Rico preguiçoso e Pobre virtuoso?
Meu colega
Gilson Geraldino Jr. tem uma boa questão sobre
esta matéria. Basicamente, diz-se que alunos da rede pública (pelo menos em Minas Gerais) estão, cada vez mais, destacando-se no vestibular da UFMG .
Gilson, então, enviou-me o texto abaixo, que formatei para nosso blog.
"Tem um tantão de coisas que precisaria ser investigada, mas os resultados da reportagem abaixo são muito interessantes. quais as possíveis causas disto ? consultei o departamento de especulações e obtive as seguintes possibilidades :
1) as escolas públicas melhoraram muito (não acredito);
2) a difusão de informações é maior e, por isto, as pessoas mais pobres podem concorrer em melhores condições (mais ou menos);
3) os ricos estão mais preguiçosos . devido à proliferação de escolas de terceiro grau, as pessoas mais ricas não têm mais que se abster do lazer para se dedicar ao trabalho de estudar muito e por longos períodos. Como são herdeiros de quantias vultuosas, tudo que precisam é de um diploma para continuar tocando o negócio da família. Além disso, têm um certo efeito esnobação. As escolas públicas estão ficando famosas pela decadência da infra-estrutura. Já as privadas, com vários professores aposentados das públicas nos seus quadros, oferecem instalações mais confortáveis. Este efeito esnobação se verifica na procura pelos cursos. Cursos de licenciatura, via de regra, são demandados por pessoas mais pobres. Mas mesmo nos bacharelados mais chiques, há mudanças qualitativas importantes.
E aí? O que acha?"
Vou opinar aqui, com hipóteses polêmicas:
a) Hipótese Fraca: Ricos e pobres tentam burlar o mecanismo de segurança do vestibular da UFMG. Ricos usam métodos mais sofisticados (celulares, bips) que, pela própria sofisticação, são sempre mais barrados pelas medidas de segurança. Pobres, por sua vez, podem ter acesso à informação pelo deletério efeito
igualitarista que pode levar formuladores de provas a fornecerem
dicas quentes aos alunos. Como quem formula pode estar ligado à rede pública, pode ser que isto ocorra. Aliás, algo pouco estudado, estatisticamente, é a relação entre corrupção e vestibular. Será que é muita? Por isso a chamo de hipótese fraca.
b) Efeito-dotação (resposta a Gilson): O que o Gilson, basicamente fala, é que há um efeito-dotação: quem tem muito, preocupa-se pouco. Se fosse uma dotação em espécie, eu contra-argumentaria. Mas sendo uma dotação de renda futura (quase totalmente) garantida, fica faltando apenas um ponto: se vou ser o presidente da Sony, digamos, por que eu precisaria de diploma? Acho que vale a pena
comprar o diploma se você quer trabalhar na firma (ou pular para cargos de gerência intermediários). Mas, por que o filho do dono quer o diploma?
Na verdade, há ainda um ponto que o Gilson não esclareceu. Quando ele diz
proliferação de escolas de terceiro grau, ele quer dizer que houve uma maior variância na qualidade do terceiro grau. Vale dizer, a qualidade do produto não é mais homogênea. E aí entra algo que o rico pode realmente querer: apenas ir à escola. Faltaria um certo valor meritocrático do tipo: "os melhores da sociedade devem ser mais cultos". Será? Isto equivaleria a dizer que os ricos não querem mais competir no campo cultural, mas apenas no financeiro. Isto é até interessante pois daria alguma razão às explicações de polemistas como
Olavo de Carvalho em sua hipótese gramsciana que diz que as pessoas que prezam a liberdade (e também os conservadores de direita), ao deixarem de se preocupar com a defesa de seus valores no mercado cultural, abrem espaço para a hegemonia da esquerda. Em outras palavras, monopólio (e, como sabemos, monopólios têm conseqüências funestas embora possa ser economicamente bom em caso de discriminação total....).
O que você acha?