sábado, agosto 28, 2004

Um bom comentário sobre a Venezuela

Alvaro Vargas Llosa (filho do escritor) tem um bom comentário sobre a Venezuela no link abaixo.

Next Steps in Venezuela: Newsroom: The Independent Institute
Faça o que eu falo, não faça o que eu faço ou "Por que alguns acadêmicos são hipócritas"

Um artigo bacana, do Don Bodreaux e do Eric Crampton, sobre questões como esta (em formato PDF).

Trechos: For much the same reason that political decision makers will be too poorly informed to make socially optimal decisions—that is, for much the same reason that political decision makers are likely to suffer false consciousness—academics in their roles as social critics will be inadequately informed when criticizing private choices and when offering public-policy proposals. Like an individual voter, an individual academic has neither a decisive input into the choice of social policies nor a direct personal stake in the outcomes of most public-policy decisions. Academics who diagnose what they perceive to be pathologies in existing political and social ideologies, and who prescribe cures for these alleged maladies, have neither a decisive input nor a direct personal stake in the outcomes of whatever cures they propose. Among such academics, a favorite “cure” for alleged pathological ideologies is “consciousness raising.” Consider, for example, Mari Matsuda’s definition of the term : “By ‘consciousness-raising,’ I mean a collective practice of searching for self-knowledge through close examination of our own circumstances, in conjunction with organized movements to end existing conditions of domination” (1990, 1778–79).

The social critic has negligible effects on actual public policy and generally has little at stake in whatever matter he happens to be discussing. Hence, academic social criticisms and policy proposals will likely be distorted by misinformation, whimsy, and intellectual arrogance.Therefore, we should treat academics’ social criticisms and policy proposals skeptically, especially when they are aimed at institutions formed by the decisive choices of individuals who have a substantial personal stake in making sound decisions.
Teorema de Coase...na prática

Outro exemplo de que a barganha coasina existe no mundo real (este post é uma homenagem aos meus ex-alunos do semestre passado, que achavam que o teorema de Coase era uma curiosidade interessante e nada mais).

Coasian Contracts in the Coeur d’Alene Mining District
Sex, the economist, and the city

Eis aí um bom artigo para se pensar: Prostitution and Sex Crimes: Publications: The Independent Institute

Por que existem governos? - Uma nova explicação

Meus alunos de primeiro ou segundo período aprendem direitinho como qualquer um que lê seu primeiro livro-texto de Economia: governos existem por causa dos bens públicos e das externalidades. Mas eles sabem que pode haver problema em se pensar de forma tão inocente, digamos assim.

Randall Holcombe é um economista importante nesta discussão. Primeiro porque ele já deu algumas contribuições à disciplina de Economia do Setor Público bem na linha da Escolha Pública.

Mas o artigo citado abaixo avança a discussão para um ponto além, tal como sempre o fazem os economistas: vamos endogeneizar o governo? (ou, para os não-iniciados: vamos explicar a existência do governo, sob o ponto-de-vista econômico ao invés de simplesmente assumi-lo como dado?)

Link: Government: Unnecessary but Inevitable - By Randall G. Holcombe

Governments are formed not to create goods and services for their citizens but to impose force on people. This truth may seem elementary, but its full implications are sufficiently subtle to have eluded the miscast debate over limited government versus orderly anarchy.


Leia e perceba que Holcombe é original no argumento. A literatura da qual ele parte é, surpreendentemente, pouco conhecida nos meios acadêmicos brasileiros (falo de economistas apenas).
Teoria econômica austríaca prevê bem?

Austríacos - alguns deles - irão me bater após ler o título. Mas o ponto está sendo levantado por um economista austríaco. E vale a pena ler (eis um artigo que o prof. Iorio gostaria de ler...).

Who Predicted the Bubble? Who Predicted the Crash?: The Independent Review: The Independent Institute
Interessante discussão

Em # The Private Neighborhood (PDF, 7 pp, 234 kb), Robert H. Nelson faz uma discussão de política pública específica para os EUA mas que, na minha opinião, é bem interessante.

Vale a pena dar uma olhada? Claro. Nunca se sabe de onde virá nossa próxima boa idéia pois, como disse Hayek, informação é um bem disperso...
Censura

Virou manchete nacional a tentativa frustrada de encontrar um jornal ilegal na gráfica do oposicionista "O Tempo". Para quem falava de Bush e armas de destruição em massa, é difícil entender tanto silêncio agora.

É incrível como as pessoas no Brasil parecem achar que a liberdade (dos outros, claro) é um valor relativo. De qualquer forma, censura e crescimento econômico não combinam.

Pessoalmente estou curioso para ver o próximo número de "O Pasquim"...

Links:

1. Primeira Leitura : Leia : E a Fenaj se calou

2. ABUSO DE AUTORIDADE: POLÍCIA FEDERAL ALGEMA EDITOR GERAL DO JORNAL O TEMPO - ALMERINDO CAMILO FICOU ALGEMADO POR UMA HORA NAS DEPENDÊNCIAS DO JORNAL. SJPMG JÁ ENVIOU REPRESENTAÇÃO AO SUPERINTENDENTE DA POLÍCIA FEDERAL, CONTRA ESSA ATITUDE CONSTRANGEDORA DOS POLICIAIS.

3. Manuel Vega-Gordillo and José L. Álvarez-Arce - Economic Growth and Freedom: A Causality Study (PDF, 9 pp., 49 Kb)

sexta-feira, agosto 27, 2004

Orkut = spam?

Uma das coisas mais interessantes deste tal de Orkut - na minha opinião - é que o mesmo barateou o custo do spam. Mesmo nos grupos do yahoo, o spam é menor. No Orkut, por algum motivo, provavelmente ligado à tecnologia de como se formam os grupos, ficou fácil.

Tenho verificado que os grupos a que pertenço raramente trocam mensagens. Mas sempre existe um sujeito (provavelmente um clone virtual sem o correspondente real que se imagina) que envia aquelas mensagens malucas de spam. Muitas delas são lendas urbanas, outras são xenofobia brasileira pura (adequada em época de eleições, onde o discurso do "Brasil potência" já ganha do da era dos militares) e, um ou outro, é propaganda.

O que me espanta não é que eu veja tanto spam. O que me espanta mesmo é que parece só haver spam.

Ironicamente, a internet facilitou a comunicação entre as pessoas (claro), mas parece que ninguém quer se comunicar muito, exceto para tentar nos vender parafusos, páginas da internet ou qualquer outra coisa.

Por que há mais spam no orkut que no yahoo? (ou é viés de seleção meu?)
Economia para terroristas, músicos, etc

Belo artigo de Landsburg. Link: The $100 Terrorist Insurance Plan - A better way to screen airline passengers. By Steven E. Landsburg
Função CES, na prática

A função CES, mamãe da Cobb-Douglas, mostra que sempre existe uma substituibilidade entre bens em taxas variáveis. Ok, é um bom problema teórico, certo?

Uma vez, há alguns anos, de brincadeira, eu reinterpretei a função como CIS (Crise de Identidade Sexual) em um "joking paper" que ficou famoso entre os alunos do PPGE.

Era só uma brincadeira, claro, na qual eu obtinha, conforme as preferências do cara, várias opções sexuais (homem, mulher, atleticano, etc :D).

Agora, esta notícia (registre-se rapidamente) parece mostrar que algumas pessoas realmente possuem uma função como esta.

Piadinhas à parte (pobres atleticanos, não fiquem ofendidos, o bom humor sempre prevalece, né?), não deixa de ser engraçado. Vamos ver se os homossexuais são tão liberais quanto dizem, e apóiam esta iniciativa.

O ônus da prova está com...
Parabéns prá você...

Direto do Econlib (link fixo ao lado), a lista dos aniversariantes de 11.08 - 01.09.

Born August 23: Kenneth Arrow (1921-) and Robert Solow (1924-).
Born August 24: Harry Markowitz (1927-).
Born August 27: Walter W. Heller (1915-1987).
Born August 28: Tjalling Koopmans (1910-85).
Born August 29: John Locke (1632-1704).
Born August 30: Sir Richard Stone (1913-1991).
Born September 1: William Stanley Jevons (1835-1882).
Competição: Econômica e Esportiva

Há ligação, claro. Mas o artigo de Sanderson é desafiador. Dê uma checada em: Allen R. Sanderson, The Puzzling Economics of Sports: Library of Economics and Liberty.

Sobre sportometrics não vou nem falar porque não quero ser repetitivo...
Quanto custa a sua "ética na política"?

Se você é um sujeito que acha que sua decisão deve se submeter à regra da maioria (algo como: "Isaac, cala a boca e vai para o chuveiro de gás que o chefe foi eleito democraticamente!"), então você provavelmente troca seu discurso de "ética na política" por "poder político".

Ora, quando um Gaspari ou um Villas-Bôas Correa publicam um artigo mostrando como a outrora ética de um partido contra a reeleição do (malvado, feio e gordo) FHC (recheado de debates intelectuais que Sérgio Motta chamava denominava "masturbação intelectual") se transforma quando o mesmo partido está no poder, não é difícil se perguntar sobre o porquê de tanta vontade de dizer: "liberdade de imprensa? Isto é relativo".

E as eleições estão chegando. Os jornalistas que ganharam cargos oficiais estão caladinhos. Os jornais que vivem de verbas publicitárias do Estado também estão quietinhos. Os empresários, clientes do BNDES e similares estão bem quietos. E os jovens, bem, estes estão fazendo corpo mole para ler dois capítulos de livro para a prova.

Quem diria...
Sexo pago

Como a internet facilita o contato entre consumidores e ofertantes de sexo pago? Pergunte à Bruna Surfistinha. Ela está aqui, em matéria do Nomínimo.

Trecho: Bruna Surfistinha acorda todo dia por volta das 11h e estuda as apostilas do supletivo. Começou faz um mês, espera terminar rápido o segundo grau. Então, almoça. Gabi, sua companheira de apartamento, cozinha bem, comida caseira, arroz e feijão, carne ou frango, coisa simples. Por volta das 14h, segue para o flat que aluga à parte. Às vezes, trabalha até meia-noite. Costuma cobrar 150 reais por hora e meia, tem em média cinco clientes por dia, é normal que sinta nojo pelo menos de um deles. Aí o toque lhe é desagradável. Usa sempre camisinha, faz exames a cada três meses. A maioria são homens entre 30 e 45 anos, casados. Às vezes aparecem rapazes mais novos, em geral muito tímidos ou muito feios. Ou gordos. Muitos japoneses. "Solteiro bonito pega quem quiser na balada", explica, a gíria paulista lhe é natural. Não é raro que goze.

Como é que o governo federal incentiva este tipo de vida? Fácil. Basta ver a legislação tributária. Pena que eu não seja tão sexy assim. Agora vamos lá. Nós, senhores homens e safados, sabemos que sábados e domingos são dias em que as "Brunas" são mais requisitadas. Logo, a elasticidade-preço não é igual à da semana. Por que elas não cobram um preço maior no final de semana?

Meu palpite: elas preferem ignorar isto para manter a reputação de boas comerciantes de sexo já que ganham bem nos sábados e domingos (sem falar nos ricaços que pagam R$ 150,00 + extras (vinho, almoço, hotel grátis, final de semana na chácara, etc).

Comentários?
Quanto vale um otaku?

Para quem conhece cultura japonesa, "otaku" não é uma palavra estranha. É sinônimo de U$ 2 bilhões em negócios.

Ou seja, vale a pena comprar o live-action movie de Cutie Honey, os desenhos de Atom (Astroboy) ou os DVD's do OVA Dai Yamato Zero Go (assim que aparecerem por aqui)?

Se você gosta, vale.

Japan's nerds represent US$2.6 billion market

quinta-feira, agosto 26, 2004

1o Seminario de Economia de Belo Horizonte

O que Aloísio Araújo, João Victor Issler, Paulo Pichetti têm em comum além de serem excelentes economistas? Bem, eles estarão neste seminário em Belo Horizonte.

E, claro, há um pequeno time de gente menos conhecida, mas não menos esforçada e competente (veja os nomes no link acima). Por algum engano, também estou lá, representando os meus co-autores (Leo e Ari). :)

quarta-feira, agosto 25, 2004

Novo blog

Economista (quase formado) da UFPel, aluno do Leo, está de blog novo na praça. Chama-se "Vizinho do Xerife" (http://vizinhodoxerife.blogspot.com).

Vai lá que vale a pena. É diversão certa.
Você elegeu, você quis, agora...você vai aceitar esta?

Julgue por você mesmo.

Projeto de lei complementar que aguarda apreciação em uma das comissões da câmara...

Inacreditável Tramita na Câmara o projeto PLP -137/2004 que Estabelece o Limite Máximo de Consumo por família. A partir de janeiro de 2005, será estabelecido pelo governo um limite mensal de rendimentos. De Nazareno Fonteles do PT/PI

O que ultrapassar o valor determinado pelo governo, irá para uma conta como empréstimo compulsório, em uma conta especial de caderneta de poupança no Banco do Brasil ou na CEF, em nome do depositante, denominada Poupança Fraterna. Não acredita? Então visite o site: http://www.camara.gov.br/Sileg/Prop_Detalhe.asp?id=156281 E tem mais, pretendem confiscar parte dos rendimentos, veja o artigo 6º abaixo: PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR Nº 137 , DE 2004 Estabelece o Limite Máximo de Consumo, a Poupança Fraterna e dá outras providências O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º Fica criado o Limite Máximo de Consumo, valor máximo que cada pessoa
física residente no País poderá utilizar, mensalmente, para custear sua vida e as
de seus dependentes.

§ 1º O Limite Máximo de Consumo fica definido como dez vezes o valor da renda per capita nacional, mensal, calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, em relação ao ano anterior.

Art. 2º
Por um período de sete anos, a partir do dia primeiro de janeiro
do ano seguinte ao da publicação desta Lei, toda pessoa física brasileira, residente ou não no País, e todo estrangeiro residente no Brasil, só poderá dispor, mensalmente, para custear sua vida e a de seus dependentes, de um valor menor ou igual ao Limite Máximo de Consumo.

Art. 3º A parcela dos rendimentos recebidos por pessoas físicas,inclusive os que estejam sujeitos à tributação exclusiva na fonte ou definitiva, excedente ao Limite Máximo de Consumo será depositada, mensalmente, a título de empréstimo compulsório, em uma conta especial de caderneta de poupança, em nome do depositante, denominada
Poupança Fraterna.


§ 1º A critério do depositante, sua Poupança Fraterna poderá ser depositada no Banco do Brasil ou na Caixa Econômica Federal, podendo ser livremente movimentada, pelo seu titular, entre estas duas instituições financeiras, as quais desenvolverão seus melhores esforços para assegurar a correta e eficiente aplicação dos recursos
assim captados.


Art. 6º Os recursos depositados na Poupança Fraterna serão aplicados, com juros limitados ao máximo de 50% (cinqüenta por cento) do rendimento pago aos depositantes da caderneta de poupança do Sistema Financeiro de Habitação: Se tiver paciência com tamanha barbaridade vejam o projeto na íntegra no site:


http://www.camara.gov.br/Sileg/Prop_Detalhe.asp?id=156281
As Causas da Grande Depressão - II

Continuação do texto do prof. Ubiratan Iorio que já foi citado aqui há algumas semanas. O link é aqui.
Você tá com medo do spread bancário?

Questão polêmica e interessante. Muitos acham que já foi resolvida (se nem a minha vida resolvo, por que é que questões como esta seriam fáceis?), mas a discussão continua. Trechos do artigo abaixo mostram o quão longe de uma conclusão mais sólida estamos mas, adicionalmente, mostram que é um vasto campo de estudos. Alguém com interesse, coragem, humildade e disposição?

Deve-se dar ao lucro dos bancos no Brasil uma avaliação mais ponderada

Miopia na questão dos juros - Por Roberto Luis Troster (Valor Econômico - 25/08/2004 - opinião)

(...)

É fato, as taxas de juros no Brasil estão entre as mais altas do
mundo e deve-se promover sua redução para aumentar o investimento,
diminuir o grau de mortalidade de empresas brasileiras e engendrar as
condições para o desenvolvimento sustentado. Como as expectativas de
queda da taxa Selic são limitadas, representantes de todos os setores
da sociedade, inclusive do governo, clamam por ações para baixar o
spread bancário, ou seja, a diferença entre a taxa cobrada pelos
bancos e os juros básicos. Mesmo considerando que em função da
consistência das políticas fiscais e monetárias os spreads vêm
caindo, seu valor ainda é muito alto.

O primeiro ponto é sobre o valor do spread. Os números usados como
referência são inconsistentes e induzem a uma percepção parcial e
distorcida da realidade. Tese de doutoramento defendida na
Universidade de São Paulo (USP), há um mês, pela brilhante economista
Ana Costa, aprofunda a questão do spread.

A autora demonstra de maneira categórica que o estudo do Banco
Central apresenta limitações de: a) amostra - os produtos
selecionados cobrem apenas uma parcela do total do crédito; b) no
cálculo da inadimplência - que pode subestimar seu valor; c) há um
viés de seleção no conjunto de bancos - usam-se apenas 17 privados e
excluem-se os públicos; e d) na definição de margem líquida - a
nomenclatura é ambígua e induz a uma interpretação errônea de seu
significado.

O trabalho defendido faz uma estimação da participação da margem
líquida dos bancos no spread, corrigindo as distorções apontadas. O
resultado é comparado com o obtido com a metodologia e a amostra
original do Banco Central. Enquanto o cálculo do BC é de 38,28%,
aprimorando a metodologia, corrigidas as distorções e ampliada a
amostra, a margem líquida cai para 7,24% na tese de Ana Costa. A
autora conclui que os bancos "no Brasil, contrariamente ao que
estudos anteriores sugerem, apresentam uma componente de margem
nessas operações que é, na média, bastante reduzida". Ou seja, a
margem dos bancos não é a razão principal dos juros altos.

Outra causa apontada dos spreads elevados é a concentração do setor
bancário. Entretanto, levantamento do Banco Mundial (ver BEKC,T e
outros 2003) comparando a taxa de concentração bancária entre 74
países, mostra que a concentração brasileira é mais baixa que a
média. Uma ordenação coloca o Brasil entre os 20% menos concentrados.

Os lucros dos bancos são apontados por muitos como altos. A
justificativa para serem elevados é porque os bancos são empresas
grandes em função de sua escala de operação e risco. Todavia uma
comparação do seu lucro com seu patrimônio mostra que sua
rentabilidade não é excepcional. Na recente publicação Valor 1000 de
2004 que mostra o lucro das maiores empresas brasileiras, o banco
mais rentável estaria em 129º lugar, e só 5 bancos se situariam entre
as 300 empresas mais rentáveis. Nesse sentido, deve-se dar ao lucro
dos bancos uma avaliação mais ponderada.

(...)

É inconteste que no Brasil os bancos cobram juros elevados, no
entanto, esses juros não revertem em lucro. Desta forma, enquanto o
lucro dos bancos, sua margem no crédito e a concentração são causas
secundárias, as causas relevantes - tributação, compulsórios e o
quadro institucional - devem ocupar um lugar de destaque no debate.

A tributação brasileira é bizantina. Numa operação de um mês que não
gere lucros, o investidor não seja remunerado, sem custos bancários,
inadimplência nula e com a taxa Selic igual a zero, por conta dos
compulsórios, CPMF, FGC, PIS, Cofins, FGC e IOF produz uma taxa
anualizada de 29,40% ao ano. Um absurdo!

Os compulsórios no Brasil são draconianos. Seu uso como instrumento
de política monetária e de estabilidade bancária já foi abandonado em
quase todos os países. Os valores recolhidos no Brasil são os mais
altos do mundo e, na prática, o compulsório funciona como um imposto
indireto, pois permite o financiamento de parte da dívida do governo
a um custo abaixo do mercado. A questão é que esse tributo camuflado
onera todos os demais créditos.

O quadro institucional para operações bancárias é obsoleto e
inadequado. Os direitos dos devedores devem ser defendidos de maneira
célere, previsível e eficiente, o que não acontece. A título
ilustrativo, enquanto uma falência demora meses em alguns países,
aqui, segundo o Banco Mundial, demora dez anos em média. São milhares
de horas de advogados talentosos dilapidadas por excessos de recursos
protelatórios e formalismos desnecessários.

(...)

A questão dos juros pode ser resumida em uma palavra: miopia. Miopia
em políticas populistas, miopia em endividamentos irresponsáveis,
miopia em criar falsas esperanças, miopia em análises superficiais e
miopia em atacar as causas equivocadas. Mas a maior miopia é de não
perceber nosso potencial. Uma maior racionalidade no debate é
fundamental para expandir e baratear o crédito, o que pode funcionar
como uma importante alavanca para o nosso desenvolvimento.
Substitutos perfeitos?

Uma discussão que sempre surge em sala de aula quando se começa a fazer - seriamente - os exercícios do livro de introdução à economia diz respeito a dúvidas como: "por que suco de laranja e de tangerina são substitutos, eu conheço um cara, no interior, que toma os dois juntos". Ou: "professor, por que cachorro quente e misto quente são substitutos? Eu sou o único cara que eu conheço que acha os dois complementares".

E por aí vai. As perguntas - não tão distantes assim do que já ouvi em sala - sempre dizem respeito à tentativa incorreta de particularizar conceitos gerais. Um bem é substituto de outro e ponto. Claro, se você ainda não aprendeu a: (i) maximizar a utilidade de um consumidor, sujeito a uma restrição orçamentária e, (ii) derivar a função de utilidade (por sinal, ordinal) e, finalmente, (iii) calcular os efeitos cruzados dos preços (dx1/dp2 e dx2/dp1), então você tem de aceitar, mesmo que de má vontade, os exemplos do livro. O mundo não vai acabar se, nos EUA, os caras consumirem dois bens de uma forma diferente da que você consome aqui. Lembre-se: todo o continente americano consome abacate com sal e arroz, só no Brasil a gente consome abacate com açúcar. E o mundo não acabou.

Pois é. Isto tudo é para tentar aliviar a impaciência gerada pelo tufão hormonal dos alunos adolescentes: aceite os exemplos com alguma paciência. Se você quiser mesmo estudar isto mais a fundo, sempre há uma biblioteca por perto.

De qualquer forma, eu jamais esperaria que consumidores trocassem alcóolicos destilados por não destilados. Entretanto, os russos não concordam comigo. Para eles, vodca e cerveja são substitutos. Ou seja, lá o negócio parece mesmo ser consumir álcool (possivelmente a temperatura média possa ser uma boa explicação para este comportamento).

Isto me faz lembrar: como o professor Supimpa explicaria isto (o Luciano é que gostará disto)?

Ele diria o seguinte:

- Ok, rapazes e moças. Vocês aprenderam a derivar funções de demanda a partir do problema de maximização de utilidade do consumidor representativo, certo? Agora, vamos brincar um pouco. Você aí, no fundo, lembre-se que está na faculdade, não no chiqueiro. Tire o dedo do nariz.

- Professor, isto que fizemos é interessante, mas poderíamos levar em conta mais um pouco da realidade, não?

- Claro. Tudo a seu tempo. Vamos fazer da maneira mais simples possível, incluindo parâmetros sob poucas hipóteses.

- Como assim?

- Veja, você encontrou, após alguma matemática, que o bem x é tal que: x= x(px, py, m), certo? Ah, claro, py é o preço do outro bem envolvido nos cálculos e m é sua renda. Não se esqueceu disto, né?

- Claro que não, professor.

- Ok. Agora, vamos lá. Sabemos que dx/dpy > 0 nos diz que a quantidade demandada de x varia diretamente com o preço de y.

- Na mesma proporção?

- Tá doido, cara? Eu não tenho como saber a proporção. Só sei a direção.

- É mesmo. Desculpa. Eu sempre me confundo.

- Ok. Se o aumento no preço do açúcar aumenta a demanda do café, então isto lhe parece estranho?

- Um bocado. Eu acharia isto esquisito, pois as pessoas normalmente consomem café com açúcar.

- Exato. Então este não é um bom exemplo. Dê-me um melhor.

- Poderia ser pepsi e coca-cola, pelo menos para muita gente.

- Perfeito.

- Mas professor, e aquele post sobre vodca e tudo o mais?

- Ah, sim. Você queria tratar de incluir mais uma variável, certo?

- Sim. Mas não sou esperto o suficiente (e nem pensei muito nisto nos últimos dias) para montar um problema do consumidor mais genérico, com uma variável nova endogeneizada.

- Tudo bem. Estes modelos começam sempre de forma simples. Então temos: x=x(px, py, m). Vamos dizer que a temperatura seja importante na determinação do preço da vodca ou da cerveja, ok? Vamos tentar o exemplo mais simples: x=x(px(t), py(t), m), onde dpx/dt e dpy/dt são, ambas, negativas.

- É, não é difícil de entender. Mas supor que o preço da cerveja caia com o aumento da temperatura não é estranho?

-É, mas a notícia nos faz supor que, na Rússia, o povo provavelmente toma cerveja quente. Ou então os bares/casas são bem aquecidos.

- É. É verdade. Vamos continuar com este mais simples, professor.

- Ok. Se ficarmos assim (não sem um certo desconforto quanto à cerveja), já teríamos algo como: dx/dt = [dx/dpx]*[dpx/dt] + [dx/dpy]*[dpy/dt] pela óbvia regra da cadeia. O primeiro termo é positivo e o segundo é negativo. A soma é....indeterminada.

- Que chato...e se eu imaginasse que, para a cerveja, é diferente, digo, dpy/dt > 0?

- Ok, se x é a vodca e y é a cerveja, teríamos que [dx/dpx]*[dpx/dt] seria positivo e [dx/dpy]*[dpy/dt] também seria positivo. Neste seu caso, dx/dt > 0. Ou seja, quanto mais quente, maior o consumo de vodca. Faz sentido?

- Hum...

- Pois é. Isto nos mostra que talvez o modelo não esteja sendo bem construído. Alguém poderia nos dizer que o mais razoável seria que o efeito da temperatura fosse não via indireta, mas, talvez, desta forma: x=x(px, py, m, T).

- Mas então vale tudo?

- Não, não é que você faz modelos da forma que você quer. Modelos se tornam mais robustos quando você, no caso da economia, busca explicar mais variáveis. A técnica do "coloque vírgulas e mais variáveis" é um passo inicial, tosco, muitas vezes enganoso, mas que pode ajudar os pesquisadores a descobrirem o que NÃO devem fazer.

- Entendo. Então isto deveria estar, digamos, na função de utilidade?

- Olha, Philip Parker, um cara que trabalhar com Fisioeconomia, tenta fazer algo assim, com o que chama de função de utilidade basáltica (se não me falha a memória). Mas eu não sei se é um bom modelo.

- De qualquer forma, vou ler mais sobre o assunto, professor. Se eu entender como funciona a relação entre temperatura e consumo de bebidas alcoólicas, posso entender melhor a demanda deste bem no Brasil ou em qualquer outro lugar. Já entendi. Tenho de ir à biblioteca e fazer uma boa busca sobre funções de demanda e temperatura.

- Sim, e nem todos os bens terão esta característica. Você está aprendendo bem.

- E não é só sair por aí, nos corredores, falando sobre o que leio em blogs. Embora este tal de "Economia Everywhere" seja interessante, muitas vezes os caras escrevem errado ou falam sobre coisas de que não gosto.

- Correto. Mas um blog não tem a função de substituir um livro. Se assim o fosse, as editoras estariam lançando blogs e dispensando gráficas. Lembre-se que o e-book não foi o sucesso que se esperava.

- Nossa....tanta coisa para pensar.

- Pois é. Vá em frente. Ninguém disse que era fácil, não é?

terça-feira, agosto 24, 2004

Segurança no Brasil: é brincadeira...

Há alguns meses li, no "O Estado de São Paulo", um alerta do ministro da defesa ucraniano sobre o comércio negro de materiais nucleares na Amazônia brasileira. Claro que um monte de gente achou que era bobagem e tal.

Mas depois desta notícia, eu pensaria duas vezes antes de dizer que este é um país sério.
Qual a explicação econômica das embalagens de vidro/plástico?

Relendo o excelente Economic Analysis of Property Rights de Barzel, lembrei-me de que muitos dos leitores que passam por aqui são ou fascinados pelo cálculo estocástico ou acham a análise econômica bonita, linda, mas inaplicávelao mundo, digamos, real.

Pois bem. Então tente esta: no mercado de sua cidade há sempre um vendedor de cerejas ou de algum tipo de mercadoria que sempre tem uma banca. Qualquer um pode chegar e pedir para experimentar uma cereja. O que o vendedor faz? Ele normalmente deixa que alguém consuma uma destas unidades sem colocar maiores restrições. Por que ele não cobra?

Na verdade, há um problema de informação aqui. Se o consumidor e o vendedor fossem a mesma pessoa, não haveria problemas acerca da qualidade do bem ou, digamos, da honestidade do consumidor.

Entretanto, ambos não são a mesma pessoa. Como saber se o consumidor que pede uma cerejinha a mais é realmente um desinformado que deseja se informar sobre a qualidade do meu produto ou apenas um espertalhão?

Bem, estas perdas ocorrem sempre. Você pode solucionar isto, por exemplo, criando embalagens plásticas (ou de vidro) que mostrem ao consumidor a qualidade do seu produto sem a necessidade de perder uma ou duas unidades do produto neste processo de "degustação". Adotar esta embalagem, e não uma lata fechada, é, basicamente, um reflexo da necessidade de se minimizar estas perdas.

Conclusão: informação importa.

Conclusão dois: ler os originais é melhor que ler este post no blog e sair por aí falando sobre o tema (afinal, eu não sou tão bom quanto Barzel). Aproveite que tem tempo e procure por Yoram Barzel na internet.

Para casa: O que têm os direitos econômicos e legais de propriedade a ver com isso tudo?
Quanto de imposto?

Empresários começam a descobrir - dada a elevada carga tributária que até mesmo eles não conseguem mais pagar - que revelar ao consumidor o tamanho do imposto é uma boa idéia.

Num país que se revoltou contra a Derrama (Tiradentes), é de se estranhar que tenham demorado tanto para reclamar dos impostos. De qualquer forma, aí vai o link: Gasolina, com e sem tributos.
Enquanto aqui se canta "sou brasileiro, não desisto nunca" (Maluf é um bom exemplo), a discussão nos EUA segue para os pais que cancelaram sua ajuda monetária aos filhos e foram pegos pela Lei

Se você tem um monte de gente presa, tem uma super-população em cadeias ou sob processos legais, e deseja liberar alguns deles, quais você liberaria primeiro?

Wendy McElroy (feminista bacana, por incrível que pareça :D ) acha que os primeiros a serem liberados poderiam ser os chamados "deadbeat dads", caras que foram presos porque pararam, em algum momento, de pagar aquela ajuda para os filhos que pais divorciados pagam. O argumento todo está aqui.

Mas ela chama a atenção para um ponto importante: decidir isto, sem dados é difícil. Afinal: (a) quantos destes caras existem? e (b) eles pararam de pagar porque realmente não puderam ou estavam mentindo?

Eis aí uma boa lição sobre a importância da Estatística.

E os professores de Estatística nem me pagaram por isto!
O velho discurso da OPEP

Até quem não sabe nada, mas absolutamente nada de Economia, tem uma noção de que o preço de um bem pode aumentar se: (a) tudo o mais constante, as expectativas de seu preço futuro aumentem; (b) tudo o mais constante, a demanda deste bem aumente; (c) tudo o mais constante, a oferta do bem se torne menos elástica (o que pode ser pensado como menor competitividade no setor).

Pois se a OPEP é um cartel, não dá para negar (c). Aliás, o objetivo da cartelização é, justamente, tentar controlar os produtores do setor para que todos atuem coordenadamente.

E sempre que há um aumento do preço do barril a OPEP nos diz: "(c) não existe". Duvida? Então veja esta notícia.

Moral: você pode aprender Economia, não quer dizer que vai dizer aos outros toda a verdade sobre o funcionamento da mesma no seu setor produtivo...

p.s. a propósito, onde há concorrência, há empresários conspirando contra a mesma. Veja esta notícia, por exemplo. E, claro, não se esqueça, trabalhadores não gostam muito de concorrência. Quando o assunto é sindicato, eles nunca desejam perder o monopólio.

Moral do p.s.: cultura da concorrência não é garantida a priori. Tem-se sempre de educar as pessoas e reforçar a mensagem.
Se você tem 16 anos, é mulher, e deseja ser executada, boas novas: o Irã te ajuda

Mais uma destas notícias que deixam a gente triste. Países adotam instituições que nem sempre geram crescimento econômico, isto é fato. Agora, o que incomoda é que algumas destas instituições promovem este tipo de "castigo".


Trecho: On Sunday, August 15, a 16-year-old girl in the town of Neka, northern Iran, was executed. Ateqeh Sahaleh was hanged in public on Simetry Street off Rah Ahan Street at the city center.

The sentence was issued by the head of Neka’s Justice Department and subsequently upheld by the mullahs’ Supreme Court and carried out with the approval of Judiciary Chief Mahmoud Shahroudi.

In her summary trial, the teenage victim did not have any lawyer and efforts by her family to recruit a lawyer was to no avail. Ateqeh personally defended herself. She told the religious judge, Haji Rezaii, that he should punish the main perpetrators of moral corruption not the victims.

The judge personally pursued Ateqeh’s death sentence, beyond all normal procedures and finally gained the approval of the Supreme Court. After her execution Rezai said her punishment was not execution but he had her executed for her “sharp tongue”.
Seja romântico....acredite em sonhos...e não consiga explicar a realidade jamais

...e não imagine que o mundo mítico de heróis do "software livre" que existiria apenas para se contrapor à Microsoft é como a Embraer: ajuda o "complexo industrial militar norte-americano".

Moral da história: se lá não existe Papai Noel, imagine aqui, certo? O problema de querer ver a vida romanticamente, dividida entre "bem" (normalmente os excluídos, progressitas, populares, democráticos) contra o "mal" (normalmente os opressores, conservadores, excludentes) é que há muitas (mesmo) evidências de que o mundo não é assim.

E, aliás, este é ano de eleição. Eu não voto em candidatos que pensem que alguma liberdade minha seja relativa. Muitos menos a de imprensa.

p.s. devo repetir a dose e anular meu voto, mas isto é uma decisão pessoal minha.

segunda-feira, agosto 23, 2004

Super Mouse, seu amigo...

...é uma realidade. Leia na matéria abaixo.

Wired News - Scientists Breed a Tougher Mouse.

Consequências para a economia? Acho que o anti-doping será desnecessário daqui há alguns anos. Isso nos torna menos arrogantes, violentos ou paranóicos? Acho que não. Mas, pelo menos, mais rápidos...:)
Ser anti-globalização dá resultados? Dá. E são negativos se você não gostar de investimento externo direto, empresariado local....(ei, é ideal para anti-capitalistas!)

Olha só o artigo interessante aí embaixo. O artigo tem problemas? Leia, entenda, e, claro, critique.

Popular Attitudes, Globalization, and Risk

by Marcus Noland

Popular opposition to globalization in a country can signal markets that the country in question poses greater investment risk. By integrating survey data from the Pew Global Attitudes project with information on foreign direct investment (FDI), sovereign debt ratings, and entrepreneurship, Noland finds that responses to the Pew questions correlate with the economic variables, conveying information beyond what could be explained through standard economic models alone. His results indicate that countries with more tolerant attitudes toward globalization attract more FDI, obtain better debt ratings, and exhibit more local entrepreneurship.

See full working paper at
http://www.iie.com/publications/wp/2004/wp04-2.pdf

See op-ed in the Financial Times at
http://www.iie.com/publications/papers/noland0804.htm
A confusa definição do que seja a "economia capitalista da China"

Alguns membros do governo citam a China como exemplo a ser seguido. Eu discordo. Aliás, até a definição do que seja o "capitalismo" chinês é algo difícil de se fazer. Confira aqui.
Substituto ou complementar de uma boa cerveja?

Para mim, decididamente, um substituto. Clique no trecho para ler a pequena matéria.

Trecho: WASHINGTON : A Greensboro, North Carolina, company is selling what it calls a "low-calorie, low-carbohydrate way to consume alcohol" that allows a person to consume spirits and truthfully say he has not been drinking.

Alcohol Without Liquid - AWOL - is a bulky, costly machine that vaporises a mixture of liquor and oxygen and pumps it through a tube to a hand-held medical-style inhaler which the user puts in his or her mouth and breaths in a mist of scotch, vodka, or any other type of hard liquor.

"Alcohol enters the bloodstream through the lungs rather than the stomach, making AWOL low calorie and low carbohydrate," explained Kevin Morse, president of Spirit Partners, Inc., the US manufacturer-distributor.

"The resulting feeling is the same sense of well being an adult gets from consuming alcohol in the traditional manner, only milder," he said.

If your intention is to get drunk fast, AWOL will slow you way down. It takes about 20 minutes to inhale the equivalent of one shot of alcohol, said company officials.

domingo, agosto 22, 2004

Esqueça Norberto Bobbio, Max Weber, Raymond Aron, Karl Marx, Sartre....vou ter dizer qual é o problema do governo

"O principal problema - um dos principais problemas, pois são muitos -, um dos principais problemas em governar pessoas, está em quem você escolhe para fazê-lo. Ou melhor, em quem consegue fazer com que as pessoas deixem que ele faça isso com elas.

Resumindo: é um fato bem conhecido que todos os que querem governar as outras pessoas são, por isso mesmo, os menos indicados para isso. Resumindo o resumo: qualquer pessoa capaz de se tornar presidente não deveria, em hipótese alguma, ter permissão para exercer o cargo. Resumindo o resumo do resumo: as pessoas são um problema".

[Douglas Adams, O Restaurante no Fim do Universo, cap.28]

Nunca havia visto uma definição tão clara acerca da competência e moral dos governantes. Grande Douglas Adams....
Mais monografias

Outra monografia de qualidade que recebi. O remetente foi o colega do Davi, Rodrigo. Mais um aluno de economia com carreira promissora (penso, agora, na academia).

Leo Monasterio parece estar fazendo um ótimo trabalho na área de ensino...:D
Custo de oportunidade: mais uma lição do professor Supimpa

O professor Supimpa sempre se depara com dúvidas de alunos sobre o "custo de oportunidade". Algumas são de quem nada leu sobre a matéria. Outras são pertinentes.

O professor pensou, pensou, e resolver seguir o caminho tradicional: um exemplo. Se um aluno lhe mostrasse um grande interesse em Corporate Finance, ele lhe diria:

- Ok, it's all about opportunity costs!

- Que é isso, professor? Fala sério.

- Estou falando. Pegue, por exemplo, o capítulo de seu livro sobre administração de caixa.

- Este eu já li. Não tem nada de Economia lá.

- Engano seu. Você não viu o modelo de Baumol?

- Ah...é verdade, vi. E daí?

- Você o leu?

- Ahhh...rapidinho.

- Então vamos repassar. Há uma empresa que quer saber qual o volume ótimo de caixa que deve ter. Ela conhece algumas de suas próprias características (claro!) e sabe que tem a opção de comprar ou vender títulos negociáveis.

- Hum. E daí?

- Vejo que você anda impaciente. Bem, supõe-se que a empresa possa carregar maior ou menor liquidez ao longo do período de tempo relevante para o exemplo. Isto se traduz em moeda corrente ou em títulos.

- Certo.

- Ora, qual o custo de oportunidade de se manter dinheiro em caixa?

- Vocês economistas são muito confusos. Como vou saber?

- Veja o nome do custo: "custo de oportunidade". Que oportunidade se está abandonando?

- A de investir em títulos?

- É.

- Então, professor, a taxa de juros do título é o custo de oportunidade?

- Exato. Veja que não há inflação e, portanto, a taxa de juros nominal e a real são idênticas.

- Ah... mas isto é livro-texto. Na realidade as empresas têm mais opções.

- Ok. Mas pense: se todas as empresas usam ou caixa ou títulos, seria estranho que a sua empresa pensasse em caixa ou, digamos, tratores velhos e enferrujados.

- Mas eu seria o único, original, inovador! Por que não tratores velhos e enferrujados no lugar de títulos?

- Correto. A questão é que o mercado secundário de títulos é mais eficiente para te dar o que você quer do que o mercado secundário de tratores.

- Humm..entendo. Empresários que arrisquem por fazer coisas malucas nem sempre se dão bem.

- E nem sempre se dão mal. A vida é incerta, você e eu sabemos disto. Isto quer dizer que queremos tudo rotinizado? Claro que não. Há espaço para o risco e para a inovação. Mas veja que se a invenção é boa, ela se dissemina pelo sistema. A contabilidade se desenvolveu assim. O uso de títulos negociáveis também. Claro, você sempre pode achar um exemplo de uma tribo numa ilhota do Pacífico que usa tratores velhos e enferrujados. Mas sua empresa só deveria se preocupar com isto se abrisse uma filial lá.

- Entendo. Por isto não saio comparando o custo de manter cash com um milhão de alternativas diferentes. Somente as mais relevantes para o problema analisado.

- Exato. Como eu sempre te disse: basta ter paciência e refletir sobre o que lê. A propósito, leia com mais calma da próxima vez.

- Ok, professor. Obrigado.
Carga tributária e você

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