quinta-feira, março 13, 2003

Finanças: recomendação

Você acha que sabe finanças? Bem, aqui vai um belo desafio de leitura. Vários artigos interessantes e nada fáceis de ler. Seu nome? Finanças Aplicadas ao Brasil organizado pelo professor da EPGE-FGV, Marco Bonomo.


Sinopse:
Este livro reúne artigos de pesquisadores de instituições acadêmicas e financeiras , que aplicam a moderna teoria de finanças ao mercado de capitais brasileiro.Cobre temas , desde testes sofisticados do CAPM à análise da estrutura a termo brasileira, passando por assuntos importantes, como a eficiência do mercado acionário e o mercado de controle de capitais no Brasil.
O livro está dividido em 5 partes :
Testes de Modelos Lineares :
CAPM e APT;
Testes de Modelos Intertemporais de Apreçamento de Ativos;
Eficiência do Mercado de Ações Brasileiro;
O Mercado de Controle Acionário no Brasil; Mercado de Juros no Brasil.

quarta-feira, março 12, 2003

Ainda a greve de ônibus

Outro dia eu falei da greve dos motoristas de ônibus em BH. Bem, cá estou de volta com o mesmo tema. Para refrescar a memória, resumo meu argumento:

1. A propaganda dos sindicatos é de que lutam contra os patrões por melhores salários.

2. Se isso é verdade, deveríamos observar táticas grevistas que prejudicassem os patrões. Contudo, o que se observa não é uma política de liberação de catraca, mas sim de lentidão de serviços.

3. O órgão regulador, a BHTRANS, é, na verdade, quem resolve isso, dado que o transporte público em Belo Horizonte é regulado por ela.

Pois bem. Eu achava que a greve havia acabado. Contudo, acabo de ver a notícia na TV. Aparentemente, de forma planejada ou não (but I bet it is), as greves estão sendo "divididas" ou "regionalizadas" por áreas da cidade.

Explico. Um dia você dificulta a vida de quem mora na região A, depois de alguns dias, na região B, etc.

Existe racionalidade nisso? Bem, a má notícia é que pode haver uma sim. Basta pensarmos no que é o transporte coletivo. Em termos econômicos, é um bem com características de bem público. Assim, a tendência que seja ofertado por mecanismos outros que não o mercado é alta. Tanto é assim que existe uma BHTRANS e não apenas empresas e empregados.

Mas há mais. Bens públicos são complicados quando se pensa em análise de custo-benefício (a única coisa que nos distingue - economistas - do resto do povo da universidade...). Custos e benefícios em economia adquirem novo formato quando se trata de bens públicos. Existem determinados bens cujos custos são dispersos e os benefícios concentrados e, claro, temos o caso contrário.

E como isso tudo entra na greve dos motoristas? Bem, ocorre que uma greve global, de uma só vez, em toda a cidade, gera muito mais reclamação dos cidadãos do que se o motorista grevista a fizer em sua área de atuação. Vale dizer: os grevistas são agentes racionais. Eles estão minimizando o tamanho absoluto da oposição a sua greve (a população) procurando não dispersar os custos (da greve) para todos de uma só vez o que geraria muito mais reclamação.

Note que é mais difícil para a população perceber o que ocorre. Por que? Pense em cada bairro como uma ilha. Dispersar a população por ilhas é o mesmo que dizer que adquirir informação custa tempo e, portanto, nem todos se informam com a mesma rapidez sobre o que se passa. Assim, a informação assimétrica é usada em benefício dos grevistas. (ok, a TV minimiza este efeito, mas assistir TV tem um custo...por isso você não a vê integralmente no dia anterior à prova...)

Claro, uma forma de corrigir isto seria a imprensa divulgar estes fatos. Como o cidadão comum também é racional, logo ele perceberia a estratégia. O sujeito pode não ter o segundo grau, mas não é burro. E é por isso que eu digo: pobre ou rico, ninguém dá tiro no próprio pé sem que o queira (tirando, claro, a hipótese de acidentes...)

terça-feira, março 11, 2003

O ovo da serpente

Quem nunca ouviu falar de Jacob Viner? Da graduação aprendi que o sujeito ficou famoso por ter desenhado errado as curvas de custo médio de curto prazo em sua relação com a de longo prazo.

Claro, falar mal é fácil. Mas Viner é mais famoso por seu monumental Studies in the Theory of International Trade. Eu tive de ler alguns pedaços para minha tese e devo dizer que o resumo que ele faz da doutrina mercantilista é algo de fazer inveja a muito historiador do pensamento econômico. Acho que só Schumpeter conhecia mais economistas antigos que ele.

De qualquer forma, aí vai. Adivinhem quem foi um de seus professores: Stephen Leacock. Este cara é uma salada estranha de influências teóricas e tinha um incrível bom humor (escreveu "Hellements of Hickonomics", um livro de poemas estranho que consegui comprar na alibris, na época do bom câmbio brasileiro...)

Enfim, o legal é que se você ler a história de Viner e a de Leacock poderá notar que ambos são quase que o oposto em termos ideológicos.

É isso aí. Eu também passei por muito professor de diferentes idéias. Alguns tentaram me doutrinar e, claro, não são os que me deixaram alguma lembrança boa mesmo que na época eu achasse as idéias deles interessante.

Coisas das ciências humanas...

segunda-feira, março 10, 2003

Um lembrete importante

De minha graduação tenho boas e más lembranças. Uma delas é que o famoso "custo de oportunidade" só apareceu em minha formação lá pelo segundo ano.

Levei tempo para decifrar a importância do conceito. Claro, vários colegas inteligentes deram conta do recado antes de mim. Mas, para mim, nas tardes passadas na biblioteca, P1/P2 = Umg1/Umg2 era algo que só me dava dor de cabeça sobre o sinal (o famoso "menos" que some..ou não) e os problemas do chatíssimo (para mim) livro do Ferguson.

Foi difícil entender a amplitude desta singela igualdade. Creio que alguns poucos professores da graduação me deram boas pistas sobre qual das estradas tinha os tijolinhos dourados. Mas, eu, como bom burrão, só percebi isso claramente depois de algumas leituras no mestrado.

E a vergonha de assumir isso? Camaradas (ops, companheiros, ops, colegas), isso foi difícil. Mas, como já disse alguém, a ignorância assumida é melhor do que a arrogância. E lá fui eu pelo mundo afora entender o mundo com a Economia...

Falei isso tudo porque, hoje, um aluno levantou uma questão tradicional sobre os rótulos que os economistas costumam usar para se referirem aos inimigos: keynesiano, neoclássico, marxista, etc.

Trata-se de uma discussão cuja relevância só parece ter a dimensão que tem neste país. Se posso ajudar a esclarecer as coisas, eu diria o seguinte (como disse uma vez Milton Friedman num debate sobre os austríacos): não existe economia austríaca e não-austríaca, existe boa e má economia.

Claro que esta resposta é boa para impressionar as meninas (bem, eu nunca tive sorte com esta, mas, quem sabe...), mas deixa em aberto uma questão mais chata: o que é "boa economia"? Bem, neste ponto eu me alio a Walter Williams.

Walter Williams talvez seja mais profícuo em debates públicos e jornais do que na Academia (basta olhar sua produção acadêmica). Para dizer a verdade, foi assim que o conheci: lendo alguma coluna dele em um dia de sol na web.

Mas ele tem um bom ponto sobre a boa e a má economia. Para ele, um mau economista é aquele que te diz que existe almoço grátis. O bom economista é o que te diz que isso é bobagem.

E aqui voltamos ao problema inicial: o custo de oportunidade. Se há um rótulo para economistas, talvez este seja o único aceitável. O resto é verborragia, bicho.

Não é apenas no amor que os conceitos dão voltas na cabeça da gente e caem amadurecidos depois de muito tempo em nosso coração. Também assim o é em Economia. Eta vida danada....
A pausa no Blog e a menopausa ótima

Você nunca achou que iria encontrar artigos sobre menopausa aqui, né? Aí vai:

Is Menopause Optimal?

Abstract

Various theories have been put forward to explain the fact that humans experience menopause while virtually no animals do. This paper aims to investigate one such theory: as human babies are usually large and have long gestation periods, a substantial risk of death exists for the mother. It makes therefore sense to impose a stopping rule for fertility. However, this stopping age should not be too low, for the mother needs children to support her during old age. Given an objective (support for old age) and demographics (mortality of mother and children), an optimal age for menopause can be calculated. Using demographic data from populations that have seen little influence from modern medicine, this model is solved for the optimal menopause age, which is then compared to empirical evidence.

O autor, Christian Zimmermann, tem uma ótima página sobre ciclos econômicos reais. Faz tempo que eu baixei este artigo dele...bem, mulheres, aí está a minha colaboração "feminista". :-)