sábado, abril 17, 2004

Isto sim, é interessante

Uma pesquisa desta, pro Brasil, seria algo fascinante....creio.
Economic Scene
Novo (e excelente?) site de economia!

Outro candidato a link fixo.

Econ Journal Watch
Assim se respeitam os direitos humanos na terra de um famoso ídolo da juventude

The beating by Cuban officials of a member of a nongovernmental organization at the United Nations in Geneva should be considered a criminal act for which the Cuban government must be censured, Freedom House said today.

After the United Nations Commission on Human Rights narrowly passed a resolution today critical of Cuba, members of Cuba's governmental delegation attacked Frank Calzon, executive director of the Washington-based Center for a Free Cuba.

The attack took place inside the United Nations building in Geneva.

Witnesses said a Cuban delegate punched Mr. Calzon, knocking him unconscious. UN guards reportedly protected him from further assault by additional members of the Cuban delegation. The attack occurred shortly after the Commission passed a resolution critical of Cuba's human rights record.

Calzon directed Freedom House's Cuba programs for over ten years.
Não sei se é um bom texto....

...mas o título é interessante.

BLOOD AND DEBT: WAR AND TAXATION IN 19TH CENTURY LATIN AMERICA
Pequena propaganda gratuita

Deja Blue
Um outro mundo é possível, mas ele não funciona

Durante anos o sonho de muitos era o de planejar uma economia, substituindo o mercado por um planejamento central. Planejar, veja, não é antônimo de mercado. Empresários planejam. A diferença, creio, está na pretensão de que alguém possua como planejar o futuro de sua, da minha e de outras firmas, de forma melhor. E, claro, sem visar o meu lucro, o seu ou o dele.

Isto sem falar no fato óbvio de que este burocrata pretencioso poderia até querer fazer "o bem", mas ele não lograria nos deixar melhores. Ele simplesmente não teria o mesmo incentivo que eu.

Se você considerar que o burocrata quer é se apropriar das nossas empresas, aí a coisa fica pior.

Então, veja, é interessante conhecer como "funcionava" a economia das ex-colônias soviéticas (o tal leste europeu...a denominação de colônias é de um texto do Shleifer, Vishny e amigos).

Aí vai um texto em castelhano.

Por que as empresas gerenciadas por seus próprios empregados fracassaram?
Hamas: o que pregam?

O que é Hamas? O que eles pregam? Eles estimulam o uso de homens-bomba?

Resposta: Yes. Since 1994, Hamas and Islamic Jihad have dispatched more than 80 suicide bombers. The terrorists have blown up buses in major Israeli cities, as well as shopping malls, cafes, and other civilian targets. The bombings have killed 377 Israeli civilians and wounded thousands, according to the Israeli government. Hamas’ bombers tend to target civilians within Israel proper, rather than Israeli soldiers or settlers in the West Bank and Gaza. Hamas has reportedly begun using military-grade explosives in suicide bombings, making them more lethal.

Fonte: Terrorism: Q & A | Hamas, Islamic Jihad

Eis aí mais um pouco de conhecimento para você entender o que o recém-assassinado líder do Hamas defendia.
TaxProf

Em breve, será mais um link fixo nosso. Onde estão os criativos brasileiros para fazerem um site como este, só que nacional?

Fica lançada a idéia.

TaxProf Blog
Ainda a má economia católica

Conforme dito abaixo, a facção de esquerda da igreja brasileira resolveu, o que saúdo como brilhante, usar dados estatísticos na discussão da reforma agrária.

Infelizmente, não posso saudar muito. Não vou dizer que tenho medo do vício do novo "clérigo-engenheiro social", aquele que se guia por estatísticas mal trabalhadas. Mas há razão para preocupação.

Vejamos:

i) Seguindo o comentário do Leo: "se o agronegócio vai bem, a terra vale mais. Se vale mais, é mais disputada". Está correto. Mas incompleto. Prosseguindo: se vale mais, é mais disputada. Como é disputada? Pode-se tomá-la ou comprá-la. A primeira opção envolve uma opção legal (mudança de direitos de propriedade) ou então o roubo, a pirataria, enfim, a ação criminosa.

No caso do comércio, gera-se valor. No caso dos direitos de propriedade...há geração de valor? Se você simplesmente toma o excedente do produtor e o transfere para o consumidor, gera algum valor? Não. Se tomar toda a oferta existente (o que inclui a área abaixo da curva de oferta), e transferir também, gerará mais valor? Não necessariamente. Depende das elasticidades (tenho um exemplo que sempre uso, de um artigo sobre órgãos para transplante, em que se pode mostrar isso de maneira simples).

ii) Bem, mas o padre está tentando justificar a reforma legal? Ele toca no assunto, mas está "isentando o MST de culpa na violência no campo", segundo diz a matéria citada. Neste caso, ele está justificando algo que paradoxalmente chama de "luta pacífica". Na visão do representante de Deus na Terra, isto não seria um problema. Mas, infelizmente para ele, isto não é correto. Se eu sei que serei invadido, e se sei que o sistema legal não me defenderá (porque um padre disse que seria diabólico fazê-lo, digamos), então faço como os soviéticos quando da incursão nazista: destruo o máximo possível do que tenho.

Claro, nem todos destroem tudo, pois não é uma guerra nacional. Mas haverá perda de valor. O padre prega algo que pode ser pior para ele? Provável.

iii) Finalmente, a correlação que ele faz é interessante. Segundo a revista: "a comissão cruzou índices de conflitos de terra nas regiões em que há expansão do agronegócio com os daquelas em que predomina a agricultura familiar". Daí concluiu que o aumento da violência no campo está relacionado com esta correlação.

Veja: "a expansão do agronegócio no Brasil está diretamente relacionada ao aumento da violência no campo. De acordo com o documento, o modelo é concentrador de terra e provoca tensão entre os proprietários e os trabalhadores rurais sem terra."

Primeiro, eu gostaria muito de ter estes dados. Já os procurei muito (estes de violência) e nunca acho. A CPT faria um trabalho excelente se disponibilizasse estes dados para pesquisadores interessados.

Em segundo lugar, correlação é um conceito estatístico que: (i) supõe correlação LINEAR entre variáveis, ignorando outras possíveis relações, (ii) é A-TEÓRICO, i.e., não supõe quem é causador e quem é efeito. Pode-se dizer que a violência aumenta quando se expande o agronegócio só porque há uma correlação positiva e estatisticamente significativa entre estas duas variáveis? Bem, não é tão simples. Se isto é verdade, então locais onde existem supermercados e shoppings deveriam ser alvos de violência generalizada por parte de pequenos comerciantes. De outra forma, a avenida Paulista deveria ser uma praça de guerra.

Além disso, é verdade que sociedades mais desiguais geram um incentivo maior pelo uso das ações ilegais. Mas isso não as torna - as ações - legítimas. A não ser que o padre defenda atos terroristas como sequestros de civis e sua execução sumária em áreas onde há latifúndios. Vejamos o que a simples correlação diz ao padre:

“Não existe outra forma a não ser pegar a lona e ir para a terra”, afirmou o bispo, que declarou legítimas as invasões de áreas produtivas.

“Normalmente, a reforma agrária deve ser feita em qualquer terra. A ocupação de terra produtiva é a senha para uma mudança da legislação (...) O governo pode desapropriar qualquer terra para fazer uma estrada, criar uma represa, fazer qualquer bem público, mas, tratando-se de reforma agrária, está proibido. Isso é discriminação", afirmou.


Ou seja, a lei, que determina que apenas terras "improdutivas" (um conceito arbitrário) devem ser desapropriadas, para o padre, não passa de papel rasgado. Trata-se de apenas uma "senha". Na verdade, não é preciso ensinar tanta economia assim para ele. Ele entende bem de teoria dos jogos. Sabe que se fizer algo errado e não for reprimido, então a autoridade do outro é baixa. Credibilidade zero, por assim dizer. O jogo do padre é racional: "invadam terras. Se o governo negociar ou se capitular, então ele não está jogando, está entregando. No final de várias rodadas, todo o ganho será nosso".

Bem, embora sociedades desiguais tenham o que o Leo chamaria de incentivo ao uso da violência, também é verdade que outra correlação, com muito mais dados do que o estudo da CPT, existe entre liberdade econômica e crescimento econômico. Além dela, alguns outros trabalhos mostram que prosperidade e respeito aos direitos de propriedade se relacionam.

Por exemplo, usemos a idéia do padre ao extremo: o sujeito invadiu a terra e agora já fez um bom lucro. Quer se mudar para a cidade. Segundo o padre, não poderá vendê-la. No mínimo, deveria convidar alguém a invadí-la (!!). Ou seja, se o padre está certo, então: (i) apenas ele e seus aliados sabem a configuração urbano-rural ótima de terras para a sociedade brasileira e, mais grave, (ii) esta configuração não pode mudar nunca.

É algo como querer congelar a sociedade numa visão mítica de agricultores felizes. Visão perigosa porque foi a mesma que seduziu parte do clero alemão em 1933, quando Hitler tinha, exatamente, esta propaganda, sob os auspícios do Duda Mendonça da época, o genial Joseph Goebbels.

Comentários?
Quando a pirataria reina

Taí algo que eu nunca havia me perguntado, embora óbvio: como anda a indústria de CDs não-piratas na....China?

Rampant piracy keeps China's music industry from taking off

sexta-feira, abril 16, 2004

Padre Cícero deveria ir à sala de aula aprender economia?

Cada vez mais penso que sim. Lendo o trecho abaixo percebo rapidamente que ou os professores de economia são (i) pouco ouvidos, (ii) péssimos professores ou (iii) são absurdamente tímidos para responder esta correlação estranha que o sujeito da CPT está fazendo no trecho abaixo.

Deus me livre!

Igreja associa aumento da violência no campo ao agronegócio

O presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), dom Tomás Balduíno, apresentou à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), nesta sexta-feira, levantamento segundo o qual a expansão do agronegócio no Brasil está diretamente relacionada ao aumento da violência no campo. De acordo com o documento, o modelo é concentrador e provoca tensão entre os proprietários e os trabalhadores rurais sem terra. Dom Tomás, que celebrou missa na Catedral de Brasília em memória dos oito anos da morte de 19 sem-terra em Eldorado do Carajás, no Pará, comparou os trabalhadores mortos a Jesus e disse que, como Cristo, eles tiveram o sangue derramado por uma causa justa e colaboraram para o renascimento de seu povo. “O que há hoje de positivo na reforma agrária é devido às mortes em Eldorado do Carajás”, afirmou. O presidente da CPT disse ainda que a ameaça do MST de “infernizar” o país “é uma figura de linguagem, mas não é o sentido do movimento”. Segundo ele, “o pessoal da terra não está fazendo nenhuma Rocinha. A luta é pacífica”.
Os russos temem exatamente o que?

Paul Volcker, o antecessor de Greenspan, o juiz Richard Goldstone e o expert em lavagem de dinheiro, Mark Pieth estão juntos. Foram escolhidos para investigarem as alegações de irregularidades no programa Oil-for-food.

Mas a patota do Putin não vê com muito bons olhos o andar da carruagem. Pudera, era um dos maiores "colaboradores" do programa.

Esta história vai dar o que falar ainda. Vou tentar manter você informado de tudo, ok?

Reuters AlertNet - Volcker to lead UN Iraq oil-for-food probe

Link útil adicional: o site oficial do programa extinto.
Se você anuncia que vai invadir hoje...e leva quatro meses, o que Saddam faria?

Se eu fosse ele, tentaria sumir com as provas. Mas, claro, isto não desmerece o argumento de que realmente ele não tinha nada do que diziam. Pena que ele nunca dizia a verdade quando lhe perguntavam sobre seu real poder...

UN nuclear watchdog says material, buildings gone missing in Iraq: "Contaminated metal, equipment and even entire buildings in Iraq that had been monitored by UN nuclear inspectors have disappeared since the war, the UN's nuclear watchdog said on Thursday.

Diplomats said the discovery, much of it from commercially available satellite pictures, raises concerns about whether the US occupation in Iraq has been able to effectively monitor sensitive Iraq sites."
Excelente texto

Um excelente texto sobre o anti-americanismo irracional, a compreensão européia e norte-americana do conceito de "constitucionalismo" e, claro, sobre temas bacanas.

Interessante, bem escrito, e ataca os principais problemas nos quais eu (tentava pensar) pensava quando coloquei o post anterior (embaixo deste). Leia que vale a pena.
Ainda o Oil-for-food

A coisa continua feia. Os ataques à coalizão deixaram 80 feridos, incluindo civis. Brigas inter-religiosas e inter-étnicas. Uma bagunça. E tudo isto em Kosovo, atualmente.. Não, você não leu errado. Estou falando de Kosovo, não do Iraque.

Pois é. Em Kosovo, nem a ONU, nem a OTAN estão conseguindo cumprir seu dever. Burocracias multi-países não poderiam, mesmo, ser mais eficientes do que uma única (ineficiente) burocracia. Será a ONU um órgão economicamente eficiente? Observando a sujeira que está surgindo, lentamente, sob o tapete do bem-intencionado plano Oil-for-food, eu diria que é hora das pessoas pensarem em como alguém pode justificar como uma burocracia global poderia ser mais eficiente que uma burocracia local.

Pode até ser que isso seja verdade para coisas como acordos multilaterais de comércio. Mas as evidências não suportam muito otimismo. Felizmente ou não.

quinta-feira, abril 15, 2004

Em breve

O que faz um homem ficar obcecado por um problema, trabalhar dois dias nele, no terceiro, dedicar aproximadamente 24 horas do seu dia, dormir mal, ficar de mau humor na manhã seguinte (hoje) e ainda se sentir satisfeito?

Quem respondeu: a pesquisa acadêmica sobre um tema que intriga este homem, acertou.

E o melhor é descobrir coincidências com um artigo relacionado sobre o qual você ouviu uma palestra ontem.

Sim, este homem sou eu, o artigo é um empreendimento coletivo (Ari, eu e Ronald) e, claro, estou acabado hoje, com minha paciência beirando o fim. Mas estou satisfeito.

E, amigos, voltei a trabalhar com o que sempre gostei: econometria de séries de tempo.

terça-feira, abril 13, 2004

Oil-for-movie

Se você não confia na burocracia local, por que iria confiar na burocracia global, a ONU?

Esta é uma pergunta que tenho me feito com mais frequência, principalmente depois da constatação de que Kojo Annan (o filho do homem) se desfiliou poucos (mas poucos mesmo) dias antes da empresa que, pasme, a ONU, sob o comando do papai Koffi Annan, escolheu para movimentar dólares no programa humanitário Oil-for-food.

O que é mais interessante é que, se a gente pensar bem, não há motivos para se imaginar que a ONU é menos pior que o Congresso norte-americano ou brasileiro. Basta olhar os problemas que os caras têm com gastos.

Mas a matéria abaixo pode ser uma pista de como se pode reformar a ONU. Afinal, como já disse meu analista militar predileto, Victor Davis Hanson (autor de um bom livro sobre estratégia militar: "Por que o Ocidente venceu" e, claro, link fixo aí ao lado), que é que há com este pessoal que escolhe colocar países notoriamente complicados no Conselho de Segurança da ONU?

Este é apenas um problema. Mas, pense bem, leitor, não dá para dizer que burocrata ineficiente e corrupto só "pipoca" dentro das fronteiras de um país. Afinal, quem garante que o sujeito vira "anjo" quando entra na sede da ONU?

UN's oil-for-food programme under scrutiny
By Claudio Gatti and Mark Turner in New York
Published: April 12 2004 22:01 | Last Updated: April 12 2004 22:01

A Detroit-based businessman of Iraqi origin who financed a film by Scott Ritter, the former chief United Nations weapons inspector, has admitted for the first time being awarded oil allocations during the UN oil-for-food programme.
Há muito tempo atrás...(+ os 10 mandamentos shikídicos da econometria, grátis (só até sábado))

...num mundo mágico de médias e variâncias, eu era craque em econometria de séries de tempo (ensina ACPastore: série temporal só em chuvas....ou aquela famosa série de pluviosidade no Ceará que tem em tooooooooooodo livro de metodologia Box-Jenkins). E eu lia tudo o que era publicado. E sabia. E fazia (e acontecia).

Então conheci Roseli. E vi que sabia pouco. E conheci o Sergio Kannebley. E vi que era menos louco.

E a dissertação veio. E o Ronald me ordenou: "- Faça de teus dados um modelo Probit ou Logit e roda a regressão".

E assim foi feito. Só que o problema é que estes eram modelos para dados cross-section (ok, a criançada, atualmente, tem dados em painel).

E eu fiquei anos estudando econometria de dados cross-section. E fui para o doutorado no PPGE-UFRGS. E conheci Márcio Laurini. E vi que precisava rever as séries de tempo. E fui para a UCLA. E Summerhill me disse: "Roda um painel e interpreta-o!"

E assim foi feito.

E, depois de tanto linguajar bíblico, o leitor se cansou. E pensou: "- Terá o Shikida (não o Pery, que é insano, mas o Claudio) enlouquecido definitivamente?"

Na verdade, não. Eu só queria marcar minha volta, após uns 10 anos ou quase, para os estudos das séries de tempo com, digamos, um post assim, bem bacana, com jeitão de Moisés com os 10 Mandamentos (copyright by Shikida, C.D.)

1. Não incluirás variáveis irrelevantes,
2. Não omitirás variáveis importantes,
3. Não maximizarás o valor do R2,
4. Não darás muita atenção nem para o R2 corrigido,
5. Jamais ignorarás a distribuição dos resíduos,
6. Corrigirás heterocedasticidade,
7. Estudará o padrão de autocorrelação,
8. Não farás regressão sem, antes, verificar a existência de raízes unitárias,
9. Não ignorarás os testes baseados em verossimilhança e, finalmente,
10. Não ficarás nunca satisfeito com teus resultados.

Gostou? Então vá até a página do prof. Bewley e dê uma olhada nos capítulos do futuro livro dele. E, claro, divirta-se.

Ronald Bewley

Professor of Econometrics, University of New South Wales
Head, Quantitative Equity Research, Commonwealth Bank of Australia
The Shikida is on the table...but which one?

Mais um número da revista de economia e administração do Ibmec.

Nela, um artigo do Shikida. Não este Shikida, que você já conhece. Mas do meu primo, Pery Shikida, um sujeito que, embora cruzeirense (o que é bom), tem uns gostos estranhos. Por exemplo, ele gosta de economia agrícola. Há um artigo bom dele, aqui.

E, claro, eu continuo achando que meu primo é maluco. Afinal, é economista. Ah, sim, eu também já publiquei na Leader, a revista dos empresários mais preocupados em aprender mais do que já sabem: a revista do IEE.
Mais armas, menos crime?

Há uma polêmica nos EUA - que eu acho muito interessante - sobre isto. Bem, colocando a casa em ordem: existem três tipos de sujeitos armados no Brasil (ou nos EUA). Primeiro, há os policiais/exército. Segundo, há os criminosos. Terceiro, há os civis não-criminosos.

Neste sentido, o estudo abaixo não me diz nada. Não sei o que quer dizer um aumento de 130% de mortes por homicídio. Aliás, a manchete esconde um número que está no final da matéria. Na verdade, entre 1991 e 2000 (e não entre 1980 e 2000), o número de homicícidios por armas de fogo, aumentaou em 95%.

Ora, aqui está a manchete: O Globo On Line: "IBGE: mortes por homicídio aumentaram 130% em 20 anos.

Mas, veja bem. A discussão começa comparando mortes acidentais por problemas de trânsito com mortes por homicídio. Isto é correto, na medida em que argumentos do tipo: "ah, acidentes com revólveres acontecem" são tão absurdos que se poderia proibir facas, pedras ou mesas. Neste ponto, a matéria começa corretamente.

Entretanto, eu me pergunto se o traficante do morro ou o sujeito que tem um porte de arma porque é soldado tem o mesmo potencial de cometer um homicídio do que o fazendeiro que, volta e meia, é invadido por assaltantes ou por membros de organizações ilegais (há vantagens em ser ilegal? Há, mas isto é outro assunto).

O que falta na matéria do "O Globo" é o seguinte: qual a variação, no mesmo período, nos portes concedidos para o uso de armas legais? Além disto, falta também saber qual a relação entre o porte e a produção de armas. Dá-se menos portes do que se produz armas? Qual a estimativa do comércio ilegal de armas? Quantas das mortes citadas foram causadas pelo pai de família que tem um revólver na gaveta da escrivaninha? Quantos foram causados por policiais? Há diferença entre estes dois casos? Eu acho que sim, mas ninguém me dá este número.


Além disto, se alguém acha que tem de computar acidentes no manuseio de armas, tem de fazer o mesmo para automóveis. Ou seja, tem de pegar alguém que não está ciente das regras de trânsito e comparar com acidentes com armas de fogo. Quando dizemos "acidente", queremos dizer - até onde sei - problemas ocorridos entre sujeitos que possuem carteira de habilitação. O mesmo vale para acidentes outros.

A propósito, quais são as categorias de "mortes" que o IBGE usa? Eu não sei, mas seria interessante pensar nisto. Será que nossa indústria bélica tem dados? Cadê a moçada da Taurus?

Se não posso julgar a legalidade do porte de armas por falta de informações, porque um deputado com menos atenção do que eu para detalhes estatísticos pode fazer isto? Bem-vindo à democracia. Como é? "Outro mundo é possível?" É sim. Um no qual um burocrata proíbe meu porte de arma sem me informar e sem gastar com deputados. Bem-vindo à ditadura.

Quem é que disse que era moleza? Éééé'...

segunda-feira, abril 12, 2004

Davi x Penna

Ok, Penna deu um número. Davi deu duas pequenas séries. Uma usando o INPC e outra com o IGP-M. A taxa de desemprego, tanto Penna como Davi usaram a da RMSP. Ok, aí vão os números, meio "tortos". [não sei separar estes dados no blog, então, boa vontade, ok?]

Não ficou muito claro, no arquivo enviado por Davi, qual o período. Aparentemente, ele usou dados anuais de 1990-2003. Como foi feito o cálculo? Aparentemente, Davi seguiu o link abaixo.

Comentários?

p.s. valeu gente. Vocês têm sido bons economistas deste blog. Aliás, Davi também é dono de um blog: "Os Perspicazes", link fixo aí ao lado. Visite-o!

Índice de Miséria (INPC) (%) Índice de Miséria (IGP-M) (%)
1595.20 1709.89
486.73 470.00
1163.99 1189.60
2503.79 2582.01
943.62 1260.92
35.14 28.40
24.08 24.15
20.06 23.46
20.67 19.97
27.71 39.39
22.94 27.62
26.95 27.88
33.71 44.27
30.27 28.57
Esta vai pro Davi

Esta aqui é pro Davi, nosso leitor que não deixa os dados estatísticos soltos por aí. Eis aí o índice de miséria (criado por Robert Barro). Davi, não sei se o Leo Monasterio é capaz de dar uns pontinhos para você, mas eis o novo desafio:

Qual o índice de miséria do Brasil na era FHC-Lula (anual)?

Dica: use o índice oficial de inflação, para ser coerente.

Claro, se você é meu aluno e quer verificar o índice, está convidado. Mas, desta vez não vale pontos. Da outra vez (lembra do tax freedom day?) valia e ninguém mexeu um dedo. Então, deixo esta para o Davi e seus colegas capazes da UFPel.

Tutor2u - the misery index
Não me diga, mr. Mao...

Esta é, no mínimo, interessante. Será que os terroristas que raptaram chineses no Iraque também são "ratos"? Ou só os que atrapalham o PC chinês?

Ah...mundo bacana...

The Australian: Terrorists like rats: China [April 12, 2004]
Quais os interesses econômicos iranianos no Iraque?

Ninguém tem falado muito nisto, pensando apenas nos EUA e na coalizão, mas é um ponto importante: o Irã tem muito interesse no petróleo iraquiano.

A questão é se isto vai se traduzir em mais comércio no futuro. Será?

IranExpert: Iraq backs pipeline to Iran for oil export: "The US-led occupation authorities in Baghdad have backed plans for Iraq to build an oil pipeline to Iran to provide a new outlet for the country's rising oil production.

Ibrahim Bahr al-Uloum, Iraq's oil minister, told the Financial Times: 'We have agreed in principle to an offer from Iran to build a 10km pipeline across the Shatt al-Arab [waterway] to the Iranian port of Abadan,' said Mr Bahr al-Uloum. 'We faced no objection from the US.' Coalition officials in Baghdad confirmed a memorandum of understanding had been agreed between the former foes. 'It's a very good, practical thing to do,' said a senior coalition official.

Relations between Washington and Tehran have been uneasy since George W. Bush, US president, two years ago declared Iran part of an 'axis of evil'. The coalition official said: 'We leave the whole diplomatic question in the hands of the Iraqis. Paul Bremer [the US chief administrator in Iraq] says he realises they [the Iraqis] have to have good relations with all their neighbours.' "
Indianos globalizam e destroem

Os manifestantes de Seattle certamente iriam dizer que, como sempre, a culpa é dos EUA e da globalização excludente. É um discurso fácil este o de jogar a culpa nos outros.

Mas eu quero ver o nó na cabeça destes caras quando eles souberem que a Infosys Technologies está estabelecendo um escritório nos EUA, destruindo empregos indianos (a empresa é indiana. Claro que vão botar a culpa do nome, em inglês, na globalização excludente...).

Outra explicação possível é a imperialista ("capitalistas indianos vão explorar os proletários norte-americanos, dando-lhes empregos").

Finalmente, há a percepção inteligente dos empresários indianos de que pode ser lucrativo não deixar seu principal mercado consumidor nervoso. Não se engane, leitor, indiano é tão altruísta quanto brasileiro ou norte-americano. O objetivo é claro e não tem nada a ver com as fantasias que citei acima.

Interessante...
A tecnologia vencerá a OPEP?

Eis uma forma melhor de combater a OPEP do que tentar invadir a Venezuela (ou a Arábia Saudita).

The hybrids are coming
Instituições e Desenvolvimento Econômico

Quando o diretor de cinema, John Woo, foi para os EUA, numa entrevista que li, perguntaram-lhe sobre o que ele achava na mudança de "governança" de Hong-Kong. Ele dizia que seria similar ao que tentou retratar em Bullet in the Head, com o pessoal tentando sair de lá correndo com a chegada do regime comunista.

Bem, houve saída em massa? Difícil dizer. Não tenho os números. Exceto pelo fato de ver John Woo nos EUA, não sei se Chow Yun Fat veio junto com ele para ficar em Hollywood. Ou Terence Chang, seu eternos produtor. Mas o fato é que estas coisas não acontecem de um dia para o outro. As pessoas não possuem perfeita mobilidade no curto prazo, embora, claro, no longo prazo, estas coisas se manifestem com maior força.

Por enquanto, o que se vê é o que o pessoal saiu as ruas. Ao contrário do que acontece no Brasil, lá eles querem mais capitalismo, não menos. Mas o querem com instituições democráticas. Veja bem, leitor, eles não querem um "outro mundo possível". Eles querem este mesmo, com os mercados (veja o índice de liberdade econômica de Hong Kong nos levantamentos do Fraser Institute e com a mesma democracia que sempre tiveram sob o regime britânico. Ou, se não aquela, também não querem trocá-la pelo "regime popular e democrático" da China.

Neste caso, a luta é para salvar o capitalismo, ainda que imperfeito, dos socialistas...:D

Thousands take to HK streets to protest Beijing's ruling over reforms

domingo, abril 11, 2004

Momento Descontração

Eu realmente sempre fui fã de Jack Lemmon
Os corajosos iraquianos terroristas

Um jornalista e dois voluntários japoneses, uns inofensivos sul-coreanos e, agora, chineses.

E a China, bem a China está aí embaixo, recusando-se a enviar tropas para o Iraque desde sempre.

Conclusão: os caras são malucos mesmo. E bem corajosos. Só sequestram não-soldados. Alá deve estar orgulhoso...

Seven Chinese kidnapped in Iraq: state media: "China, a permanent member of the UN Security Council, resolutely opposed the invasion of Iraq and has refused to send troops to help police the US-led occupation."
A crítica a crítica crítica de Piero Sraffa e consortes

Quando era aluno de graduação levei a sério a história de que o Marx economista não podia ser separado do Marx filósofo. Isso me custou horas lendo livros do tal "Marx jovem". Aprendi a ser cínico (ou aperfeiçoei meu cinismo) com aqueles livros.

O título deste post é um acerto de contas com o "Shikida jovem". E o link abaixo é uma pequena amostra de que não sou o único com este peculiar senso de humor... :D

Sraffa's Production of Fallacies by Means of Fallacies
Mais de "Salvando o Capitalismo..."

Sobre a idéia de De Soto ["A solução para o problema, sugere, é dar aos pobres títulos de propriedade desses terrenos"] de fazer com que os pobres possam usar suas propriedades (por exemplo, casas construídas em terrenos irregulares são ativos negociáveis), Zingales e Rajan dizem:

"Embora a idéia tenha méritos substanciais, não é uma panacéia. Se os pobres ocupam a propriedade privada de terceiros ou, como é em geral o caso no mundo subdesenvolvido, terrenos públicos, a legalização dos terrenos ocupados poderia provocar invasões nos terrenos que restam, gerando uma ampla insegurança da propriedade, um efeito oposto ao que se busca".

Vale dizer: o que muitos movimentos "sociais" fazem é justamente piorar a situação "social". Não é difícil ver que isto é discurso e prática de muita gente por aí. Gente, aliás, que acha que o mercado financeiro é "parasita". Gente que, então, precisa comprar e ler este livro. Nenhuma ignorância é incurável. Só a que você mesmo não quer curar.
Transplantes de órgãos: informações para os curiosos

Tá, não é de um país próximo, mas...

The Gift Website | Why Organ Donation | Critical Statistics
Eu avisei, eu avisei...

Jorge Vianna Monteiro, um de meus "gurus", já avisou em TRÊS livros subseqüentes, mas todo mundo se fingiu de surdo. Todo mundo? Bem, a oposição da época dizia que era contra isto.

Mas, aparentemente, a análise do Jorge continua sendo a única que não falha. Econometristas, perdoem-me, mas as previsões do Jorge continuam na frente...

A matéria é da Zero Hora (registro rápido e free) e aí vai um trecho: O excesso de medidas provisórias (MPs) editadas pelo governo do PT engessa o trabalho do Congresso e deixa em segundo plano a votação de projetos. Crítico no passado do uso abusivo de MPs, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não abre mão dessa ferramenta.

Nos seus primeiros 15 meses de mandato, Lula editou mais que o dobro de MPs de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso nos 15 meses do mesmo período. São 76 de Lula contra 33 de FH. Não estão computadas as MPs reeditadas pelo ex-presidente.

- Ninguém abre mão da MP, dá agilidade ao governo em questões urgentes - avalia o líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), mudando o tom das queixas petistas contra o recurso que no passado permeou discursos no plenário.

Na última semana, cinco MPs paralisavam os trabalhos da Câmara e sete congelavam o Senado, atrasando, por exemplo, a reforma do Judiciário. Incomodados, parlamentares da oposição e até da base do governo começam a reagir. Projetos de lei em tramitação na Casa sugerem modificações nas regras da MP. Os mais radicais pedem a extinção desse instrumento.
Você escolhe sofrer sim

Gary Becker, ao falar de rational addiction (vício racional), costuma ser criticado por quem nunca o leu antes. É natural. Afinal, o conceito espanta, assusta, faz o sujeito pensar que a responsabilidade de seus atos pode ser sua, mesmo no caso de uma droga.

Bem, mas Becker não é o único a levantar este ponto. O psiquiatra William Glasser, autor de Teoria da Escolha - Uma nova psicologia de liberdade pessoal também acha que escolhemos - e que escolhemos mal. Nesta matéria do NYTimes (você precisa de um registro rápido e gratuito) há um bom resumo do impacto de Glasser nos EUA. Ele divulga suas idéias através de seu William Glasser Institute e, o que eu acho interessante, é que uma das suas preocupações é a educação. Por que acho interessante? Porque Milton Friedman também se preocupa com educação (veja este link) e, aparentemente, o discurso de ambos não é contraditório, embora eu ache o de Friedman bem mais sofisticado (e olha que tem gente sendo elogiada tanto por Friedman quanto por Glasser no ramo educacional.

Enfim, o que eu gosto mesmo é de ver que a psicologia pode estar se tornando um bom espaço de estudos para economistas (e vice-versa). Claro, não dá para dizer que vamos estudar psicanálise ou ler sobre o que Fucô (como dizia o meu amigo André, sacaneando o Foucalt, aquele careca esquisitão) disse. Mas é um indíciode que há caminhos novos para os cientistas, sejam eles economistas ou não.
Lei de Responsabilidade Fiscal: já fez seu dever de casa, prefeito?

Você tem de fazer um rápido registro aqui, mas pode ler a matéria da Zero Hora sobre os municípios gaúchos. Aparentemente, boa parte deles está conseguindo controlar suas despesas com funcionalismo.

Será que isto é suficiente para se dizer que um município respeital a LRF? Não necessariamente. Mas parece um bom sinal.