sábado, junho 19, 2004

Elasticidade-substituição do altruísmo

Um altruísmo é, para nós, economistas, algo como Ui(x, Uj(x)), onde "i" sou eu e "j" é, digamos, meu filho. X é o consumo. Assim, Se a Uj é um bem para mim, sou altruísta.

Ok?

Bem, agora pense nisto: ser altruísta é doar seus dois rins após a morte ou doar um deles ainda em vida? Sabe, para mim, ambos são atos extremamente bonitos e louváveis. E são altruístas.

Agora, existe uma elasticidade de substituição virtuosa neste caso. A ADOTE - Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos aponta que: ...cresceu de forma acentuada o número de transplantes com doador vivo, em especial, de rim que ja representa mais de 60% dos casos. Os transplantes com doador vivo não tem nenhum reflexo direto sobre a lista de espera. Além disso, a opção por essa modalidade de transplante pode influenciar, negativamente, a busca de doadores com morte encefálica. Com efeito, enquanto o número de transplantes com doador vivo cresce de forma consistente desde 1995, a identificação de potenciais doadores (pessoas com diagnósticos de morte encefálica) não segue a mesma tendência.

Perceba, leitor, que um dos determinantes deste aumento no número de doadores vivos certamente é a tecnologia. Se fica mais fácil retirar partes de mim para meu filho ou para um amigo sem que eu perca em funcionalidade (ou tenha de morrer para isso), provavelmente a doação total aumentará.

Agora, um número bacana que eu gostaria de ver seria esta elasticidade. Em quanto o aumento de 1% no número de doadores vivos diminui, percentualmente, a necessidade de doadores mortos?

sexta-feira, junho 18, 2004

O Rio de Janeiro realmente tem problemas sérios

Esta eu tirei do boletim do IL. Veja que genial!

Nota: Na mesma edição do IL Notícias, a sessão 'Acredite se quiser' dá um claro exemplo de confusão sobre as decisões a que se devem atribuir nossos representantes. Exibe a Lei nº 1.802 de 25 de março de 1991 publicada no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, com esta "pérola legislativa":


O Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro [...] promulga a Lei nº 1.802 [...]: Art. 1º - No Território do Estado do Rio de Janeiro, somente será permitido a fabricação e comercialização de papel higiênico produzido da celulose. Art. 2º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogada as disposições em contrário. [...] Dep. José Nader - Presidente

quinta-feira, junho 17, 2004

Acredite...se quiser

Este é um dos vários artigos que circularam nos jornais comentando sobre o mais bizarro discurso que já ouvi (se for verdadeiro).

Lembra daquele artigo do Luis Fernando Verissimo, cheio de erros elementares de economia?

Pois é: parafraseando o presidente, "não é preciso entender de literatura para ser cronista, nem de economia para ser presidente". De fato, não precisa. O problema é o custo, para a sociedade, de políticas baseadas em postulados bizarros.

Trechos:

Como é que é? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Brasil deixa de comprar mais barato de alguns países para comprar mais caro de outros? E nem emprestou a tal decisão um caráter estratégico. Sempre compramos petróleo ruim da Argentina e vendemos máquinas àquele país. É uma troca. Na fala de Lula, no entanto, estaríamos mesmo fazendo uma espécie de caridade. A ser verdade, espero que o Ministério Público processe Lula por administração temerária e contrária aos interesses nacionais. O presidente foi eleito pelos pobres brasileiros, não pelos pobres uruguaios ou paraguaios. Um governante não tem o direito de dispor dos recursos públicos de forma perdulária, ainda que o faça por vocação humanista, punindo aqueles que o elegeram.

...

Eis aí: adoraria ver o ministro Celso Amorim, do Itamaraty, em face da malandragem chinesa, vir a público para explicar que estamos criando com Pequim o eixo de uma nova ordem mundial. Mais ainda: as facilidades que estamos oferecendo à China, convidando seus técnicos a virem se comportar como bedéis da nossa soja, devem, creio, ser oferecidas agora aos demais países com os quais mantemos relações comerciais. O suposto “ativo” da viagem de Lula ao totalitarismo chinês não pode se perder, ainda que tenhamos de passar por humilhações maiores e menores. Eis aí a nova ordem anunciada por nosso orador das auroras rutilantes. A reunião da Unctad estende-se até sexta-feira. Até lá, dá tempo de propor mais uma dúzia de revoluções mundiais.

O patético é que, na China, o nosso Vieira pré-estalo ensaiou a retórica da solidariedade dos emergentes contra o imperialismo americano. Oferecíamo-nos como soldados na causa do Exército do Povo. O chato é que nem os chineses dão a menor bola ao Brasil, a seu governo e a seu governante. Querem é dar um beiço no país, livrar-se da montanha de soja que compraram com o preço nas alturas ou ficar com ela a um custo muito menor. A tese estusiasmadamente defendida das “economias complementares”, não competitivas entre si, esqueceu-se de que há também a relação entre comprador e vendedor.

terça-feira, junho 15, 2004

Concorrência

Então você é daqueles que acha que dois competidores formam um cartel para explorar os consumidores? Se sim, vai ter dificuldade em explicar esta mudança do Yahoo: Yahoo boosts free e-mail storage to 100MB | CNET News.com.

A concorrência do google forçou o yahoo a oferecer mais espaço virtual para e-mails.

É...e tem gente que não acredita que concorrência funcione...
Nasa deve se tornar menos "estatal"

Li ontem, acho, no yahoo [UPDATED: não...tá aqui: The Washington Post].

E o pessoal do CATO não perdeu tempo. Olha a análise deles aí: We Must Reach for the Stars.

Trecho: (The Washington Post) - The commission, chaired by former astronaut Edward C. "Pete" Aldridge Jr., was asked to make recommendations needed to implement the new initiative and report within four months. A commission spokesman said members were unable to comment on the report yesterday because most were traveling to Washington for the formal release ceremony. NASA did not respond to the report because officials said they had not seen it.

Still, decision makers have long been aware that the key focus of the report would be to nurture a space industry that breaks what the commission called NASA's "Apollo-era" model -- initiatives controlled by the government through its private-sector contractors.

But several experts, including Michael Beavin, director of government relations for the American Institute of Aeronautics and Astronautics, a nonprofit trade organization, noted that the "commercial space industry" does not really exist:

"It's been around for a while, but primarily it's only had only one customer -- the federal government," Beavin said in a telephone interview. "We really are at the beginning, and NASA needs to reach out to the entrepreneurs."
Outra homenagem ao Matheus

Filho de corinthiano tinha de chamar Matheus? :D

Long Life to Matheus!
Sorria

Aluna minha, hoje, ao final da prova:

- Professor, corrige a prova com carinho [ela não sabe, mas é a frase que mais odeio após: "não tem porção "cortesia" de polenta"]
- Tá, tá. Se quiser, eu faço regra de três.
- É mesmo! Então faz, faz!! [ela foi bem na outra prova]
- Mas a minha regra de três é simples: eu não corrijo, e você ganha três pontos. Se quiser, posso aplicar a "regra de um", a "regra de dois"....

Até que lecionar nem sempre é dramaticamente triste...

segunda-feira, junho 14, 2004

Vejam quem está otimizando! O filho do Ari!


Posted by Hello
Acabou a troca mundial de conhecimentos...com o Brasil

O resto do artigo não é tão importante quanto este trecho. A se confirmar, só lamento. E muito.

Trecho (bastante aterrador): O heróico e patriótico governo federal decidiu restabelecer o imposto sobre a importação de livros.

Aos poucos vamos nos fechando para o mundo, expulsando jornalistas, caçando bingos (e abrindo loterias), usando os mesmos artifícios dos governos passados....pobre Brasil, tão longe dos EUA, tão perto de Castro.
Vamos beber sakê?

Este paper vai dar o que falar.... :D

This paper examines the relationship between labor productivity and alcohol
consumption based on research conducted with a limited sample of workers who
drink alcohol. Estimation results show that in the case of males, the amount
of alcohol consumed significantly raises labor productivity, with an elasticity of
approximately 0.13. In females, we cannot reach the firm conclusion. Conversely,
the reverse relationship between labor productivity and alcohol consumption cannot
be confirmed. Moreover, an awareness of appropriate alcohol consumption
supports the sixth strategy of the Health Japan 21 policy, which is to reduce
national alcohol consumption by about 20%.


Em resumo: homens, bebamos!
Bem público (post duplo) - O novo dinar iraquiano: estabilidade surpreendente + breve relato sobre o novo brasileiro, filho do Ari

Na página do governo provisório do Iraque você encontra as cotações do novo dinar iraquiano desde janeiro até hoje, diariamente. Resolvi dar uma olhadinha nas quotações. Esperava uma volatilidade alta, dados os ataques terroristas que têm ocorrido lá nos últimos meses.

Entretanto, como reporta este artigo, a moeda está surpreendentemente estável. Várias especulações existem para esta (realmente surpreendente) estabilidade.

Leia o artigo indicado e, se quiser, vá até a página do governo provisório para verificar o que anda acontecendo na região. Se tiver disposição, veja ainda a nova "constituição monetária" do Banco Central iraquiano.

A estabilidade da moeda deles ilustra novamente meu ponto com relação ao Naji Nahas: se é difícil provar que ele manipulou preços, como provar que os vizinhos estão manipulando as cotações do dinar iraquiano? Eu gostaria, realmente, de descobrir como fazer isto. Se eu descobrir, não vou contar para vocês, mas garanto que vou vender meus serviços para o novo governo iraquiano (he he he).

E, claro, mudando de assunto, estive na maternidade e vi o Matheus. Capital humano aumenta no longo prazo, embora o PIB per capita já seja mais baixo. O menino nasceu, está bem, e tem aquilo roxo. O bom mesmo foi ver o pai dela comentar: "o Chef Túlio é aqui perto, não é? E o Bolão é aqui para cima, né?" Comemorações à vista... :D :D
CONFIRMADA QUEDA DO PIB PER CAPITA BRASILEIRO

Acabo de ser comunicado: nasceu o Matheus, primeiro filho do casal Ari/Patrícia.
Afinal, do que mesmo ele foi acusado?

Alguém se lembra do caso do Naji Nahas? Eu, honestamente, não lembro. Mas ontem, no "O Estado de São Paulo", ele publicou um artigo-desabafo que me fez recordar do assunto. Segundo a matéria abaixo, ele teria "manipulado o preço das ações" na bolsa.

Agora, ele foi absolvido. Ou seja, a Justiça o livrou das acusações.

Nahas absolvido... e com sede de vingança

A pergunta para o leitor é: como é que provaram que ele manipulava preços de ações?

Afinal, esta é uma questão que exige critérios técnicos bem claros. Eu não sou especialista na área e, portanto, não posso dizer muito. Mas, convenhamos, sem uma boa resposta a esta pergunta, qualquer um pode ser acusado de manipular preços. Comentários?
No caminho da escravidão

Quando Hayek publicou "O Caminho da Servidão", não fez muito sucesso. Alguns anos depois, o livro foi reconhecido mas, ainda, hoje em dia, alguns economistas não dão a devida atenção à colaboração hayekiana ao pensamento filosófico e econômico.

Mas tem horas que eu penso que Hayek se transformou num Jonathan Swift, com sua "A Modest Proposal", aquela peça crítica da ciência (Swift era daqueles católicos radicais), irônica, que foi interpretada por muita gente sem coração como uma proposta séria (em resumo, dizia Swift, a solução para a fome dos pobres seria facilmente resolvida com um pouco de sacrifício. Você usaria a carne dos filhos pobres mais novos para alimentar os filhos mais velhos).

Pois é. Acho que tem gente que pensa que o livro do Hayek é um "guia para a servidão". Pelo menos no Brasil. Olha o título desta matéria: JB Online - Estatal do sangue assusta pesquisador.

Ou seja: (i) um militante aceitou suborno de bingos? Fecha os bingos (e abra uma loteria estatal para as universidades...todo mundo se encanta com universidades e saúde); (ii) tem assessor corrupto na Saúde? Fecha tudo e abre uma estatal.

Alguém já pensou que governantes angelicais não são condição suficiente para um bom governo? E, ademais, existem burocratas puros, angelicais e honestos? O discurso da "ética na política" é tão bom que os coerentes foram expulsos.

Preciso reler aqueles livros velhos do Kafka...
EXTRA: PIB PER CAPITA DO BRASIL PODE DIMINUIR LOGO

Atenção leitor, um dos membros deste blog, o Ari, acaba de me ligar. Está na maternidade, com a esposa. Aparentemente, o PIB per capita pode diminuir ainda agora de manhã.

Fique ligado para novidades sobre o mais novo brasileiro: Matheus.
No curto prazo, a cultura é menos tolerante. Mas no longo prazo...

Um exemplo de como um aumento na demanda gera um movimento de aumento na oferta está nesta matéria sobre a língua inglesa na Índia.

Demand for English-speakers in India boosts language education centres

Ou seja, apesar dos bons e velhos nacionalismos, a demanda pelo aprendizado da língua inglesa aumentou (as chances de se enriquecer com o uso do inglês aumentaram, logo...). E, claro, não de um dia para outro, mas com algum tempo (necessário para se abrir um cursinho de inglês ou para se colocar um cartaz na porta de casa: "aulas de inglês aqui"), surgem os ofertantes.

E nada disso foi planejado pelo MEC da Índia (se é que isto existe lá).

domingo, junho 13, 2004

Thomas Sowell

Já que o Marcus e o meu xará citaram-no recentemente, senti-me compelido a procurar ler algo do Thomas Sowell de novo. Fazia tempo que não dava uma lida na coluna dele. E aí achei estes dois interessantes artigos. Nada profundos, creio, mas simples e sobre meu assunto predileto: custos e benefícios.

1. Thomas Sowell: Talkers versus doers

2. Thomas Sowell: Talkers versus doers - Part II [neste segundo artigo, uma explicação interessante de porque o "big business" adora financiar seus adversários na esquerda...creio que a explicação do incentivo econômico é interessante. Leitores de Olavo de Carvalho gostarão, acredito, de contrastar as explicações dele com a de Sowell. Serão tão diferentes assim?]

Então, este foi o post dedicado a um amigo que sempre me lembra da importância da ética e ao leitor que, como todo Cláudio, é chato (embora ele seja "do bem", he he he).
Milton Friedman sobre Ronald Reagan

Vale a pena.

" Let me talk, rather, of those presidents who I've known in my own lifetime. And there, there's no doubt in my mind that Ronald Reagan was by far the greatest.

"...it took real principles to do what he did. For example, one of the things he was determined to do was to end inflation. Now, there's no way to end inflation without having recession. The month after Reagan became president, Paul Volcker (then head of the Federal Reserve) started to slow down the rate of monetary growth. And that did lead to a recession. And that recession led to a sharp decline in the President's poll ratings. In my mind there is no other president in my lifetime who would have stood by to support the Fed in those circumstances."

-- Milton Friedman, interviewed by David Asman of Fox News, May 15, 2004

Fonte: TCS: Tech Central Station - Reaganomics in Context
Quota para um Hitler negro ou para um Mandela?

Excelente artigo de Rogério Werneck, economista da PUC-RJ, sobre a questão das quotas que o governo quer impor a qualquer custo (menos o da democracia parlamentar...ainda) sobre as universidades.

O ponto principal é: deixe de obrigar os outros a seguirem sua idéia, cara. Deixe eles experimentarem e dê apenas diretrizes gerais.

Werneck não sabe, mas ele é bem hayekiano neste ponto.

Trecho (leia, mas leia mesmo, todo o artigo): Embora sejam ferrenhos defensores do que foi feito nos últimos 40 anos em termos de admissão de estudantes negros nas melhores instituições universitárias americanas, os dois autores declaram-se frontalmente contrários a qualquer tipo de imposição de quotas e reservas.

Sublinham a necessidade de se preservar a autonomia universitária e de se dar espaço para experimentação e diversidade.

Reconhecem que é mais do que legítimo que a sociedade e o governo cobrem, do sistema universitário, empenho na busca de uma composição mais equilibrada do alunado, tanto em termos de raça como de extração social. Mas argúem que cada instituição de ensino superior deve ter liberdade para definir a melhor forma de levar adiante essa missão mais ampla, à luz de suas características e especificidades.
Peraí, seu ministro. E os custos?

Segundo esta notícia, o governo quer criar uma loteria para financiar a universidade. O trecho a seguir é da matéria: A idéia vem dos EUA, onde diversas universidades estaduais são financiadas com esse tipo de loteria. Seria uma forma de o ministério fazer crescer os parcos recursos do orçamento da educação. Mas, mesmo com a criação do fundo, o dinheiro reservado às universidades não aumentaria muito.

Ué, se não vai ajudar muito na educação, ou seja, se a receita marginal gerada é baixa, o cálculo do custo-benefício não indica que é melhor nem criar a loteria? Ou o custo - para meu bolso de contribuinte - é tão baixo que a receita marginal é infinitamente maior que o custo marginal, ainda que seja mínima? Ou é esta proposta pura sandice?

Comentários?
Este pessoal sempre foi meio autoritário...

Ainda na coluna do Gaspari, esta é para pensar.

Um lance de censura em nome do PT

Odiretor do núcleo de documentários da TV Cultura de São Paulo, Mário Borgneth, produziu uma magistral encrenca. Por motivos políticos, recusou-se a transmitir o trabalho “O sol da liberdade”, uma reconstrução da campanha das Diretas de 1984, feita pelo jornalista Alex Solnik. Cancelou a transmissão de uma peça que a emissora programara e divulgara.

Numa entrevista ao repórter Maurício Stycer, Borgneth contou que o trabalho de Solnik tinha “um buraco monumental em relação ao movimento sindical e ao recém-criado PT. O filme apresentava um painel bastante incompleto das forças que viabilizaram as Diretas (?) Não faço co-produção de mentirinha.”

A argumentação de Borgneth não é de co-produtor, mas de comissário. A campanha das Diretas foi a maior mobilização popular da História brasileira. Se algum partido tem o crédito desse magnífico momento, ele é o falecido PMDB de Franco Montoro, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. O papel do PT nessa mobilização foi relevante, mas não foi fundamental.

Solnik fez o seu documentário de 55 minutos com R$ 15 mil do Senac e um generoso apoio logístico da TV Cultura. Seu trabalho é simples, pobre. Tem alguns momentos emocionantes, como uma passeata na Praia de Capão da Canoa. Reflete bem a época e é melhor vê-lo do que decidir não vê-lo.

Borgneth suspendeu a exibição com argumentos de duas ordens. Um, genérico, é a ausência do PT. Tem toda razão na crítica. Lula não aparece no filme e o governador Aécio Neves faz três aparições banais, longas e injustificadas. Em 1984 ele era apenas o secretário do avô, Tancredo Neves.

Outras restrições foram pontuais. Solnik conta que Borgneth se contrariou com o depoimento do ex-deputado Airton Soares, que teve de deixar o PT porque votou em Tancredo Neves. Não gostou que Fafá de Belém contasse o boicote que Franco Montoro tentou impor-lhe, nem de Mário Covas Neto dizendo que hoje o PT está à direita do PSDB. Essas observações pontuais, amparando a decisão de não levar o documentário ao ar, são um exercício clássico de censura.

O documentário tem tucano demais e barbudo de menos. E daí? O trabalho é de Solnik, não de Borgneth. Se o jornalista tivesse dado muito espaço aos tucanos num documentário sobre as greves do ABC, teria sido parcial. No caso das Diretas, os petistas foram coadjuvantes. Enfiar sindicalistas num documentário como o de Solnik seria delírio stalinista. “O sol da liberdade” é um retrato aceitável do que foi a campanha das Diretas. Tomara que a conduta de Borgneth não seja um retrato de novos padrões na TV Cultura, uma instituição pública.

A TV Minas já transmitiu o documentário e é provável que a TV Senado venha a fazê-lo. Se Deus é brasileiro (mesmo que seja petista), o documentário de Solnik será transmitido pelas emissoras de televisão interessadas em informar ao público que, independentemente do que se acha da peça, um comissário é pouco para silenciar uma produção cultural decente.
Brasileiro é, sim, corporativista

Mais uma do Gaspari de hoje, que finalmente parece ter descoberto o problema dos conselhos profissionais. (leia também o resto da coluna dele para ver o que os políticos fazem com a carga tributária de trinta e tantos por cento que tiram de você...)

Tunga geral

Benjamin Franklin ensinou que há duas coisas inevitáveis: pagar impostos e morrer.

Os conselhos de profissionais liberais brasileiros decidiram que há uma terceira: sustentá-los.

O Conselho Regional de Administração do Rio Grande do Sul recusou-se a alforriar um analista do Banco Central (Antonio Carlos Timm Junior), sustentando que sua atividade profissional é privativa dos administradores.

Se é, o Banco Central não sabia, pois exigiu apenas diploma de curso superior aos candidatos às vagas e elas foram ocupadas por engenheiros, economistas e advogados. Ele só conseguiu se libertar do conselho, e da tunga das anuidades, porque foi à Justiça. Mesmo depois de ter ganho a causa (porque o CRA perdeu os prazos) a moçada continua a mandar-lhe boletos de cobrança.

No Rio, o Conselho de Biblioteconomia recusa-se a libertar uma cidadã (Maria Alice Mansur) que simplesmente não exerce mais a profissão.

Pelo visto, ser profissional liberal é um crime hediondo. A pessoa está condenada a sustentar os conselhos sem direito à liberdade condicional.