sábado, novembro 01, 2003

Transgênicos, armas, celulares nos automóveis e tudo o que você não discute de forma séria se não usar um pouco de análise de custo-benefício

Observações importantes sobre esta inovação tecnológica - os transgênicos - e mal compreendida (o governo federal não tem ajudado muito a esclarecer as vantagens do seu uso) estão nesta crítica. O problema deste pessoal é que, simplesmente, inovações tecnológicas são inovações tecnológicas que....em primeiro lugar...são inovações!

Não tem jeito. E aí, caro leitor, o belo e romântico "ativismo" mais atrapalha do que ajuda, pois "ativismo" sofre do mesmo mal de que se acusa os transgênicos: "deveríamos esperar mais resultados da ciência antes de agir". O "ativismo", no sentido ruim da palavra (que é tal como a entende a sociedade brasileira) gera consequências ruins. Veja o caso de nosso amigo aqui no México, brigando contra o Tony da Kellogg's:

The activists, many claiming to be associated with Friends of the Earth, circulated among the villagers before the food was distributed. One activist from Brazil was particularly shameless in his tactics. He kept telling several village women over and over that the food was "contaminated" and "toxic" and would harm their children.

Tal como eu disse no post sobre o desarmamento legal (sem correspondente ação sobre armas ilegais), o Brasil caminha na direção contrária à da ciência. Onde estão os estudos de custo-benefício do consumo/produção de transgênicos? A discussão sobre porte de armas, como já disse antes, carece de um mínimo de evidência científica. Se é para dar dinheiro público para ONGs que não fazem estudos científicos sobre os temas que pretendem estudar, então por que não forçá-las a tomar dinheiro por conta própria?

Aliás, sobre custo-benefício, eis uma boa matéria, sobre o uso de celulares em automóveis (nos EUA).

Quem tem horror a dados empíricos é bem-vindo ao clube da mística e da magia e do ativismo sem fundamento.

Economistas, por definição, não vivem em um mundo mágico. Tudo é escasso e optar por A significa deixar de lado B. Identificar estes custos é tarefa de cada um (e somente cada um sabe seus custos, daí Buchanan dizer que os custos são subjetivos). Dá trabalho, né? Dá. Mas eu ainda prefiro que eu mesmo ache meus custos, não que alguém me diga quais são...

sexta-feira, outubro 31, 2003

Alguém leu?

Alguém sabe se este livro é bom? Acho que o Leo já me falou dele, mas...

Externalidades

Leo sempre me lembra que não consigo fazer este blog tão bom quanto o Marginal Revolution aí ao lado na coluna de links.

Mas há algo bacana no ar. Desde que o Ari se junto ao blog, conseguimos, com algum esforço, fazer um artigo juntos.

Apesar do título do seminário ser uma lástima e do cartaz (bem feiosinho...) não nos citar (Shikida e Monasterio), o Ari vai apresentar, amanhã, nosso artigo. Ele deveria se chamar Economia Everywhere também gerar externalidades, he he he....



Óbvio que não vai ter um aluno meu lá. Afinal, preferências não mudam...
Você sabe que está por dentro quando...

Já leu alguns dos caras que o Ari achou no link abaixo.

in-cites - 3rd. Bimonthly - Top 10 Researchers In Economics & Business
Perguntinha

Esta vai para o pessoal que leciona.

Nos últimos 50 anos, a Economia se ampliou. Hoje o Ari fala de crime, Rafael estuda suicídio, eu falo de violência, Leo cuida do capital social, etc.

Entretanto, é impressão minha ou a média de alunos interessada na Economia, digamos, a cada ano, tem se mantido constante?

Se sim, é estranho, pois eu esperaria um aumento dada a diversificação de interesses...

Comentários?
Esta é interessante

O excelente analista político Villas-Bôas Corrêa chama a atenção para uma suposta inovação que coibirá a corrupção de políticos: o uso do e-mail da Câmara, conforme se lê no trecho abaixo, permeado de uma não menos excelente ironia:

Certamente que não se ajusta aos escrúpulos petistas e do presidente da Câmara a suspeita desprimorosa, no recorte de farsa, de que o atalho no endereço eletrônico da Câmara terá sua utilidade limitada à prestação de conta das viagens internacionais.

Pois se a luminosa idéia brotou do canteiro das denúncias e cobranças de irregularidades escandalosas na manipulação dos dinheiros públicos, salta aos bugalhos a evidência que o novo atalho, que promete um recorde de consultas, doravante registrará as minuciosas contas de cada um dos 513 deputados, com o exato repasse do que recebem em dinheiro vivo e no festival das verbas da encorpada lista das vantagens, mordomias, como, para citar alguns exemplos, a verba para a contratação de assessores para os gabinetes individuais, a verba indenizatória de R$ 12 mil para o reembolso, mediante recibo, das despesas do fim de semana, as quatro passagens semanais para o repouso na base eleitoral, os gastos com telefone, correios, xerox, as despesas com a moradia, em hotéis ou apartamentos funcionais, nos três dias úteis da semana.

Deixo de incluir, por não ter como confirmar, o tíquete-refeição.


Sabemos que o Brasil não anda bem nos indicadores de corrupção (www.transparencia.org.br) e sabemos que há várias formas de se combater este mal. Entretanto, é difícil acreditar que o e-mail resolva isto. Políticos, algumas vezes, parecem agir de forma um tanto quanto irracional. Afinal, quem acredita que o e-mail da Câmara será usado para explicitar gastos da viagem?

Teoricamente falando, eu aceito que pessoas sofram de ignorância racional. Mas acho estranho que políticos pensem que todos sejam racionalmente ignorantes sobre todo o conjunto de itens de política existentes.

Por que?

Porque eu acho que, ok, é difícil se informar sobre todos os itens de política que um político realmente defende (o problema é descobrir o que ele realmente pensa sobre cada item, não o que ele diz). Mas há certos itens que são mais previsíveis (e para isso existem Dudas Mendonças) na discussão do público. Corrupção é uma delas.

Como destacou Wittman (O Mito do Fracasso da Democracia, Bertrand Editores), se há gente enrolando no governo, há incentivos para a geração de denúncias na oposição. Dizer que basta mandar um e-mail parece indicar que a disposição para o seu combate ainda é muito pequena relativamente ao discurso (e tem gente que não acredita que políticos gostem de rent-seeking só porque são do partido X ou Y...).

Vamos ver se a imprensa fará o que diz fazer - conforme Villas-Bôas. Normativamente falando, espero que o faça.

segunda-feira, outubro 27, 2003

A dificuldade da segurança num mundo de tecnologia flexível

Eis aí um exemplo de como os mercados funcionam e de como este funcionamento é neutro quanto aos fins (objetivos).

Segundo a notícia do Haaretz, um soldado israelense que servia de "counselor" (literalmente seria "conselheiro", mas vai que tem tradução mais precisa, em termos técnico-militares) para os prisioneiros palestinos foi preso porque estava vendendo linhas de telefones celulares para os prisioneiros (500 shekels cada).

Agora, ele não foi preso por vender os celulares. Ele foi preso porque vender os celulares para suspeitos é uma forma de facilitar ataques terroristas. Não sei quantos leitores assistiam a série de vida curta "The Agency". A série falava da CIA (com a bela Paige Turco, do antigo "American Gothic", terror de primeira do Sam Raimi, o mesmo que fez a divertida "Xena" e outros filmes malucos) e, em um episódio, o diretor da agência sofre um atentado em Israel.

Obviamente que todo mundo fica suspeitando de terroristas palestinos mas a verdade é que havia um complô de radicais israelenses para não permitir o avanço das negociações (uau! uma prova de que a mídia americana não é vendida! Posso ver milhares de brasileiros confusos, procurando ajuda médica...he he he). Como eles descobrem a trama? Por causa do celular que a assistente do chefe de segurança do Mossad usava.

Agora, esquecendo a televisão e meus conhecimentos de filmes trash, a situação é bem interessante porque o celular veio para ficar. Não há como impedir que as pessoas o usem para vender armas ou falar com parentes. Logo, a questão é como usar o mercado para diminuir o incentivo ao uso dos mesmos para o terror.....sem diminuir a liberdade individual. Senão, claro, o terror venceu.

Belo dilema.

Ainda bem que minha conta de celular é relativamente pequena...

domingo, outubro 26, 2003

Preferências

Taí. Gostei do sistema do Yahoo. Há anos reclamo deste pedantismo de que existem críticos de cinema que, contrariamente aos não-críticos, supostamente nós, entendem melhor sobre o que devemos ou não gostar num filme.

Pessoas, normalmente não-economistas, têm sempre um preconceito muito grande contra algum tipo de item. É engraçado. Sempre ouço argumentos do tipo "eu respeito as diferenças, mas isto aí é uma droga".

Como saber que é uma droga? Normalmente, quando os "especialistas" concordam com o sujeito, então ele fica feliz. Quando não concorda, ele muda de opinião? Bem, nem sempre. Há os que, nestes casos, mantêm seu ponto de vista, dizendo que o "especialista não sabe nada sobre o item" ou que "desta vez ele errou". Vale dizer: não há porque achar que existem especialistas já que eles erram e eu também.

Na verdade, é mais correto dizer que há um especialista em física que sabe mais do que eu. Ou um em literatura inglesa. Mas, dizer que alguém pode dar uma nota para um filme?

No momento atual, a comédia Scary Movie 3 (2003) - Movie Info está com A- entre os internautas - contra C, dos críticos.

Críticos, bah!
Palhaçada...

Li, outro dia, no Valor Econômico, uma breve reportagem sobre o encontro da ANPOCS (a nossa irmã das Ciências Sociais). Fiquei muito triste. Ou o repórter não entendeu bem o que se passou, ou a ANPOCS teve um encontro de nível ruim. O que o Valor Econômico conseguiu divulgar da produção científica do pessoal da Ciências Sociais? Bem, não muito. A matéria se dedicava a descrever um debate sobre o governo Lula no qual estavam presentes gente como Luis Werneck Vianna, Bresser Pereira e um outro figurão do governo Lula (nunca sei se é Otávio Ianni ou Otávio Dulci).

Quem leu a matéria tem a nítida impressão de que debate científico na área de humanas é uma luta de boxe, com desrespeito mútuo. Talvez este até tenha sido, pelo tema polêmico. Mas o jornalista deveria descrever isto com certa tristeza, certo? Afinal, é lá que se gastam alguns dos nossos impostos.

Bem, ele não fez isso.

Descreveu a situação como alguém descreveria um jogo de futebol.

Eu já achava o Valor Econômico ruinzinho, exceto por alguns de seus colunistas fixos. É uma opinião pessoal, mas depois desta percebi que precisamos ensinar para os alunos a duvidarem ferozmente de jornalistas. Afinal, já é difícil fazê-los perceber que debates científicos, quando viram bate-boca como no caso citado, são um sintoma de degeneração da ciência, não algo para se lembrar com orgulho. E se um jornalista não percebeu que o encontro da ANPOCS era mais rico do que o que viu, bem, vou defender meus inimigos sociólogos (eles nunca gostam de economistas...), mas faltou percepção ao jornalista...