrir as barreiras do seu país e ter uma indústria operando em capacidade máxima: não há vagas, amigo, volte mês que vem.

Além disso, é de se imaginar quantos trabalhadores brasileiros sairão do país em direção a Claudiópolis. Há tanta mobilidade assim de trabalhadores?

Finalmente, digamos que o salário, como qualquer preço, se estabilize num nível de equilíbrio, como diz o, digamos, Teorema de Pfaff-Veríssimo. Por que este equilíbrio deveria ser o de subsistência? Nada há, no argumento de Pfaff-Veríssimo, que garanta que este seja o nível. Dizer que você cobre custos significa que você cobre o custo de oportunidade. Ricardo, quando elaborou sua teoria, trabalhava em termos de valor trabalho, teoria que ninguém usa hoje em dia (nem os inimigos da globalização, exceto os não-economistas/marxistas).

Ok, o mundo é desigual. Aliás, justamente por isto é que há comércio entre as nações. O comércio só existe para que ambos ganhem (exceto quando gente interessada briga por tarifas e/ou subsídios). O jogo é sempre win-win como diz Pfaff. Como passar para um jogo de soma zero? Aí é que está o problema crucial do artigo de Pfaff (que Veríssimo reproduz, sem críticas).

Ao comparar a argumentação de Ricardo com as dos economistas de hoje, Pfaff-Veríssimo têm a difícil tarefa de comparar uma teoria de preços que usa o valor-trabalho e outra que usa o valor de uso. Vale dizer, alhos e bugalhos.

E, infelizmente, eles não explicam como fazer isto, embora tenham textos com belas palavras sobre o futuro sombrio que enxergam.

Conforme os comentários que o(s) leitore(s) fizerem a gente pode até elaborar melhor a crítica, mas, por enquanto, é isto.